quarta-feira, 10 de abril de 2013

Livro101: O Retrato de Dorian Gray (Oscar Wilde)

Um dos maiores escritores da língua inglesa do século XIX, o irlandês Oscar Wilde é conhecido tanto por sua obra quanto por sua personalidade polêmica. Era uma figura intrigante: inteligente, sofisticado, vestia-se como um dândi e tinha um humor ferino. Adepto do esteticismo - "a arte pela arte”, defendia o belo como única solução contra o que denegria a sociedade e procurava incutir nas artes um tom de vanguarda, em oposição ao tradicionalismo da era vitoriana. Atuando nos mais diversos gêneros: contos  ("O Crime de Lord Arthur Saville"), teatro ("O Leque de Lady Windermere") e ensaios ("A alma do homem sob o socialismo"), a obra que o imortalizou foi o romance "O Retrato de Dorian Gray" (no original, The Picture of Dorian Gray)


Publicado em 1891, o livro tem como temática a decadência moral humana. Considerado um dos clássicos modernos da Literatura Ocidental, foi classificado pela BBC como um dos 200 romances mais populares.
O romance, que se passa na Inglaterra do século XIX, conta a história de Dorian Gray, um jovem de beleza excepcional, "um Adonis que se diria feito de marfim e pétalas de rosa”, que atrai o interesse do artista Basil Hallward. Tão atraente era sua aparência que, mais do que uma fonte de inspiração, ele se torna um objeto de paixão platônica por parte do pintor, que decide imortalizá-lo em uma de suas pinturas. O retrato de Dorian Gray seria o seu ápice como artista.
Com um caráter atencioso, gentil e cativante, a beleza de Dorian Gray acaba se tornando sua perdição. Através do pintor Basil, o jovem tem contato com Lord Henry Wotton, um aristocrata e cínico e hedonista, típico da época, que o seduz para sua visão de mundo, onde o único propósito a ser perseguido é o da beleza e do prazer. Sua natureza maquiavélica e destrutiva torna-se uma péssima influência para o ingênuo Gray, seduzindo-o e conduzindo-o a um caminho sem volta.
Ao ser alertado por Henry de que a mocidade iria passar e sua beleza se dissiparia, Dorian Gray constata que iria ficar “velho, feio, horrível”, ao passo que o retrato se conservaria “eternamente jovem”. É quando o personagem, num devaneio, afirma que se pudesse daria “a própria alma” para manter a sua juventude e deixar que o quadro envelhecesse em seu lugar. 
Sua vontade é realizada. Por influência de Henry, Dorian Gray perde a noção de moral e se entrega aos vícios, às orgias sexuais e à devassidão, deixando-se corromper. Enquanto permanece no auge da beleza física, seu retrato deteriora-se e expõe cada vez mais a feiura de sua alma, numa inversão de papeis. É o pedido de Gray se concretizando. Ele esconde o quadro, protegendo seu segredo de juventude eterna. Mas até quando essa situação irá se perpetuar?
Sutilmente explorando a temática homoerótica “O Retrato de Dorian Gray” provoca acaloradas discussões na sociedade tradicional e conservadora da época, abrindo um intenso debate sobre o papel da arte em relação à moral.  Sobre isso, não existe melhor defesa que a do próprio Wilde no prefácio da obra:  "Não existe livro moral ou amoral. Os livros são bem ou mal escritos. Eis tudo."
Recheado de reflexões filosóficas e passagens brilhantes com o humor ferino e sarcástico de Wilde, o foco do livro, no entanto, não é o suposto homossexualismo, mas a luta entre a moral e a degradação, que coexistem no mesmo corpo e na mesma alma. 
Alguns anos mais tarde, o livro foi usado contra o próprio autor em processos judiciais, como evidência de que ele possuía “uma certa tendência” homossexual, crime na Inglaterra da época. Depois de perder um processo por difamação contra o marquês de Queensberry, pai de Lorde Alfred Douglas, por quem era perdidamente apaixonado, Oscar Wilde passa dois anos na prisão, acusado de sodomia. No cárcere, escreve "A Balada do Cárcere de Reading" (1898) e "De Profundis", uma longa carta ao Lord Douglas.  Suas obras passam a ser recolhidas e sua fama desmorona. Após ser posto em liberdade, muda-se para a capital da França, onde passa o resto dos dias  em hotéis baratos, embriagando-se com absinto.Wilde morreu em Paris, em 1900, na miséria.

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