domingo, 31 de março de 2013

Livro 90: O Cortiço (Aluízio Azevedo)

Lançado, em 1890, "O Cortiço", de Aluísio Azevedo, é considerado o melhor representante do movimento naturalista na literatura brasileira. Denunciando as mazelas sociais e fugindo da visão fantasiosa da vida, presente no romantismo, desenha um amplo painel da sociedade do Rio de Janeiro do fim de século XIX, retratando, através de seus personagens, a ideologia e as relações sociais presentes no país.
Narrado em terceira pessoa, são 23 capítulos, nos quais o autor relata a vida em uma habitação coletiva de pessoas pobres, conhecido como “cortiço” na cidade do Rio de Janeiro. Um espaço onde impera a promiscuidade sexual e moral, decorrente, segundo o narrador, da mistura de raças.
Além na animalização dos personagens e a ação baseada em instintos de sobrevivência e sexuais, outra caraterística naturalista da obra é que nela o espaço físico (no caso, o Cortiço) é tão forte quanto os próprios personagens. Percebe-se que em vários trechos o autor compara a construção a um organismo vivo, que cresce e se desenvolve: “os olhos do cortiço se abrem”.
Outra forte característica naturalista são os personagens trabalhadores, pessoas comuns, que lutam pelo seu ganha-pão: lavadeira, ferreiro, operário – um reflexo das transformações pelas quais passava o país na época, com o fim da escravidão (1888) e a decadência da economia açucareira. 
A história se divide entre dois ambientes principais - o cortiço, de propriedade de João Romão (que representa a mistura de raças e a promiscuidade das classes mais baixas) e o sobrado aristocrática do Barão Miranda ( figura que representa a elite brasileira). Localizando-se lado a lado, os dois espaços representam as classes socioeconômicas e a desigualdade social existente no país.
Assim como os espaços que ocupam e que delimitam a trama, os personagens João Romão e Miranda representam as duas classes oponentes. No romance e no país. Paralelamente no cortiço estão os moradores de menor ambição financeira, como Rita Baiana e Capoeira Firmo, Jerônimo e Piedade. 
Além de apresentar os mais diversos conflitos: interracial, escravidão x trabalho livre, brasileiros x portugueses, o romance  também denuncia a exploração do homem pelo próprio homem, expondo situações e relações de poder dentro de uma habitação coletiva.
A história começa narrando a saga de João Romão rumo ao enriquecimento. Proprietário do cortiço, da taverna e da pedreira para acumular capital, ele explora os empregados e se utiliza até dos meios mais ilícitos para atingir seus objetivos.
Em oposição a João Romão, surge Miranda, o comerciante bem estabelecido que cria uma disputa acirrada com o taverneiro por uma braça de terra que deseja comprar para aumentar seu quintal. Não havendo consenso, ocorre o rompimento de relações entre os dois. Com inveja de Miranda que possui condição social superior a ele, boa parte da trama mostra a luta de João Romão para enriquecer mais que seu oponente, trabalhando arduamente e passando por privações.
Quando Miranda recebe o título de barão, João Romão entende que não basta ganhar dinheiro, é necessário também ter uma conduta refinada e frequentar ambientes requintados. Promove então mudanças na estalagem, que agora ostenta ares aristocráticos. O cortiço todo também muda, perdendo o caráter desorganizado e miserável para se transformar na Vila João Romão.

João Romão aproxima-se da família de Miranda e pede a mão da filha do comerciante em casamento. Há, no entanto, o empecilho representado por Bertoleza, sua amante, que, percebendo que Romão quer se livrar dela, exige usufruir os bens acumulados a seu lado. O desfecho não tem nada de romântico, fazendo jus ao estilo naturalista da obra.

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