quarta-feira, 13 de março de 2013

Livro 72: Eu, Christiane F., 13 anos, Drogada e Prostituída (Rieck, Kai Hermannelsch)

Ela nasceu Vera Christiane Felscherinow, mas para o mundo ela será sempre Christiane F., a protagonista de um dos mais contundentes relatos sobre os horrores a que pode chegar a vida de um viciado em drogas. Principalmente sendo este uma menina,  na época com apenas 13 anos.
Lançado em 1978, sob o título “Wir Kinder vom Bahnhof” (Nós, Crianças da Estação), o livro foi publicado no Brasil com o título “Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada, Prostituída". E tornou-se rapidamente um best-seller. 
Os responsáveis pela publicação foram Kai Hermann e Horst Rieck, então jornalistas da revista alemã Stern, que ficaram fascinados pela história da menina ao encontrá-la num Tribunal para a Infância e Juventude. Tratava-se de quase uma criança, frágil, delicada, mas com uma história comovente para contar. O que era para ser uma entrevista de duas horas acabou durando dois meses. 
Escrito com base no depoimento de Christiane e sem muita preocupação com a forma literária, o livro comove por sua contundente honestidade. Traz ainda relatos de sua mãe, dos policiais e psicólogos que tiveram contato com ela, além de fotos dos seus jovens amigos, inclusive os que morreram de overdose. Ao longo das 320 páginas, conhecemos a história de Christiane, que, nascida em 1962, em Hamburgo, na Alemanha Oriental, mudou-se em 1968 para Berlim, com seus pais e uma irmã. Descobrindo um mundo novo, de discoteca e festas, em 1974, ela experimentou maconha e LSD. Tinha apenas 12 anos.
Alvo muito fácil, por sua inexperiência e despreparo, logo passaria a drogas mais pesadas.
Em 1975, no Sound, a discoteca mais moderna da Europa, Christiane faz amizade com Axel, Babsi, Atze, Zombie, Stella e Detlef (que se tornaria seu namorado). Em pouco tempo, com a maconha já não fazendo efeito, o grupo anseia por algo mais potente. Foi após um show de David Bowie, que Christiane inalou heroína pela primeira vez. Tempos depois, num banheiro público na Estação Berlin Zoologiscer Garten, ela injeta a substância na veia. Aos 14, cada vez mais afundada no vício, já estava se prostituindo na Estação Zoo, para comprar a droga.
 No livro acompanhamos a luta de Christiane em busca de clientes para sustentar o vício, as tentativas de ficar limpa (momentos dolorosos de abstinência, junto com o namorado, muitos dos quais duravam poucos dias, até que sucumbiam às drogas novamente) e sua enorme solidão. A imagem que fica é de um casal de crianças, quase abandonados, sem orientação e apoio, por parte dos adultos, especialmente a mãe de Christiane, que por um longo tempo não soube da realidade vivida pela filha. 
"Tive então, uma verdadeira vontade de morrer. No fundo não esperava por outra coisa. Não sabia o que estava fazendo no mundo. Antes, eu também não sabia muito bem. Mas um viciado vive para que? Para se destruir e destruir aos outros? Pensei, naquela tarde, que seria melhor que eu tivesse morrido, mesmo que fosse só pelo amor a minha mãe. De qualquer forma, não sabia mais se existia ou não.” (Christiane F.)

Com o sucesso do livro, Christiane ficou mundialmente famosa e até passou um tempo longe das drogas. Mas não por muito tempo. Em 1983, é presa no apartamento de um traficante em Berlim. Ela morou em Nova York, Zurique e Grécia, antes de regressar a Berlim na década de 1990, onde nasce seu filho, Jan Niklas, de quem perdeu a guarda recentemente por conta do vício.

Christiane hoje.
 Desde então, Christiane alterna período "limpos" com retornos ao vício. Seu ex namorado Detlev vive em Berlim com mulher e filhos, é motorista de ônibus e se diz livre das drogas. 

O livro foi traduzido para 15 idiomas e transformado em filme - Christiane F. – Wir Kinder vom Bahnhof Zoo - lançado em 1981 e estrelado por  Natja Brunckhorst como Christiane e Thomas Houstein, como Detlev. 




Bertrand Brasil

Vera Christiane Felscherinow
320 páginas

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