sexta-feira, 5 de abril de 2013

Livro 95: A História de Mildred Pierce (James M. Cain)

Publicado em 1941 por James M.Cain, “A História de Mildred Pierce” oferece todos os ingredientes de um romance policial. Mas vai muito além disso. Trata-se de uma história sobre a natureza humana e sua capacidade de superação, a diferença de valores e a forma diversa como cada pessoa reage diante de um mesmo acontecimento. Um mosaico de dramas, de maior ou menor intensidade – traição, divórcio, trapaça, egoísmo, ganância, coragem e resistência – acontece no desenvolver da trama, transformando a vida de um pequeno círculo de pessoas na pacata cidade de Glensdale, California, na América dos anos 30.
No começo do romance ninguém dá nada por essa jovem dona de casa, de 28 anos e estatura mediana que não chega a ser bonita, interessante ou mesmo inteligente. Com seus “seus cabelos louro acinzentados e olhos azuis aguados” Mildred, em sua própria avaliação se definia como uma pessoa “perdida na multidão”.
No entanto, no desenrolar da história, ela parece crescer diante de nossos olhos, a cada adversidade que a vida lhe impõe. 
Já de seu marido, Bert, pouco se pode dizer, além de bom pai, divertido e pouco ambicioso. Anos atrás, ele herdara de um tio um rancho nos arredores da cidade, e junto com mais três sócios fundara uma empresa de casas populares, chamada Pierce Homes Inc, da qual se tornou o Presidente.
Ao conhecer Mildred, ele se encantara com seus olhos amendoados. Em pouco tempo estavam casados e primeira filha, Veda, nasceria “antes do tempo previsto por lei”. 
Tanto Veda quanto a segunda filha, Moire (a quem chamavam Ray)  foram batizadas com nomes pagãos, seguindo os princípios da astrologia.  Aos sete anos, Ray é uma menina rechonchuda e adorável, ao passo que Veda, quatro anos mais velha, possui andar altivo e maneiras esnobes.
Enquanto a empresa dava lucro, Bert enriquecera investindo em ações. Mas quando chegou a Terça Feira Negra de 29, “seu mergulho na ruína foi tão rápido que ele mal pôde ver o desaparecimento da Pierce Homes durante a queda”.
“Em setembro estava rico e Mildred escolhera o casaco de mink que compraria quando o tempo esfriasse. Em novembro, quando o tempo não havia esfriado, tiveram de vender um dos carros para pagar as contas do mês.”
Com as dificuldades financeiras e o casamento em crise, Bert se envolve com outra mulher, e Mildred, contrariada, decide se separar. 
Logo Mildred se envolveria com Wally, um advogado velhaco, que lhe dava “duas horas de alívio, de esquecimento.”Para manter as filhas, ela, que nunca trabalhara, emprega-se num restaurante e logo se torna a melhor garçonete do lugar. Com recém adquirido espírito empreendedor, ela passa a fornecer tortas para o restaurante e em pouco tempo abre o próprio negócio, orientada por Wally e tendo por sede uma casa desativada pertencente à empresa do ex-marido.
Uma tragédia ocorre na família com a morte da filha mais nova, Ray, que deixa um vazio na vida de todos. Cada um tem um jeito de lidar com  a tragédia. O de Mildred é meter a cara no trabalho e se dedicar ainda mais à filha que ficou. 
"Talvez tenha encontrado mais do que paz. Havia algo de desatinado e doentio no modo como inalara o cheiro de Veda ao decidir dedicar o resto de sua vida à filha que fora poupada e resolveu que abriria o restaurante naquele dia, como anunciado e que não fracassaria."
Quando os negócios prosperam Mildred decide investir em mais duas filiais. Cada vez mais bem-sucedida, ela tenta suprir as necessidades de luxo de Veda, que embora usufrua do conforto proporcionado pela mãe, não esconde o quanto a despreza.
Obcecada por conquistar o amor de sua filha, Mildred não mede esforços em tentar satisfazê-la. Enquanto os anos passam, ela viverá o sucesso e o fracasso em sua carreira profissional, relutando em enxergar a realidade a respeito das pessoas que a cercam: o ex-marido Bert, com sua personalidade imatura, mas de bom caráter; seu novo amante, Monty, um bom-vivant que, falido, passa a usufruir do dinheiro de Mildred e principalmente Veda – agora uma bela e promissora cantora, ainda mais arrogante, egocêntrica, e capaz das piores atitudes para alcançar seus objetivos de riqueza.

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