segunda-feira, 18 de março de 2013
Livro 77: Yann Andréa Steiner (Marguerite Duras)
Características marcantes nos textos de Marguerite
Duras são a sua capacidade de contar histórias por meio de imagens, quase como
flashes cinematográficos (influência de sua carreira de cineasta); e o estilo de narrar sem contar tudo, deixando interrogações no ar. Como se coubesse ao leitor entender o que não foi dito, captar mensagens nas
entrelinhas ou fazer sua própria história a partir do relato da autora. Em Yann Andréa Steiner, publicado em 1992 (Editora Nova Fronteira), esse estilo aparece fortemente. A obra
tem uma linha autobiográfica: os
personagens principais, Yann e a própria autora, são reais e - supostamente - viveram um romance
nos anos 80; ele, um jovem cineasta 36 anos mais jovem e ela, uma velha autora sucumbindo
ao alcoolismo, reclusa em seu apartamento na praia de Roche Noirs. Há romance, há carinho, há sedução: em um trecho ele elogia seu corpo – incrivelmente jovem – e ela lembra que 50
anos antes seu primeiro amante (o chinês do livro homônimo) dissera-lhe a mesma coisa. Mas há também dor, lembrança e medo. As indagações de Yann a respeito de um livro inacabado da autora, sobre uma mulher chamada Theodora Kats, serve
de pretexto para Duras conduzir o leitor a novos caminhos, abrindo espaço
para personagens parcial ou totalmente imaginárias, pincelando nelas as
dores vividas pela Guerra, pela segregação, pelo holocausto. A partir
daí, duas novas histórias se inserem
dentro da primeira. Em uma delas, um menino, cujo nome também é Steiner,
vive uma experiência afetiva com sua monitora, de 18 anos. Ele é um
sobrevivente do holocausto e sua maior dor aparece na lembrança de um fato ocorrido com a irmãzinha de dois anos. Olhando o mar, separado das outras crianças, ele atrai atenção da moça que se encanta com ele. Ela quer protegê-lo. Entremeada por conversas de Marguerite com seu amado, revela-se a terceira história - esta contada pela jovem monitora às crianças na praia – sobre um
tubarão que após devorar os pais de um menino – David – se vê tomado de culpa e
o salva, transportando-o para terra firme. Em todas as histórias que se desenvolvem, ressalta-se a
linguagem poética, suave e enigmática de Duras. Tocante, delicado e
amoroso, Yann Andréa Steiner é mais um livro de Marguerite Duras a ser lido
atentamente. E cada nova leitura pode trazer surpresas.
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