quarta-feira, 20 de março de 2013

Livro 79: Rebecca (Daphne Du Maurier)



O maior sucesso da escritora britânica Daphne Du Maurier (1907-1989), o romance Rebecca é lembrado no Brasil por duas características. Por ter sido levado à telona pelo mestre do suspense, Alfred Hitchcock. E pela suspeita de plágio sobre a obra A Sucessora, da brasileira Carolina Nabuco (adaptada para a TV em 1977). Independente das semelhanças (comprovadas), Rebecca é um livro muito interessante, com uma história que prende o leitor e uma narrativa ágil, por vezes cinematográfica. Para alguns, a história beira o sobrenatural, por conta do suspense da trama. No entanto, sobressai o drama psicológico de uma jovem simples que ao se casar com um viúvo muito rico encontra dificuldade em adaptar-se à nova vida, à sombra da esposa falecida, Rebecca.
Chama atenção o fato de que a voz que narra a história é da própria jovem, que permanece sem nome durante todo o livro. Em forma de memórias, ela relata o episódio numa viagem a Monte Carlo, França, como dama de companhia da esnobe Mrs Van Hopper, quando conhece o melancólico viúvo Max de Winter, sobre quem paira uma aura de mistério.
Embora ele seja vinte anos mais velho e ela, humilde e inexperiente nasce entre os dois uma amizade que evolui para um pedido de casamento. Mais adiante saberemos que a jovem é em tudo o oposto da falecida senhora de Winter.
Casados no exterior, antes mesmo de chegarem à lendária Menderley, propriedade da família, onde irão viver, a jovem percebe que o esposo não se sente bem ao tocar n
o assunto do passado. O desconforto aumenta quando ela passa a viver na velha mansão vitoriana cheia de aposentos fechados, lugares obscuros e a lembrança de Rebeca em toda parte. Um vaso de flores numa sala, um lenço manchado dentro de um casaco, os cartões de visita numa gaveta, uma dedicatória dentro de um livro. Fazia apenas dez meses da tragédia em que a primeira esposa de Max perdera a vida (num acidente no mar) e todos ainda sentiam sua presença no lugar.
Embora o marido procure fazer com que fique à vontade, nossa protagonista percebe que os criados, alguns amigos e a própria irmã de Max, Beatrice, que faz visitas ocasionais a Menderley, a consideram “muito diferente de Rebecca.”
Eu a conhecia agora, as pernas longas e bem feitas, os pequenos e delicados pés. Ombros mais largos que os meus, mãos inteligentes e débeis. Mãos que sabiam governar um barco, que podiam sofrear um cavalo. Mãos que arranjavam flores, construíam modelos de navios e escreviam "A Max,  Rebecca", na página branca de um livro. (...) E se entre centenas de outras eu ouvisse sua voz, saberia reconhecê-la. Rebeca, sempre Rebecca! Eu nunca me livraria de Rebecca.
A sensação é mais forte por conta de Mrs. Danvers, governanta e criada pessoal de Rebecca, que nutre pela ex-patroa uma admiração quase fanática, lembrando seus hábitos, sua beleza, e elegância, e mantendo seu quarto exatamente do jeito em que estava por ocasião de sua morte.
Com o cão Jasper, a jovem faz passeios com o marido, percebendo movimentos estanhos do animal em relação a uma cabana próxima à praia. E percebe que Max tudo faz para evitar o local. Decidida a compreender os mistérios de Rebeca, ela desenvolverá uma obsessão por tudo que se refere à falecida. E encontrará as respostas numa reviravolta impressionante. Por conta desse romance, Du Maurier conquistou uma legião de admiradores e o filme de Hitchcock ajudou a fixar na memória do público a imagem de Rebeca, “a mulher inesquecível.”
Pesquisando sobre o assunto sabe-se que Daphne du Maurier escreveu Rebeca quatro anos após  Carolina Nabuco publicar A Sucessora (1934). No entanto, apesar da suspeita de plágio, nossa escritora brasileira nunca se animou a mover um processo contra a britânica. Em suas memórias, Oito Décadas, Nabuco cita uma passagem em que foi procurada pelo editor da inglesa.

Quando o filme Rebecca chegou ao Brasil, o advogado de seus produtores (United Artists), Dr. Alberto Torres Filho, procurou meu advogado, Bartolomeu Anacleto, para pedir-lhe que eu me prestasse a assinar um documento admitindo a possibilidade de ter havido mera coincidência. Se me prestasse a isso, eu seria compensada com uma quantia que o Dr. Torres qualificou como “de ordem patrimonial”. Não anuí, naturalmente.

Apesar do impasse, não se nega a qualidade do texto da autora, uma das mais queridas escritoras do Reino Unido. O que torna as histórias especiais é a forma de contá-las, algo que Daphne du Maurier sabia fazer muito bem.  

Rebeca
Daphne du Maurier
Abril Cultural

396 páginas

2 comentários:

  1. Excelente resenha! Surgiro que leia a continuação de Rebecca, A srs de winter, escrito alguns anos depois por outra autora haha bjs

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  2. Excelente resenha! Surgiro que leia a continuação de Rebecca, A srs de winter, escrito alguns anos depois por outra autora haha bjs

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