quarta-feira, 27 de março de 2013

Livro 86: O Diário de Anne Frank

 " Um dos maiores e mais sábios comentários da guerra e seu impacto no ser humano que eu jamais li" (Eleanor Roosevelt)
"Uma voz fala para 6 000 000; a voz não de uma sálvia nem um poeta, mas de uma menininha costumeira".  (Ilya Ehrenburg,  escritor ucraniano)
Uma menina de 13 anos escondida com sua família no porão de um prédio em Amsterdã, na Holanda marcada pela perseguição dos nazistas aos judeus.Um diário onde ela decide expor seus pensamentos sobre a vida, seus medos, sonhos e incertezas, alternando momentos de profunda maturidade e outros de sadia meninice.
Assim nasceu o "Diário de Anne Frank" (no original Het Achterhuis - Dagboekbrieven 14 juni 1942 - 1 augustus 1944), um dos livros mais lidos no mundo desde sua publicação em 1945, após a morte da autora num campo de concentração. A obra, publicada em holandês sob o título Het Achterhuis (O Anexo), logo se tornou sucesso de vendas, com tradução em várias línguas e adaptação teatral e cinematográfica.
Ao iniciarmos a leitura, sabendo do trágico destino da personagem e das condições subumanas em que vive junto com sua família, espera-se um derramar de lágrimas e lamentos. No entanto, o texto de Anne nos surpreende por sua força, seu senso de realidade, sua coragem e fé na vida, seu jeito positivo de enfrentar as adversidades de sua triste realidade.
Nascida em Frankfurt , Alemanha, em 1929, Anne Frank mudou-se para Amsterdã com os pais, Edith e Frank, e a irmã mais velha, Margot,  em 1933, quando teve início a ascensão nazista. Levavam uma vida abastada e Frank tinha uma empresa, a Opetka. 
Com a eclosão da Segunda Guerra, os países Baixos foram anexados ao III Reich e em 1942. Quando Margot é convocada a ir para o campo de trabalhos forçados de Westerbork, na Alemanha, Otto decide que é hora de proteger a família. Depois de passar os negócios para seus empregados não judeus, muda-se se com a esposa e as filhas para um anexo na parte traseira do edifício da empresa, previamente preparado para servir de esconderijo. Juntam-se a eles mais quatro amigos judeus - Herman e Auguste van Pels, com seu filho Peter; e Fritz Pfeffer. Ali o Grupo passa os dois anos seguintes, contando com a solidariedade de amigos que levavam alimentos e outros auxílios à noite, constantemente aterrorizados com a possibilidade de serem descobertos. 
Para uma menina cheia de vida como Anne, parecia impossível manter o silêncio e a serenidade. O mundo pulsava lá fora e ela teve que reinventar seus sonhos. 

 Ao ganhar de presente de aniversário um Diário, ela decide relatar nas páginas a experiência vivida no “Anexo Secreto”. As tarefas que partilhava com outros moradores, as alegrias e brigas, e a esperança de poder conquistar a liberdade com o fim da Guerra. 
É com  a amiga imaginária “Kitty”, nome que dá ao Diário, que ela passa horas, dias e meses refletindo sobre si mesma, sua família e a convivência com os companheiros que viviam no mesmo prédio,  Não faltam reflexões sobre o futuro e sua ânsia de fazer a diferença no mundo.
"Escrever um diário é uma experiência realmente estranha para alguém como eu. Não somente porque nunca escrevi nada antes, mas também porque acho que ninguém se interessará, nem mesmo eu, pelos pensamentos de uma garota de treze anos. Bom, não importa. Tenho vontade de escrever, e tenho uma necessidade ainda maior de tirar todo tipo de coisa do meu peito". (A.F.)
“Mas eu quero alcançar mais do que isso. Eu não posso imaginar ter que viver  como Mamãe, Mrs Van Daan e todas as mulheres que fazem seu trabalho e são esquecidas. Eu preciso ter algo mais do que um marido e filhos a quem me dedicar! Eu não quero viver em vão como a maior parte das pessoas.” (A.F.)
"Por vezes penso que Deus quer pôr-me à prova. Tenho de me aperfeiçoar sozinha, sem exemplo e sem ajuda, só assim hei-de ser um dia forte e resistente. Quem, além de mim, lerá estas coisas? Quem pode ajudar-me? Necessito de ajuda e de consolo! Sou muitas vezes fraca e incapaz de ser aquilo que gostava de ser." (A.F.)
"Há uma necessidade destrutiva nas pessoas, a necessidade de demonstrar fúria, de assassinar e matar. E até que toda a humanidade, sem exceção, passe por uma metamorfose, as guerras continuarão a ser declaradas, e tudo que foi cuidadosamente construído,cultivado e criado será cortado e destruído,só para começar outra vez!" (A.F.)


Sobre a ajuda dos amigos, ela escreve:  
"Todos os dias sobem até aqui, falam com os homens sobre o negócio e a política, com as senhoras sobre as dificuldades do governo da casa e conosco, os jovens, sobre livros e jornais. Entram sempre de cara satisfeita, não se esquecem, nos dias de festa, das flores e das prendas e estão sempre prontos a ajudar. Não devemos esquecer nunca, apesar de todas as heroicidades dos campos de batalha e de toda a luta contra os opressores, os sacrifícios dos nossos amigos, aqui, junto de nós, as provas diárias de simpatia e amor!"(A.F. - 28.01.44)
Quando o esconderijo é descoberto por agentes da Gestalpo, eles são levados para um campo de trabalho em Westerbork, nos Países Baixos, e
Otto Frank
depois para Auschwitz, onde Edith morre de inanição. Anne e Margot morrem de tifo no campo de Bergen-Belsen em março de 1945. Anne tinha apenas 16 anos. O único sobrevivente da família, Otto Frank, ao ser libertado, recebe da amiga  Miep Gies, o diário de Anne, que permanecera guardado no Anexo. Decide então publicá-lo, atendendo ao desejo da filha de ser escritora.
O prédio onde a família se escondeu.
Foi assim que o mundo teve acesso a um tocante  depoimento sobre um dos momentos mais negros da história da humanidade.
Escrito de 1942 a 1944, o "Diário de Anne Frank" não é apenas o relato de uma vítima, mas de uma jovem que teve seu futuro cortado pela intolerância, e que nem por isso se deixou levar pela amargura. Ao escrever seu Diário, Anne queria apenas conversar com alguém. Provavelmente, jamais pensou que aquele seria um testemunho histórico. Tinha fé de que aquele pesadelo acabaria e que ela poderia realizar seu sonho de tornar-se escritora. O destino, comandado por Hitler, colocou um ponto final no sonho. Mas não impediu que as palavras de Anne Frank ecoassem no mundo inteiro.
"Quero vir a ser alguém. (...) Quero continuar a viver depois da minha morte. E por isso estou tão grata a Deus que me deu a possibilidade de desenvolver o meu espírito e de poder escrever para exprimir o que em mim vive. Quando escrevo sinto um alívio, a minha dor desaparece, a coragem volta. Mas pergunto-me: escreverei alguma vez coisa de importância? Virei a ser jornalista ou escritora? Espero que sim, espero-o de todo o coração!" (Anne Frank) 
Morto em 1980, Otto Frank deixou os manuscritos da filha para o Instituto Estatal Neerlandês para Documentação de Guerra, em Amsterdã. O Fundo Anne Frank na Suíça detém os direitos de sua obra. 

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