Chama atenção o
fato de que a voz que narra a história é da própria jovem, que permanece sem
nome durante todo o livro. Em forma de memórias, ela relata o episódio numa
viagem a Monte Carlo, França, como dama de companhia da esnobe Mrs Van Hopper,
quando conhece o melancólico viúvo Max de Winter, sobre quem paira uma aura de
mistério.
Embora ele seja
vinte anos mais velho e ela, humilde e inexperiente nasce entre os dois uma
amizade que evolui para um pedido de casamento. Mais adiante saberemos que a
jovem é em tudo o oposto da falecida senhora de Winter.
Casados no
exterior, antes mesmo de chegarem à lendária Menderley, propriedade da família,
onde irão viver, a jovem percebe que o esposo não se sente bem ao tocar n
Embora
o marido procure fazer com que fique à vontade, nossa protagonista percebe que os
criados, alguns amigos e a própria irmã de Max, Beatrice, que faz visitas
ocasionais a Menderley, a consideram “muito diferente de Rebecca.”
Eu
a conhecia agora, as pernas longas e bem feitas, os pequenos e delicados pés.
Ombros mais largos que os meus, mãos inteligentes e débeis. Mãos que sabiam
governar um barco, que podiam sofrear um cavalo. Mãos que arranjavam flores,
construíam modelos de navios e escreviam "A Max, Rebecca", na
página branca de um livro. (...) E se entre centenas de outras eu ouvisse sua
voz, saberia reconhecê-la. Rebeca, sempre Rebecca! Eu nunca me livraria de
Rebecca.
A sensação é
mais forte por conta de Mrs. Danvers, governanta e criada pessoal de Rebecca,
que nutre pela ex-patroa uma admiração quase fanática, lembrando seus hábitos,
sua beleza, e elegância, e mantendo seu quarto exatamente do jeito em que
estava por ocasião de sua morte.
Com o cão
Jasper, a jovem faz passeios com o marido, percebendo movimentos estanhos do
animal em relação a uma cabana próxima à praia. E percebe que Max tudo faz para
evitar o local. Decidida a compreender os mistérios de Rebeca, ela desenvolverá
uma obsessão por tudo que se refere à falecida. E encontrará as respostas numa
reviravolta impressionante. Por conta desse romance, Du Maurier conquistou uma
legião de admiradores e o filme de Hitchcock ajudou a fixar na memória do
público a imagem de Rebeca, “a mulher inesquecível.”
Pesquisando sobre
o assunto sabe-se que Daphne du Maurier escreveu Rebeca quatro anos após Carolina Nabuco publicar A Sucessora (1934).
No entanto, apesar da suspeita de plágio, nossa escritora brasileira nunca se
animou a mover um processo contra a britânica. Em suas memórias, Oito Décadas,
Nabuco cita uma passagem em que foi procurada pelo editor da inglesa.
Quando o
filme Rebecca chegou ao Brasil, o advogado de seus produtores
(United Artists), Dr. Alberto Torres Filho, procurou meu advogado,
Bartolomeu Anacleto, para pedir-lhe que eu me prestasse a assinar um documento
admitindo a possibilidade de ter havido mera coincidência. Se me prestasse a
isso, eu seria compensada com uma quantia que o Dr. Torres qualificou como “de
ordem patrimonial”. Não anuí, naturalmente.
Apesar do
impasse, não se nega a qualidade do texto da autora, uma das mais queridas
escritoras do Reino Unido. O que
torna as histórias especiais é a forma de contá-las, algo que Daphne du Maurier
sabia fazer muito bem.
Rebeca
Daphne du Maurier
Abril Cultural
396 páginas
Excelente resenha! Surgiro que leia a continuação de Rebecca, A srs de winter, escrito alguns anos depois por outra autora haha bjs
ResponderExcluirExcelente resenha! Surgiro que leia a continuação de Rebecca, A srs de winter, escrito alguns anos depois por outra autora haha bjs
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