quinta-feira, 14 de março de 2013

Livro 73: Reinações de Narizinho (Monteiro Lobato)

Publicado em 1931, Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato, é um dos mais conhecidos livros infantis do país, tendo introduzido no Brasil o mundo mágico do Sítio do Picapau Amarelo, que encanta gerações há várias décadas.
São 11 histórias reunidas em dois volumes, que já haviam sido publicadas sob o título "A Menina do Narizinho Arrebitado".
Lucia, a menina do Nariz Arrebitado vive no sítio com Dona Benta, “a mais feliz das vovós”, com a espevitada Tia Nastácia, “negra de estimação que pegara Narizinho em criança” e a inseparável boneca de pano Emília, confeccionada pela cozinheira  “com olhos de retrós preto e sobrancelhas tão lá em cima que é ver uma bruxa”. Também das mãos de Tia Nastácia nasceria, a partir de um sabugo de milho, o Visconde de Sabugosa, que, dizem, ficou letrado e sábio porque dormia entre os livros da estante. 
Tudo começa numa tarde ensolarada em que Narizinho, depois de dar comida aos peixes no ribeirão atrás do pomar, acaba caindo no sono junto com a boneca. Desperta com um peixinho vestido de gente na ponta do seu nariz. “Vestido de gente, sim! Trazia casaco vermelho, cartolinha na cabeça e guarda-chuva na mão — a maior das galantezas!” Era o Príncipe Escamado, que conversava com Mestre Cascudo um besouro “de sobrecasaca preta, óculos e bengala”.
Depois da surpresa inicial, a menina faz amizade com os dois e é convidada a visitar o Reino das Águas Claras, quando tem início a primeira aventura do Pica Pau Amarelo. Narizinho e Emília conhecem a costureira das fadas, Dona Aranha, o Major Agarra e não Larga Mais e o Doutor Caramujo, cujas pílulas milagrosas curam tudo. Logo a menina pede que ele cure a boneca, que “é muda, coitada”. As pílulas funcionam e a boneca desembesta a falar, “abrindo sua torneirinha de asneiras”. 
- Estou com um horrível gosto de sapo na boca! 
A boneca, que não tem papas na língua, passa a dar opinião sobre tudo e todos, tornando-se um dos personagens mais queridos de Lobato. E, segundo historiadores, um alter ego do autor.
O Príncipe quer casar-se com Narizinho, que aceita o pedido e arranjam a cerimônia para daqui a alguns dias, dando tempo de chegar ao sítio o primo Pedrinho, que vem da cidade, passar férias com a avó. Seguem-se muitas aventuras, onde as crianças se encontram personagens de outros contos, que interagem no cenário, como a Dona Carochinha, o Gato Félix, a Branca de Neve, Cinderela, Aladim e outros, num exercício inovador de intertextualidade. As peripécias da turminha do sitio acabam se estendendo por vários livros, cada qual com um personagem ganhando vida e suas próprias histórias, como As Memórias da Emília, O Poço do Visconde, As Caçadas de Pedrinho,  Histórias de Tia Nastácia e os Serões da Dona Benta. Cada história faz com que o leitor conheça mais dos apaixonantes personagens do grande Monteiro Lobato tornando-o um dos leitores infantis mais queridos no Brasil.
Analisando Narizinho
Reinações de Narizinho foi, segundo o historiador Raimundo Campos Bandeira, “um contraponto entre o arcaico e o moderno no Brasil da primeira metade do século XX.”
 “Até surgir Narizinho, “a literatura infantil praticamente não existia entre nós, havia tão-somente o conto de fundo folclórico”, diz Edgar Cavalheiro em Monteiro Lobato - Vida e Obra”. 
Mas qual seria a fórmula de sucesso desse livro, que legou a crianças de todas as idades, personagens inesquecíveis como a boneca Emília, o Visconde de Sabugosa e a 
Tia Nastácia ? 
Primeiramente, a construção de um faz de contas onde tudo é possível, do ponto de vista de uma criança. Aquilo em que Narizinho acredita – a boneca que fala, o sabugo letrado, o leitão que é marquês - torna-se verdade também para os adultos da história, a doce Dona Benta e a assustada Tia Nastácia; e, em contrapartida, para os leitores.
Em segundo lugar, a brasilidade da história, que se passa num sítio do interior, e explora as peculiaridades do folclore, as lendas e belezas naturais do nosso país. Uma história verdadeiramente tupiniquim.
Embora seja considerada até os dias de hoje, uma dos melhores obras da literatura infantil nacional, "Reinações de Narizinho" apresenta alguns problemas em relação a gerações atuais, como a linguagem antiga, rebuscada para nossos dias, e uma abordagem politicamente incorreta dada ao personagem negro, Tia Nastácia.
O que os críticos não levam em conta ao apontar racismo nos textos de Lobato é o contexto do Brasil na época em que o livro foi escrito e de como a sociedade ainda tinha um ranço herdado do tempo da escravidão. Tendo sido lançado em 1931, com histórias criadas nos anos 20, poucas décadas haviam se passado desde a abolição, cabendo, portanto, uma dose de bom-senso na leitura do livro nos dias atuais, dada a riqueza literária da obra e de seu autor.
Na TV - A primeira versão do Sítio para a televisão foi ao ar em 1952 na extinta TV Tupi. Depois passou por mais duas emissoras até chegar à TV Globo, em 1977 que ficou  no ar até 1986 com novas temporadas, entre 2001 e 2007. Em 2010, aos 90 anos, A Menina do Narizinho Arrebitado foi transformada na primeira versão interativa de uma obra literária brasileira para iPad.

O autor
José Bento Renato Monteiro Lobato  nasceu na cidade de Taubaté, interior de São Paulo, no ano de 1882 e faleceu em SP, em 1948. Um dos mais influentes escritores infantis brasileiros. Antes de Reinações de Narizinho, ele já publicara O Saci (1921), O Marquês de Rabicó (1922), A Caçada da Onça(1924), O Noivado de Narizinho (1924), Jeca Tatuzinho (1924) e O Garimpeiro do Rio das Garças (1924), entre outros.


 "A Emília é infernalQuando estou batendo o teclado, ela posta-se ao lado da máquina e quem diz que eu digo o que eu penso?" Tão independente que nem eu, seu pai, consigo dominá-la." (Monteiro Lobato)

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