domingo, 10 de março de 2013

Livro 69: A Cartomante (Machado de Assis)


A Cartomante é um conto de Machado de Assis originalmente publicado na Gazeta de Notícias - Rio de Janeiro, em 1884, e posteriormente incluído no livro "Várias Histórias" e em "Contos”. Trata-se da história de um triângulo amoroso, uma situação típica nas obras de Machado, envolvendo adultério, cartas anônimas e drama psicológico. No entanto, a forma como a trama é conduzida em suas poucas páginas é que revela o gênio por trás das palavras. A Cartomante é verdadeiramente uma história de tirar o fôlego.

A narrativa se passa em Botafogo, no ano de 1869, quando o advogado Vilela de retorno à província, com sua esposa Rita, reencontra o amigo de infância Camilo. Estabelece-se entre os três uma relação de grande cumplicidade. 
"Depois, Camilo confessou de si para si que a mulher do Vilela não desmentia as cartas do marido. Realmente, era graciosa e viva nos gestos, olhos cálidos, boca fina e interrogativa"
Sendo Rita um pouco mais velha que ambos, tinha ela 30 anos, enquanto o esposo, 29 e o amigo, 26, exerce uma atração que Camilo "um ingênuo na vida moral e prática", desconhecia. 
Os três se tornam inseparáveis, e quando Camilo perde a mãe, a amizade com Rita se transforma numa ardente paixão proibida.
"Como daí chegaram ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas ao lado dela; era a sua enfermeira moral, quase uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita".
Enquanto o caso não desperta suspeitas, tudo corre bem, mas pouco tempo depois, o rapaz começa a receber misteriosos bilhetes anônimos que o alertavam a respeito de sua relação ilícita. Inicialmente, ele apenas se preocupa, mas com o surgimento de novas mensagens,  decide afastar-se da amada por um período em que esta se aflige. 
Somos então levados  à situação inicial do livro, em que Rita, revela ter consultado uma cartomante para saber se ele a amava de verdade.
Diante da revelação da amante, Camilo faz troça:
"- Tu crês deveras nessas coisas? perguntou-lhe.
Foi então que ela, sem saber que traduzia Hamlet em vulgar, disse-lhe que havia muito cousa misteriosa e verdadeira neste mundo. Se ele não acreditava, paciência; mas o certo é que a cartomante adivinhara tudo."
Sem saber como agir com relação ao romance, certo dia Camilo  recebe um bilhete do amigo pedindo que vá até sua casa depressa. O medo lhe invade o espírito. Teria sido o caso descoberto?
É quando a incredulidade inicial dá lugar a uma busca de resposta, levando-o ,o destino, à porta da mesma cartomante.
"A voz da mãe repetia-lhe uma porção de casos extraordinários; e a mesma frase do príncipe de Dinamarca reboava-lhe dentro: "Há mais cousas no céu e na terra do que sonha a filosofia..." 
"Deu por si na calçada, ao pé da porta; disse ao cocheiro que esperasse, e rápido enfiou pelo corredor, e subiu a escada".
A consulta à Cartomante irá surpreender Camilo e o bruxo do Cosme Velho nos conduz, mais uma vez, a um desfecho surpreendente.
“Há mais cousas entre o céu e a terra do que sonha  nossa vã filosofia” (Horácio)

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