quarta-feira, 6 de março de 2013

Livro 65: O Amor nos Tempos do Cólera (Gabriel García Márquez)


Falar de "O amor nos tempos do cólera", do grande escritor colombiano
Gabriel García Márquez num primeiro momento intimida, pois nada que se diga irá traduzir a real experiência de lê-lo. Se fosse resumir numa frase, diria que é um romance para ser lido pausadamente, sorvendo cada palavra como quem saboreia uma taça de vinho. Não apenas a história é maravilhosa, emocionante, encantadora, quanto o estilo do Gabo é único. Nele, tudo se encaixa em tudo, nada sobra, nada falta e cada diálogo parece ter sido lapidado.
Nesse livro, que li duas vezes (e acho pouco), tudo acontece na medida certa: poesia, romance, narrativa, drama, fantasia, realismo, sempre com uma pitada do humor sarcástico, característico do autor.
O próprio autor o considera  o seu melhor romance, superando "Cem anos de solidão", que conquistou diversas gerações de leitores. Ele teria dito ainda que o romance foi escrito "com as entranhas”. E é assim que ele chega ao leitor: arrebatador.
Inspirado na história de amor vivida por seus pais, Gabriel e Luíza, "O amor nos tempos do Cólera" tem como tema o romance de Florentino Ariza e Fermina Daza, que demora mais de meio século para se concretizar. Apaixonado pelas tranças de Fermina, o jovem Florentino passa a enviar-lhe cartas apaixonadas, mas o enlace é frustrado pela oposição do pai da moça, que a envia para uma temporada no interior. Ao retornar, atendendo à vontade paterna, Fermina casa-se com o médico Juvenal Urbino, que chegara para combater a epidemia do cólera na cidade.
O casamento dura 50 anos, até a morte do doutor (descrita em um dos melhores capítulos do livro). O amor de Florentino, porém, persiste a vida inteira.
Ele registra num caderno o nome de incontáveis mulheres, a quem se entrega de corpo, "mas nunca de alma". Ao final do livro, Florentino e Fermina se reencontram para resolver a antiga história.
O que poderia ser apenas mais um livro sobre um amor que sobrevive a barreiras, obstáculos e ao tempo, na genialidade de  Gabo se transforma em uma obra mais saborosa a cada página. O belo de Fermina, Florentino e Urbino é que eles não são nem mesmo bonitos, são até bastante comuns. Os personagens da narrativa, em especial, são esquisitos, feios, sem atrativos, porém de alma cativante, cada qual a seu modo.
Enquanto Florentino se apresenta sem sal, desajeitado e excêntrico, Urbino é descrito como um homem cheio de manias, teimoso e estranho, porém amoroso.
Se o  amor de Fermina e Urbino é palpável, vivido dia a dia, com todas as esquisitices, ranhetices e beleza, a paixão de Fermina e Florentino fica no plano do imaginário, sustentada pela paciência e persistência (obsessão?) deste, em aguardar o momento de encontrar o caminho livre para o coração da amada. E é na concretização dessa paixão, que começou na juventude, e sobrevive até a velhice, que somos presenteados com um retrato inigualável do que pode ser o amor entre seres de cabeça branca e alma juvenil.
"O amor nos tempos do cólera" é, na verdade, uma história sobre todos os amores em todos os tempos.

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