quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Livro 31: Memórias de uma Gueixa (Arthur Golden)

“Minha mãe dizia que eu era como a água. A água abre caminho mesmo através da rocha. E diante de algum obstáculo, ela encontra outro rumo”. Assim a personagem principal e narradora de "Memórias de uma Gueixa" se descreve nas páginas iniciais do livro.
Se para nós, ocidentais, causa estranheza o estilo de vida e tradições orientais como o costume das gueixas, este livro desmistifica o assunto, ao mesmo tempo em que o envolve numa aura de romantismo e delicadeza.

Escrito na primeira pessoa, como se fosse uma narrativa a um interlocutor imaginário, esta é a história de Chiyo, uma menina pobre que, aos 9 anos, é negociada por um conhecido de sua família e levada para um Okya, templo de preparação de gueixas. Era o ano de 1929 e sua vida irá mudar para sempre.
Embora o livro se apresente em forma de memórias de uma das mais famosas gueixas do Japão, por trás dessa alma feminina e oriental está (surpreendentemente) um homem - e norte-americano. Definido na contra-capa como “uma descrição minuciosa da alma de uma mulher já apresentada por um homem”, o romance de Arthur Golden cumpre o que promete.
A saga de Chiyo, que passa a se chamar Sayuri e torna-se uma das mais influentes gueixas de sua época, assemelha-se a uma história de Gata Borralheira que se transforma em Cinderela, não da noite para o dia, porém a muito custo e dor.
Passado o choque inicial diante da nova realidade, a menina empreenderá uma mal-sucedida tentativa de fuga e sofrerá várias humilhações e perseguições por parte de uma gueixa um pouco mais velha, Hatsumono, que quer impedir a todo custo sua ascensão. Em pouco tempo, Sayuri percebe que não vale a pena lutar contra seu destino e decide não apenas aceitá-lo, mas lutar por ele.

“Naquele momento eu deixei de ser uma menina com uma vida vazia para ser alguém com um propósito. Percebi que ser gueixa poderia me trazer uma coisa: um lugar no mundo”.
No desenrolar da narrativa, ela aprende as artes da dança e da música, do vestuário e da maquilagem; o domínio do shimizen (uma espécie de bandolim); a maneira de servir saquê, revelando apenas um ponto do lado interno do pulso; o jeito de andar, a forma de olhar e sorrir, visando cativar os homens a quem tem o papel de entreter e divertir. Com os anos, torna-se uma bela mulher “de olhos azuis-acinzentados”.
Nessa trama de Cinderela oriental não faltará a paixão, reservada a um homem que ela vê pela primeira vez na infância e que, tempos depois, descobre ser o presidente de uma grande empresa japonesa. Objeto de paixão platônica por parte de Sayuri, ele será chamado de Presidente até o fim do livro. Não faltam também benfeitores: o horrendo Nabu, sócio do Presidente, herói deformado pela guerra, cliente fiel e amigo dedicado de Sayuri. E a gueixa Mameha, que se torna sua irmã mais velha (professora nas artes de entreter os homens). Compenetrada, a menina irá aprender bem a lição, transformando-se numa confiante e bem-sucedida gueixa. Mas será que, como a maioria das gueixas, irá renunciar ao amor? A resposta está nas páginas finais do romance.

Como diz o autor, na boca de Sayuri, “A gueixa é uma artista de um mundo imaginário. Ela dança. Ela canta. Ela o entretém. O resto é escuridão. O resto é segredo".

Livro: Memórias de uma Gueixa
Autor: Arthur Golden
Tradução: Lia Luft
Editora: Imago

Quando li: 2010
Como adquiri: comprei no Submarino em uma promoção de livros, a maioria por 9,90. Não me arrependi.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Livro 30: A Redoma de Vidro (Sylvia Plath)

A redoma de vidro foi a única incursão de Sylvia Plath no gênero romance, visto que sua grande habilidade – pela qual se tornou conhecida e reconhecida – foi a poesia. Poderia ter sido diferente, caso ela não tivesse buscado a morte aos 30 anos em 27 de fevereiro de 1963.
Romance escrito em tom confessional, cuja personagem tem história muito parecida com a vivida pela própria Sylvia em sua juventude, A redoma de vidro é um livro confessional, quase autobiográfico..
Escrito em 1961, dois anos antes de seu suicídio, traz como personagem central a jovem Esther Greenwood, aluna brilhante de uma universidade do interior, que parte para um estágio numa revista feminina de Nova York. Apesar de talentosa, Esther tem dificuldade em se inserir verdadeiramente no mundo de vaidades no qual acabou de entrar.
"Deveria ficar tão animada quanto a maioria das garotas, mas não conseguia. Eu me sentia imóvel e oca como o olho de um furacão, se agitando estupidamente no meio daquele enorme tumulto."
Conforme conta os dilemas de Esther, Sylvia retrata suas próprias angústias, dúvidas e neuroses, o vazio causado pela morte do pai, a pressão exercida pela mãe, a relação de amor, dependência e rancor velado entre elas, seus primeiros envolvimentos amorosos.
"Um olho verde brilhava na cama ao lado. Era dividido em quatro partes como uma bússola. Estiquei o braço devagar e perguei-o. Levantei-o. Junto com ele veio um braço, pesado, como de um morto, mas quente de sono. (...) Por um segundo debrucei-me sobre ele, estudando-o. Eu nunca tinha dormido ao lado de um homem."
Indecisa sobre seu futuro profissional, Esther volta para casa e, ao se sentir mais uma vez pressionada pela exigente mãe, tenta se matar. Pela sinopse dá pra perceber o quanto A redoma de vidro reflete a própria vida de Sylvia numa espécie de profecia desconcertante.
Romance de qualidade excepcional, torna-se impossível analisá-lo sem remeter à trágica morte da autora, que foi, não apenas exemplo de talento lterário, mas de obstinação. Fica evidente quando se lê as diversas biografias publicadas sobre ela (tive acesso a três delas), o quanto Sylvia aliava seu talento natural a uma profunda e férrea vontade de alcançar a perfeição. Quando conheceu o poeta inglês Ted Hughes, com quem viveu um casamento apaixonado e ao mesmo tempo tumultuado, que gerou dois filhos, Sylvia já tinha um enorme potencial. Na época mais conhecido que ela, a relação com Hughes ao mesmo tempo em que a estimulou a ser cada vez melhor, era uma ameaça ao seu talento. É como se vivesse um paradoxo entre amar o marido e ao mesmo tempo querer superá-lo. Ou ao menos, ser algo mais do que a esposa de Ted Hughes. Um sofrimento injusto. Sylvia era muito boa no que fazia. Os poemas de sua autoria, publicados a maioria após sua morte o comprovam. Mas uma possível personalidade bipolar encerrou sua vida – e sua obra - muito cedo.

A REDOMA DE VIDRO
é o único romance do legado literário de Plath, formado por uma obra poética que inclui livros como Colossus e Ariel. The Collected Poems, editado por seu ex-marido, o escritor inglês Ted Hughes, foi o ganhador do Prêmio Pulitzer de 1982.


terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Livro 29: Aprendi com meu pai (Luís Colombini)



Em qual episódio da sua vida você recebeu a maior, a mais marcante lição de seu pai? A partir dessa pergunta, 55 personalidades – entre jornalistas, publicitários, executivos, cineastas e esportistas deram seus depoimentos francos, tocantes, emocionados ou bem-humorados, revelando  momentos vividos, conselhos recebidos e exemplos aprendidos a partir da convivência com seu pai. Ou, em alguns casos,  com uma figura representativa da figura paterna.
O resultado está reunido no livro “Aprendi com meu pai”, idealizado e editado pelo jornalista e editor Luís Colombini, publicado pela editora Versar. “Mais do que fatos, este é um livro de versões. Mais do que rigor ou precisão, o importante aqui são as lembranças. Cenas nas quais o filho se recorda do pai. É um livro de percepções que resgata palavras, gestos e atitudes de um pai, ou de episódios que marcaram a infância de um filho ou filha”.
Em 249 páginas podemos acompanhar histórias contadas por pessoas tão díspares quanto o cineasta Fabio Barreto, o chef Alex Atalaia e a atriz Lígia Cortez, cada qual com uma experiência emocionante para contar. Os exemplos são inúmeros. Um pai ausente. Um irmão que virou pai. Um pai que nunca sorria. Todos, a seu modo, deixaram marcas indeléveis na vida de seus filhos.
Para o jornalista e cineasta Arnaldo Jabor, seu pai, oficial da aeronáutica, sempre foi “um mistério”. “Não nos comunicamos bem, inibidos um com o outro. Meu pai era o perigo dos castigos, o Supremo Tribunal que julgava meus erros.” Quando o pai estava no hospital, precisando de transfusão de sangue, houve ali um inusitado assassinato, e Jabor sentiu vontade de abraçar aquele senhor de cabelos brancos. Nunca mais houve um silêncio entre eles.
O pai de Ronny Hein se chamava Sven em homenagem a um poeta escandinavo (Sven Hedin). Por sofrer de um mal na coluna, a lembrança mais marcante que deixou em seu filho  foi sua atitude diante da dor. “Ele já era doente antes de eu nascer. A dor não cedia. Mas ele era forte e bonito e trabalhava. Estava sempre sorrindo.” Certa vez, chegando do hospital, magro e fraco, carregado numa espécie de liteira, ao ver o filho, logo se pôs altivo: - Chegou o Imperador. "Com meu pai aprendi que da dor nascem as melhores poesias. E acabam também”.
Em outro trecho do livro, Francisco Britto considera que “melhor ou pior se confundem, quando se tem de assimilar as lições de um pai sem a presença dele.” Trata-se do depoimento de um menino criado praticamente sem pai: “Até os 20 anos, meu pai foi totalmente ausente. Sua existência só se manifestava no papel, quando eu tinha de preencher o item paternidade em fichas e cadastros”. Para suprir a ausência paterna, escolheu três figuras masculinas às quais recorreria nos momentos mais difíceis – um tio, o avô e um amigo. “E com base nesse trio, levei minha vida”.
Já para Manoel Horacio “os pais podem falar o que quiserem para os filhos, mas mais do que palavras, a grande lição que fica está no que os pais fazem – e como fazem. Jamais no que dizem que fizeram, fazem ou vão fazer.”E emenda: “Para mim, a grande historia que tenho a contar do meu pai é a história da vida que ele levou.” Jardineiro, ele acordava todos os dias, às cinco e meia da manhã, para cuidar dos jardins das casas na Vila Mariana, onde a família morava.
O ator Paulo Autran lembra que seu pai, ex-delegado e ex-advogado incorruptível, quando morreu, aos 69 anos, nem precisou fazer inventário. “Não deixou nada, não tinha nada. Isso diz tudo sobre sua honestidade, um dos patrimônios morais que ele legou para mim, meu irmão e duas irmãs”.
Nas lembranças de Nuno Cobra está a primeira viagem que fez com seu pai num caminhão Chevrolet 43, em 1947. Passaram por lugares inóspitos, estradas esburacadas, enquanto seu pai contava causos. No fim da viagem, o pai disse: “A vida fica mais gostosa quando não se tem mais vida, como a estrada.” Em 2001, Nuno Cobra lançou o livro “A Semente da Vitória” onde expõe sua visão da vida. E conclui: “Muito dele se deve a Manuel Gonçalves Ribeiro Junior, meu pai.”
Seja ao acaso, nas páginas desse livro, ou no dia a dia de gente famosa ou comum, sempre haverá um ensinamento deixado por um pai, capaz de transformar seu filho ou filha numa pessoa mais forte, mais corajosa e melhor.

Aprendi com meu pai
Luís Colombini
Editora Versar

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Livro 28: Noites Tropicais. Solos, improvisos e memórias musicais (Nelson Motta)



Em 1958, Nelson Motta tinha apenas 14 anos quando ouviu pela primeira vez num radinho de pilha João Glberto cantar Chega de Saudade. "Foi como um raio.Aquilo era diferente de tudo que eu já tinha ouvido." E o menino que só gostava de ler, escrever, ouvir e contar histórias viu a música entrar em sua vida "para sempre".
Décadas depois, ele destila um conhecimento sobre fatos, estrelas e mitos do mundo da música brasileira, inversamente proporcional ao seus 1,67m. E parece ter estado presente exatamente na hora e no local onde tudo aconteceu nos últimos 50 anos. Viu nascer a Bossa Nova, o Tropicalismo, a Jovem Guarda, tomou drinques com Vinícius, namorou Elis, participou dos famosos Festivais da Canção, foi íntimo de Tim Maia, comandou a lendária discoteca Dancin´Days, criou trilhas para novelas da Rede Globo (quem não lembra da introdução grudenta "Abra suas asas...Solte suas feras..."?) e deu a maior força para o rock brasileiro. Isso pra ficar só num resumo da produção desse compositor, crítico musical, produtor artístico, revelador de talentos e por aí vai. Essa capacidade de estar onde tudo acontece fez dele uma testemunha ocular de fatos relevantes em nosso cenário musical, que ele conta com bom-humor e elegância em "Noites Tropicais. Solos, improvisos e memórias musicais", lançado em 2000 pela Editora Objetiva.
Enriquecido por belas fotos em preto e branco, o livro é uma espécie de guia para o leitor que quer saber quem é quem nesse segmento onde o Brasil, país do futebol também é um verdadeiro craque.
Da primeira à última página, qual um show que não pode parar, ele conta tudo que viu, ouviu e produziu em quase meio século, usando sua posição privilegiada para apresentar, um a um, quem fez história no fértil terreno musical do país.

Entre outros (muitos outros assuntos) ficamos sabendo como Carlos Imperial, de chinelos e camisa havaiana, um belo dia chamou ao palco um conterrâneo capixaba, que "imitava escancaradamente João Gilberto". O nome dele? Roberto Carlos.
Acompanhamos o surgimento de uma moça baixinha que cantava abrindo os braços com um "horrendo capacete de laquê". O que não importava muito, pois aos 18 anos, Elis Regina já cantava "uma barbaridade".
Passamos pelos Festivais da Record, que lançaram nomes como Chico, Caetano, Gil, Elis e Vandré. Caetano já estava ficando famoso por sua participação no programa "Essa noite se improvisa" quando encanta o público com sua sonora e "caleidoscópica" Alegria Alegria. Que, como lembra Nelson Motta, "não falava de alegria e sim de liberdade".
Gil , acompanhado pelos alegres e anárquicos Mutantes - a então lourinha Rita Lee e os irmãos Arnaldo e Sergio Antunes - atraem aplausos pela "cinematográfica" Domingo no Parque. E  Chico Buarque, com seu ar de bom moço é ovacionado por sua girante "Roda Viva". Pouco tempo depois Chico driblaria a censura inúmeras vezes com versos cada vez mais politizados nos anos negros da ditadura. Mas o Festival também fez história com as vaias da multidão, que feriam quase mortalmente jovens artistas em busca de seu lugar ao sol, como o próprio Caetano que não conseguiu seguir adiante com sua amalucada "É proibido proibir". E é claro, o Sergio Ricardo que, vaiado por sua "Beto bom de bola" não apenas desistiu de cantar como destruiu o violão no palco e o lançou para a plateia: "Vocês venceram".
Mas o show tem que continuar e nas páginas seguintes descobrimos o homem espetáculo Simonal que hipnotizava a plateia com músicas dançantes tropicalíssimas. Ele conquistará um país inteiro até que -num momento delicadíssimo da história do pais- será irremediavelmente acusado de dedo-duro e amigo da ditadura. Completamente apolítico, o debochado Tim Maia envolverá legiões de fãs com seu suíngue irresistivel. E os festivais universitarios revelarão compositores "cabeça" como Ivan Lins, Aldyr Blanc e Gonzaguinha.
Sempre pelos olhos de Nelson Motta vemos Rita Lee  sair dos Mutantes para criar sua própria banda. E pouco mais tarde o nascimento do colorido rock brazuca da Blitz, dos Titãs  e Paralamas do Sucesso. Sem falar no Legião Urbana, capitaneados pelo genial Renato Russo.
Está tudo lá, contado tim-tim por tim-tim por um baixinho que sabe muito bem do que está falando.
No fim dessa viagem musical, já é 1992 e o Brasil está em pleno processo de impeachment. Nelson Motta então se veste preto e no calçadão de Ipanema junta-se a um mar de gente "de luto" gritando pela saída de Collor. Horas depois embarca para Nova York "para começar tudo de novo". Aplausos.

Noites Tropicais
Nelson Motta
Editora Objetiva
464 páginas


Quando li: 1996
Como adquiri: solicitei pelos Correios, a partir de uma resenha em revista.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Livro 27: "O Carrasco do Amor" (Dr. Irving D. Yalom)

Autor do best seller "Quando Niesche chorou", em "O Carrasco do Amor", Dr Irving D. Yalom relata os casos de 10 pacientes que buscaram terapia pelos mais diversos motivos - solidão, impotência, depressão, obesidade - e no decorrer do tratamento se debateram com a dor existencial.

Segundo ele, toda terapia consiste em evocar o desejo - o querer de cada um:

"Eu quero de volta minha filha morta."
"Eu quero toda mulher que vejo."
"Eu quero os pais, a infância que nunca tive."

Descobrir o querer e enfentar as dores que marcam sua vida é a chave para um maior sucesso na cura da angústia .
Por meio dessas histórias verídicas Dr.Irving demonstra que é possivel enfentar as verdades da existência e aproveitar o seu poder para a mudança e o crescimento pessoal.
Mesmo com autorização expressa dos pacientes para publicação de suas histórias, o autor teve o cuidado de camuflar um pouco, mudando características, de forma a proteger suas identidades.
E ainda que seja ele o psiquiatra, também se debaterá com dificuldades em atender alguns casos ou deverá enfrentar seus próprios medos e preconceitos, como na terapia de Betty, descrita no conto intitulado "A Mulher Gorda".
Betty chegara ao consultório solitária, deprimida e pesando 115 kg. A primeira impressão por parte de Dr. Irving  foi de afastamento:
"Ela se sentava alta na cadeira como se estivesse sentada em seu proprio colo. Seria possível que suas coxas e nádegas fossem tao infladas que os pés teriam de ir mais longe para alcançar o chão?"
Tendo aversão a pessoas obesas, o médico revela que precisou vencer suas próprias dificuldades para admirar - e abraçar - a Betty que acabou surgindo ao longo do tratamento, durante o qual perdeu mais de 35 kg.
No conto que dá nome ao livro, Dr. Yalom se desdobra para entender o enigma de Thelma, que aos 70 anos de idade, cabelos amarelos despenteados e tremor senil no queixo, se revelava perdidamente apaixonada por um homem 30 anos mais novo, seu antigo terapeuta - que nao via há oito anos.
" O amor deThelma era monstruosamente desequilibrado , nao continha nenhum prazer; sua vida era um completo tormento". E mais à frente:
" Havia algo de incongruente na ideia de uma mulher desgrenhada de 70 anos de idade loucamente apaixonada, doente de amor.Ela sabia disso, eu sabia disso e ela sabia que eu sabia." A terapia de Thelma acabará dando um resultado positivo, mas não da forma como o médico esperava.
"Se o estupro fosse legal" conta a história de Carlos, um paciente divorciado, solitário e debilitado, que lutava contra um linfoma raro, agora em estágio teminal. Amargurado, Carlos buscava desesperadamente uma esposa, enquanto repelia a aproximação das pessoas pela acidez de seus comentários. 
Durante o atendimento a Carlos, Dr Irving se depara com uma das mais difíceis situações e enigmas enfrentadas por psiquiatras: "Que sentido faz falar sobre tratamento ambicioso com alguém cujo periodo de vida previsto talvez seja na melhor das hipoteses, uma questao de meses?"
A resposta viria no decorrer do tratamento: o paciente sarcástico e ansioso deu lugar a um homem sereno e agradecido que acabou criando um grupo de terapia para outros pacientes com câncer.
Carlos não só assumiu e enfrentou a inevitabilidade da morte, como também deu ao seu terapeuta "o maior presente" que ele poderia receber:
"Quando eu o visitei no hospital ele estava tao fraco que mal conseguia se mexer mas ergueu a cabeça, apertou minha mao e sussurrou: Obrigado por salvar a minha vida."
Em "Morreu o fiho errado", Dr. Yallom trata de Penny, 38 anos, uma mulher divorciada robusta e envelhecida que perdera a filha com leucemia pouco antes de fazer 13 anos, após 4 anos de sofrimento. Com mais dois filhos adolescentes (ambos desajustados) ela se separara do marido e congelara sua tristeza, sem conseguir lidar com a dor da perda.
Ao longo do atendimento, ela revela que se sentia culpada por não se lembrar da morte da filha e por não ter podido ajudá-la  na hora da partida, porque se recusava a deixá-la ir embora.
"A pior coisa que se pode fazer a alguem é a morte solitária. E fora assim que ela deixara sua filha morrer. "
No processo de terapia, Dr Yalom se divide entre entender a dor de Penny - "É crime manter a esperança? Que mãe quer acreditar que a filha tem de morrer?" - E ao mesmo tempo ajudar a paciente a recompor sua vida, livrando-se da culpa.
" Perder um filho é perder o futuro. O que é perdido nada mais é do que o projeto de vida,"
"Deixá- la partir nao é o mesmo que esquecê-la e ninguem está te pedindo pra desligar um interruptor."
Pouco a pouco, a paciente conseguirá verbalizar o que tanto a deprime. "Eu tive 3 filhos, um deles era um anjo e os outros dois- olhe para eles - um na cadeia e outro viciado. Eu tive 3 filhos e morreu o filho errado."
Por meio de histórias como as de Thelma, Carlos, Betty e Penny, com as quais, muitos poderão se identificar, Dr Irving revela para os leitores como funciona a relação paciente- psiquiatra, sem medo de expor sua própria fragilidade, preconceitos, temores e erros.
Útil tanto para profissionais como para qualquer pessoa interessada na natureza humana, "O Carrasco do Amor" conta história de gente que enfrentou seus demônios e medos para descobrir um significado para sua vida.

"O Carrasco do Amor"
Dr. Irving D. Yalom
Ediouro
1989

Quando li: 2002
Como adquiri: presente do meu irmão Guilherme Santos Neves Neto.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Livro 26: Estação Carandiru (Dráuzio Varella)

Um médico realizando serviço voluntário no maior presídio do país. Mais de 7.000 detentos de graus diversos de periculosidade. Vidas entrelaçadas de pessoas sofridas espalhadas por sete pavilhões de cinco andares. Essa é a tônica de 'Estação Carandiru', escrito pelo cancerologista Dráuzio Varella. Um relato romanceado da vida dentro do Complexo do Carandiru, onde o médico atuou por 10 anos, realizando atendimento e ações de prevenção às drogas e  à AIDS. O mesmo presídio que foi palco, em 1992, daquele que ficou conhecido como o massacre do Carandiru, quando, durante uma revolta de presos, a ação desproporcional da polícia resultou no assassinato de 111 detentos encurralados. Pubilicado pela Companhia das Letras em 1999, "Estação Carandiru" divide-se em 58 episódios que narram, desde o espaço físico do presídio e sua rotina diária, até histórias de pessoas que ali vivem (os detentos) ou convivem (funcionários do presídio, prestadores de serviços e a família dos presos).
Recebido a princípio com desconforto, pouco a pouco o médico venceu a resistência, conquistando a admiração e a confiança dos internos. Convivendo com detentos de todos os tipos, orientando, educando e atendendo doentes, Dr. Dráuzio acabou, segundo ele, ouvindo muitas histórias, fazendo amizades verdadeiras e aprendendo muito sobre medicina e sobre a vida, além de penetrar em "mistérios da vida no cárcere", inacessíveis, não fosse ele médico.
Segundo o autor, o objetivo do livro não é "denunciar um sistema penal antiquado, apontar soluções para a criminalidade brasileira ou defender direitos humanos de quem quer que seja."
Ele busca, antes,"abrir uma trilha entre os personagens da cadeia: ladroes, estelionatarios, traficantes,estupradores, assassinos e o pequeno gupo de funcionários desarmados que toma conta deles."
Ao abrir as portas do Carandiru, nos convida a entrar e enxergar, pelos olhos dele, o dia a dia e a luta pela sobrevivência física e psicológica nas galerias repletas de presos, num reconhecimento perturbador da alma humana.
Pouco a pouco, somos apresentados a personagens quase folclóricos, como o mulato franzino Sem-Chance, abandonado pela família após a morte da mãe, que ganhou esse apelido por terminar todas as frases com essa expressão. "Sou um zero no mundo. Estou perdendo a identidade própria do ser humano. Sou um "Sem-Chance".
O velho Jeremias, "de carapinha branca, sobrevivente de quinze rebelioes e pai de 18 filhos com a mesma mulher", que conseguira criar a vasta prole com dignidade - vendendo maconha.
Ezequiel, um bigorneiro do Pavilhão Oito, que orgulhava-se de fazer a mais pura das pingas (a maria-louca), a partir da destilação de milho de pipoca trazido pela família.
E Edelso, um ex-receptor de carros roubados, que antes da prisão também se passava por médico, dando consultas (gratuitas) à vizinhança, com nome e CRM de um médico falecido. Segundo o doutor, Edelso era, entre todo os detentos, o que mais tinha jeito para a medicina, sendo um grande auxiliar no atendimento aos companheiros, aplicando injeções e fazendo curativos.
Enquanto nos apresenta a esses "heróis", Dr. Dráuzio esclarece que, embora privados da liberdade, existe no Carandiru um código de conduta não escrito, seguido à risca pelos presos. Como ele ouviu de um detento: "Aqui na cadeia um crime nunca prescreve".
"No mundo do crime a palavra empenhada tem mais força do que um exército."
Relatando sua experiência junto a pessoas que foram privadas até mesmo de esperança, o autor deixa transparecer, nele mesmo, uma transformação como médico e como pessoa.
"Com mais de 20 anos de clínica, foi no meio daqueles que a sociedade considera como escória que percebi com mais clareza o impacto da presença do médico imaginário humano, um dos mistérios da minha profissão".
O livro não poderia deixar de culminar com o relato do trágico massacre do Carandiru, que começou com um desentendimento entre dois rivais no pavilhão nove. Eram 14h30 do dia 1º de outubro de 1992, uma sexta-feira. Em poucos segundos eclodiu a rebelião. Trinta minutos depois, policiais entraram na Detenção com metralhadoras, cães e escopetas, sob ordem do Governador Fleury Filho. No final da operação, 111 detentos estavam mortos.
"Para ! Já chega! Acabou!" Uma, depois da outra, as metralhadoras silenciaram. Após os tiros caiu um silencio de morte na galeria. Os carros da polícia e do IML transportaram os mortos, até tarde da noite. Nas celas o ambiente era trágico. Dadá, um preso evangélico sobrevivente abriu a Bíblia e leu o salmo 91, chorando como criança com o trecho: "Mil cairão ao teu lado e dez mil à tua direita, mas tu não serás atingido, nada chegará à tua tenda".

DRAUZIO VARELLA
1999
Companhia das Letras

O autor:
Além de médico cancerologista formado em 1967, na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, escreve sobre ciência na Gazeta Mercantil e é articulista da Folha de São Paulo. Publicou Macacos (Publifolha 2000), Rua do Brás (2000). Lançada em 1999, a obra Estação Carandiru recebeu o prêmio Jabuti do livro do ano e não ficção.


Quando li: 1999
Como adquiri: comprado na livraria Siciliano.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Livro 25: O Discurso do Rei: Como Um Homem Salvou a Monarquia Britânica (Mark Logue e Peter Conradi)






Um rei com um grave problema de gagueira. Um país em véspera da Segunda Guerra Mundia. E um autodidata terapeuta vocal com métodos alternativos e eficazes. Foi assim que o quase desconhecido Lionel Logue salvou a família real inglesa nas primeiras décadas do século XX. Essa é a história verídica contada no livro O Discurso do Rei: Como Um Homem Salvou a Monarquia Britânica, escrito pelo neto de Lionel, Mark Logue com a ajuda do jornalista Peter Conradi. Com base nos diários e arquivos de Logue, eles reconstroem a relação de surpreendente intimidade entre dois homens muito diferentes.
Gago desde os 4 anos de idade, Albert, filho do rei britânico, não consegue se livrar dos constrangimentos que acompanham suas manifestações verbais públicas. Depois de passar por vários especialistas, sem resultado, ele já não tem tanto interesse em novas tentativas, até porque seu irmão mais velho, Edward VIII, é o primeiro na linha sucessória para assumir o trono no lugar de seu pai. Já casado e com duas filhas, ele atende o pedido de sua esposa Elizabeth (que viria a ser a mãe da atual rainha Elizabeth, mãe de Charles), de tentar um novo tratamento com um fonoaudiólogo nada convencional, Lionel Logue. O contato inicial é tenso e Albert não se sente à vontade com a terapia alternativa, mas aos poucos, com os primeiros resultados positivos, passa a confiar no profissional. É quando ele se verá diante de uma situação absolutamente inusitada: seu irmão Edward, que assumira o trono por ocasião do falecimento de seu pai, abdica da coroa para casar-se com uma norte-americana divorciada. Fatalmente, Albert deverá assumir seu lugar, o que significa não apenas tornar-se rei, mas  ter todos os olhos e ouvidos do país atentos a todos os seus movimentos, atos e palavras. O momento não poderia ser mais delicado: vésperas da Segunda Guerra Mundial. Como poderia Albert, nomeado rei George VI, gaguejar diante de seu povo justamente na hora em que  mais se espera determinação e firmeza?

         Juntamente com a terapia, que envolve exercícios e técnicas incomuns, cresce a amizade entre Albert e Lionel.  O terapeuta ajuda a aumentar a  autoestima do rei e constrói uma segurança  nunca alcançada. O momento máximo de vitória acontecerá num belo discurso proferido com firmeza, sonoridade e clareza para uma população emocionada.

       Em 2010 foi lançado o filme "O Discurso do Rei", que deu a Collin Firth o Oscar de melhor ator por sua auação como o rei George VI.


Livro: O Discurso do Rei
Editora: José Olympio
Autor: MARK LOGUE & PETER CONRADI
Ano: 2011
Edição: 1
Número de páginas: 192




Quando li: 2010
Como adquiri: comprei na Livraria Saraiva, em 2010, mas como assisti e amei o filme, demorei um pouco para concluir a leitura. Um dos poucos casos em que o filme superou o livro, porque a obra foi escrita pelo neto de Lionel Logue  (Mark Logue) com a ajuda do jornalista Peter Conradi, baseado em anotações de seu avô. Trata-se de uma história muito bonita, porém o livro é mediano.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Livro 24: Ou isto ou aquilo (Cecília Meirelles)

Cecília Meirelles sempre escreveu para as crianças, mas foi através das páginas de "Ou isto ou aquilo" (1964), que teve seu nome difundido junto a esse público.
São 56 poemas, acompanhados de belíssimas ilustrações, retratando coisas, pessoas, sentimentos, paisagens, natureza e animais, se destacando pela linguagem simples, sem ser simplória. As crianças retratadas pela poeta têm o frescor da inocência, mas com personalidade forte. São persnagens ativas de sua vida, questionam, analisam, vibram. Não apenas reagem: agem.

A temática está  relacionada ao universo que cerca a criança: jardins, flores, animais, o arco-íris, uma poça d´água, uma bola.: "A bela bola rola. A bela bola de Raul."
 O personagem será sempre a criança ou pessoas de seu mundo: uma menina levada, duas velhinhas solitárias, o menino que queria um burrinho.
Poeta lírica, também nos poemas para crianças os versos de Cecília fluem, flutuam e dançam. A sonoridade das palavras é música para os ouvidos, encanto para os olhos. Os versos são ricos e os poemas trazem um ritmo cantante:

"Quem me compra um jardim com flores?
Borboletas de muitascores, lavadeiras e passarinhos,
ovos verde e azuis nos ninhos?"

"No último andar é mais bonito:
do último andar se vê o mar.
É lá que eu quero morar".

"Com seu colar de coral Carolina
corre por entre as colunas da colina."

"Arabela abria a janela.
Carolina abria a cortina.
E Maria apenas sorria: bom dia."

"Ou se tem chuva e não se tem sol.
Ou se tem sol e não se tem chuva.
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva."

"Ah! Menina tonta,toda suja de tinta mal o sol desponta!"

Há mais de 40 anos a obra "Ou isto ou aquilo" encanta crianças, adolescentes e adultos, passando de geração a geração como uma das mais importantes da literatura infantil contemporânea.





Quando li: 1970
Como adquiri: presente do meu avô Guilherme Santos Neves. O primeiro livro que ganhei na vida.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Livro 23: O Outro (Bernard Schlink)

Após a morte repentina de sua esposa (Lisa), um homem (Bengt) recebe uma carta de alguém que não sabe que ela morreu. A grande curiosidade ou comiseração o leva a abrir e ler a mensagem, momento em que começa a descobrir um outro lado de sua esposa que ele não conhecia. Ela tinha com o autor da carta uma ligação amorosa.
Obcecado por entender que ligação é essa e como ela se deu sem que ele percebesse, o homem decide responder a essa carta, como se fosse Lisa. Ao mesmo tempo que mantém viva a memória da esposa, a cada nova carta, ele a redescobre. O que se lê nas entrelinhas é a angústia do homem ao perceber que sua esposa não era sua, não era quem ele julgava ser. Ela, sim, era outra.
Nas páginas seguintes, sente-se que o próprio marido está se deixando seduzir pela figura do amante (não no sentido sexual, mas mental). Afinal, quem será esse homem extraordinário que mereceu o amor de sua esposa? Inevitavelmente chegará a hora de ele ir ao encontro do Outro.


Bernhard Schlink nasceu em 1944, em Bielefeld, e é jurista de formação. Autor, entre outros, de O leitor, A volta para casa e A menina com a lagartixa. O Outro também ganhou versão cinematográfica, com Liam Nesson, Antonio Banderas e Laura Linney.

Editora: Record
Autor: BERNHARD SCHLINK
Ano: 2009
 Número de páginas: 96



Quando li: 2009
Como adquiri: comprado em livraria do Aeroporto de Guarulhos numa viagem a Uberlândia, MG, para o Prêmio Profissionais do Ano. Li em algumas horas esperando a hora do vôo.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Livro 22: Paixões (Rosa Montero)


O pintor Amedeo Modigliani viveu um romance confuso com a bela Jeanne, e quando morreu, na miséria e destroçado pela bebida, sua esposa suicidou-se no dia seguinte.
Oscar Wilde casou-se, aos 29 anos, com Constance Lloyd, disposto a “curar” sua própria homossexualidade. Pouco depois, começa a viver romances com rapazes. Apaixonado pelo lorde Alfred Douglas, um jovem “maldoso, vaidoso e frívolo”, comete o erro de processar o pai do amante por calúnia. Não apenas perde o processo, como é condenado por “conduta indecente”.

Paul Verlaine já era um poeta famoso, feio e beberrão casado com Mathilde quando conheceu Rimbaud, um rapaz belíssimo e problemático que também escrevia versos. Com ele embarca num caminho de autodestruição que envolve sexo, bebidas e brigas. Num desses episódios, atira em Rimbaud e acaba preso por dois anos. Os dois sobrevivem. A poesia de Verlaine, não.

Liz Taylor e Richard Burton levaram para vida real as cenas de amor que viviam no filme Cleópatra. O filme foi um fracasso, mas o romance deu o que falar.  Entre drogas e bebidas, casaram-se e divorciaram-se várias vezes. O último casamento dos dois acabou bem antes da morte dele em 1984. A paixão pelo jeito, ainda existia.
John Lennon e Yoko Ono conheceram-se em 1966, no auge da Beatlemania. Aos 26 anos, ele era casado e pai de Julian. Ela, uma artista excêntrica de 33 anos. Quando Lennon se divorcia para casar com Yoko, a comoção entre os fãs é geral. O casal se envolve em campanhas pela paz.  Já o casamento, não era lá tão tão pacífico.

A paixão, com todas as suas nuances, cores e horrores está retratada nesse interessante livro da jornalista espanhola Rosa Montero. Fruto de uma série de artigos publicados no jornal El País em 1998 e 1999, é um verdadeiro tratado sobre esse sentimento que envolve, engrandece e aniquila ao mesmo tempo. A partir de uma pesquisa minuciosa e um texto muito agradável de se ler, Rosa Montero revela histórias de amores célebres, das mais variadas épocas. Desmistificando o romantismo, tenta decifrar os mistérios de um sentimento que muitos confundem com o amor. Enquanto analisa diversos romances, provoca no leitor o questionamento sobre até onde vão os limites da paixão.Segundo ela,"uma alienação na qual a pessoa amada é apenas uma desculpa que nos damos para alcançar a emoção extrema de se apaixonar".
Lendo cada uma das 18 deliciosas histórias de Rosa percebi que não existe paixão calma, sólida, construtiva, equilibrada. Entre os casais retratados, existe, quase sempre, ansiedade, deslumbramento, obsessão, violência e ciúmes. Em cada história, há o desequilíbrio de um dos lados (ou de ambos), transformando amado e amante em cúmplices, num cenário onde um é a vítima e o outro, o carrasco(com eventuais trocas de papéis). Especificamente, nos tempos antigos, o cenário da promiscuidade e da loucura é ainda maior. Tolstoi enlouqueceu (e deixou a esposa histérica). Verlain atirou em Rimbaud, cego de paixão. Modigliani bebeu até morrer e sua esposa suicidou-se em seguida, grávida do segundo filho dos dois. São pessoas assim, que parecem saídas de um livro de ficção, que são desvendadas pela escrita sincera e impactante de Rosa. De tudo isso, ficam as histórias saborosas e muitas vezes aterradoras, de relacionamentos onde a paixão é tão forte, tão intensa, que não sobra espaço para o verdadeiro amor.


Paixões: Amores e Desamores que Mudaram a História. Rosa Montero. Editora: Ediouro, 189 páginas.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Livro 21: O Menino do Dedo Verde (Maurice Druon)

Uma fábula para crianças que enternece todos os adultos.Um conto que não é de fadas, mas traz inserido mágica e fantasia. O Menino do Dedo Verde, de Maurice Druon, é a história de Tistu, um menino que vive na cidade de Mirapólvora na Casa-que-Brilha, com o Sr. Papai, Dona Mamãe e o seu querido pônei Ginástico. Nessa descrição que traz a inocência da visão de mundo pelo prisma da criança, já temos ideia do que serão as próximas páginas. E a história de Tistu nos faz adentrar num mundo imaginário onde um menino "diferente" tenta viver a sua vida, sem se contaminar pelos padrões adotados pela "gente grande". A família de Tistu é rica pois o Sr Papai tem uma fábrica de canhões e Tistu é um menino sonhador que dorme nas aulas e no terceiro dia de aula é expulso da escola. Sr Papaientão  resolve fazer com que o filho vivencie as coisas para aprendê-las. As aulas serão com o jardineiro Bigode e com o gerente da fábrica de canhões, o Sr Trovões. Mas na primeira aula o jardineiro  descobre um dom fantástico em Tistu: o menino tem o dedo verde, o que quer dizer que onde ele colocar o dedo, nascerão flores. Como as pessoas entenderiam mal esse dom, Bigode resolve manter o fato em segredo e torna-se conselheiro de Tistu. No contato com o Sr Trovões Tistu conhece um pouco do lado triste do mundo: a miséria, a prisão, o hospital. E pensando em levar alegria a esses ambientes, resolve usar seu dom, para transformar o mundo.
Com uma mensagem de esperança e humanidade, o Menino do Dedo Verde é  uma história sobre a capacidade de transformação que o amor pode provocar na vida de todos. E embora seja um livro infantil,  é um belo recado para os adultos que esquecem que um dia já foram crianças.













O menino do dedo verde
Maurice Druon

Quando li: foi lido na sala de aula pelo meu professor de Português Artelírio Bolsanello, em 1974.
Adquiri o mesmo livro para meus filhos em 2006.


domingo, 20 de janeiro de 2013

Livro 20: Todos os nomes (José Saramago)

Um certo Sr. José, sem família, sem filhos, sem grandes ambições funcionário antigo de um Registro Civil. Esse é o perfil do personagem principal do romance Todos os nomes, do genial Saramago.

Ironicamente, o único do livro que efetivamente possui um nome. Os demais são identificados por expressões como "a senhora do rés do chão direito", "a moça desconhecida", ou "o marido ciumento".

Nessa existência insossa, sem grandes expectativas, Sr. José mora numa casa contígua ao local de trabalho, que possui uma porta de acesso direto (mantida sempre fechada por ordens superores).

É daqueles que vivem para o trabalho, sem amigos, sem amores, sem vida. Mas como toda pessoa solitária, ocupa seus dias de folga com um habito: coleciona recortes de jornais e revistas com a vida de pessoas famosas, coleção que mantém longe das vistas das pessoas como um segredo bem guardado. Um dia decide acrescentar a esses recortes informações mais precisas - nome da mãe, do pai, registro de batizado. Como funcionário do Registro Civil, ele tem a faca e o queijo na mão: basta abrir a porta proibida. Passa a entrar na repartição na calada da noite, em busca das informações. Sente o gosto de fazer algo absurdo.

Numa dessas incursões, o acaso lhe coloca às mãos o verbete de uma moça de 36 anos, uma pessoas comum, uma ilustre desconhecida.Imediatamente, é tomado pelo sentimento de descobrir mais sobre essa mulher misteriosa. A partir daí sua vida sofrerá uma reviravolta. Por essa obsessão, ele irá mentir, fingir, enganar, correrá riscos, passará noites em claro, adentrara feito um gatuno a escola onde a menina estudou, com um credencial falsa irá investigar seus vestígios na casa onde ela viveu, pressionando os novos moradores.
A narrativa de Todos os nomes assemelha-se a uma teia de aranha. Quanto mais Sr José avança, mais se vê enveredar por caminhos quase sem volta.
De funcionário austero passa a invasor furtivo da casa alheia. E é nessa busca que ele ganha mais gosto pela vida.
No desenrolar da trama, como o fio de Ariadne, citado no livro, Saramago nos conduz ao mais íntimo da alma do personagem. Com sua narrativa singular, sem paragrafos, como um novelo que se desenrola, mas não desata, ele nos prende até o fim. A procura de Senhor José é como os corredores do Registro Civil: um labirinto de informações, onde é fácil se perder. Haverá surpresas na busca lembrando que a vida é feita delas. Caberá ao leitor descobri-las.


Todos os Nomes
Companhia das Letras

sábado, 19 de janeiro de 2013

Livro 19: Um livro por dia (Jeremy Mercer)




Quem de nós, aficionados por livros nunca se imaginou, ainda que de forma utópica, morando em uma livraria, podendo repousar em meio a diálogos imaginários com Faulkner, Hemingway ou Fitzgerald?

Fantasias à parte, foi exatamente o que o jornalista canadense Jeremy Mercer fez quando, após uma insólita perseguição em seu país, acabou indo parar, de mala e cuia e quase sem dinheiro, nas portas da famosa livraria Shakespeare & Company, em Paris.
Era janeiro de 2000, na virada do segundo milênio quando o acaso o colocou frente a frente com o proprietário, George Whitman, um norte-americano excêntrico e sonhador, na época quase octogenário. A aventura foi transformada em livro publicado pela Casa da Palavra.
Em "Um livro por dia – Minha temporada parisiense na Shakespeare & Company" Jeremy Mercer conta como se tornou um dos milhares de escritores e aspirantes acolhidos por George naquela que este mesmo definia como "uma utopia socialista em forma de livraria". A pitoresca Shakespeare & Company foi inspirada na livraria homônima, de propriedade de Sylvia Beach, famosa por ter sido ponto de encontro dos escritores da "geração perdida". Sylvia encerrou suas atividades em 1941, sob pressão do nazismo e 10 anos depois, num prédio do século XVIII, George inaugurou seu próprio empreendimento. O local, que atrai turistas e amantes da literatura do mundo inteiro, ainda hoje serve de abrigo temporário para "almas perdidas e escritores necessitados", que contam com um local para dormir e refeições frugais, desde que cumpram uma inusitada missão: estando sob o teto de George, devem ali escrever uma obra e - sabe-se lá como -ler um livro por dia.

Com habilidade jornalística, Mercer nos conduz pelo labirinto de cômodos em três andares abarrotados de livros no idioma inglês. "Havia livros por toda parte. Eles pendiam de estantes da madeira, escorregavam de caixas de papelão, equilibravam-se em pilhas altas sobre mesas e cadeiras."
Durante a estadia de quatro meses, o autor convive com todo tipo de intelectual, incluindo aí o próprio George, um romântico de ideias comunistas que comandava de forma caótica o dia a dia da livraria. Torna-se amigo de Kurt, um jovem norte-americano que, sem conseguir vender seu primeiro roteiro de filme, tenta agora transformá-lo em romance. E partilha de momentos impagáveis com Simon, um enigmático poeta inglês, ex-alcoólatra e usuário de haxixe que se recusa a deixar o local, mesmo após cinco anos de hospedagem.
A aventura na Shakespeare & Company no ano em que completa 29 anos torna-se um rito de passagem para o jornalista, que lá enfrentará situações inusitadas, em condições adversas, podendo, em contrapartida, viver num ambiente altamente inspirador.
Sobrevivendo às excentricidades de George e seus estranhos hóspedes, Jeremy Mercer descobre na temporada uma experiência altamente enriquecedora. Ao fim de alguns meses, tendo alugado seu próprio apartamento, ele encontra um jeito de retribuir a hospitalidade do amigo, usando para isso seu talento no jornalismo investigativo.
"Um livro por dia" sugere ser, à primeira vista, uma obra sobre o amor aos livros. Também pode parecer - e é - a história da Shakespeare & Company e de seu fundador, o intrigante George Whitman. Mas no fim, acaba se revelando um livro sobre encontros e o que eles podem provocar na vida de uma pessoa.


Um livro por dia
2011
Casa da Palavra


Quando li: 2011
Como adquiri: emprestado pelo meu irmão jornalista para que fizesse uma resenha no Caderno Pensar do jornal A Gazeta de Vitória-ES.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Livro 18: Mensagem de uma mãe chinesa desconhecida (Xinram)

Imagine-se, fazendo uma visita a uma família camponesa na região pobre da China, no momento em que uma das mulheres está em trabalho de parto. Pouco depois do choro da criança, você ouve vozes abafadas de adultos, aborrecidos e desapontados. E logo mais, vislumbra, pela porta do cômodo, entreaberta, o pé do bebezinho movendo-se, fracamente, na borda de uma bacia de água suja.

Essa é uma das dramáticas experiências vividas e descritas pela escritora, jornalista e radialista chinesa, Xinram, no comovente livro “Mensagem de uma mãe chinesa desconhecida”, lançado recentemente pela Companhia das Letras. Trata-se de um apanhado de histórias verídicas recolhidas pela autora, conhecida por sua atuação em favor de causas femininas em seu país. Ela começou a colher esses relatos em 1989, quando apresentava o programa de rádio “Palavras na brisa noturna”, depois que uma ouvinte, que se autointitulava Waiter, escreveu contando sua história. Anos depois decidiu reunir em um livro depoimentos semelhantes de mães que, pressionadas pela política do filho único se viram obrigadas a abandonar suas menininhas.
Para ela, o motivo para que haja tantas crianças chinesas adotadas no mundo inteiro – em 2007, eram 120 mil – é um misto de ignorância sexual, explosão demográfica e a política do filho único.
Embora necessidade premente para controle populacional na China, o planejamento familiar, associado a uma cultura que acredita ser dever sagrado produzir um herdeiro homem, acabou gerando resultados catastróficos.
Dando voz a 10 entre milhares de mulheres que passaram pelo trauma de abrir mão de suas filhas, a autora busca fazer com que esses relatos possam chegar aos ouvidos das meninas chinesas adotadas no ocidente, como uma resposta à pergunta que deve obscurecer sua existência:
Por que a minha mãe chinesa não me quis?
Ao leitor, é bom que se alerte –são histórias comoventes, assustadoras e revoltantes. Impossível lê-las, sem um sentimento de angústia e indignação. Sem pausas para recuperar o fôlego ou deixar escapar uma lágrima ao pensar em tantas milhares de vidas desperdiçadas. Crianças abandonadas por seus pais em estações de metrôs, postos e orfanatos, entregues à própria sorte.
Eles queriam que eu deixasse minha filha num orfanato – e passaram três dias e duas noites fazendo a minha cabeça com um misto de ameças e persuasão Eu segurava meu bebê nos braços, chorava, me ajoelhava e implorava para que não me forçassem a abandoná-la.” 
Segundo Xinram, tanto quanto dar voz às mães que ficaram órfãs de suas próprias filhas, este livro busca preencher uma lacuna do coração das meninas adotadas.
Há um vazio que nunca pode ser preenchido, há uma dor sentida, biológica, pela família adotiva no Ocidente e pela filha, que vai passar o resto da sua vida num abraço duplo – porque a vida que ela vive é produto de uma grande alegria, mas também de uma grande tristeza.”


Mensagem de uma mãe chinesa desconhecida
Xinram
2011

Quando li: 2011
Como adquiri: meu irmão jornalista e editor no jornal A Gazeta pediu-me que fizesse uma resenha do livro, que foi publicada no Caderno Pensar de A Gazeta.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Livro 17: O Anjo Pornografico. Vida de Nelson Rodrigues (Ruy Castro)

Como disse o autor logo na introdução, não há jeito de contar a história do escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues e de sua família, a não ser em forma de romance. Com lances trágicos e rocambolescos, sua vida consegue superar até mesmo a ficção que ele levou para os livros, com toda crueza e fascínio capazes de existir na vida como ela é.Em "O Anjo Pornogáfico", Ruy Castro preocupa-se, não em analisar criticamente a obra de Nelson Rodrigues, mas as circunstâncias em que ela foi produzida. Ou seja, os bastidores, o cotidiano, o pensamento, as emoções que inspiraram a vida de um dos nossos mais famosos - e polêmicos - escritores e dramaturgos.
Para Ruy Castro, Nelson era mais que um homem de teatro. Se houve um palco principal em sua vida, seriam as instalações do jornal. Ou até mesmo as ruas - especificamente do Rio de Janeiro dos anos 40, 50, 60.
Ninguém melhor do que ele para retratar o dia a dia comum de gente comum, com todas as suas imperfeições, obsessões, medos, taras, paixões.
Pagou um preço. Foi chamado de tarado durante anos. E no fm da vida, de reacionário. Foi perseguido pela direita e pela esquerda. Por cristãos e ateus. Porém, seu talento era inquestionável.
Para escrever O anjo pornográfico, Ruy Castro realizou centenas de entrevistas com 125 pessoas que conheceram intimamente Nelson Rodrigues e sua família, cujos dramas mais parecem folhetins. Quinto filho dos 14 de Mário Rodrigues e Maria Esther, Nelson nasceu no Recife. Seu pai, letrado e leitor voraz, conciliava atividades políticas e jornalisticas. Depois de várias incursões na política e em jornais do Recife, acabou indo parar no Correio de Manhã, no Rio de Janeiro, para onde sua esposa o seguiu com uma escadinha de filhos.
Nelson começou a frequentar a escola e aprendeu a ler "quase de estalo". Mas o que chamava a atenção sobre sua figura era "sua cabeça enorme, desporporcional ao tronco." Aos oito anos, no segundo ano primário, a professora quase deixou cair os óculos ao ler a redação do menino: um caso de adultério onde o marido chega em casa e encontra a esposa nua na cama e um vulto saindo pela janela.
Essa temática estaria presente em toda a obra de Nelson. Mas antes disso, ele passaria anos trabalhando em jornais. Primeiro, os do seu pai, A Manhã (tinha apenas 13 anos e meio) e Crítica, onde também teriam cargos seus irmãos Mário Filho, Milton e Roberto. E posteriormente, em O Globo, de Roberto Marinho.  Ainda em A Manhã, Nelson em pouco tempo tornou-se editorialista, ao lado de Monteiro Lobato e Agripino Grieco.Tinha 16 anos.
Em 1928 seu pai começa outro projeto - Crítica, um jornal de editorial ainda mais agressivo, cujo lema era "Declaramos guerra de morte aos ladrões do povo". O forte eram as fotos dos políticos com as cabeças distorcidas. Mas como o jornal tinha uma tendência de dar ênfase tanto a fatos políticos, quanto ocorrências criminais, um dia uma matéria excedeu no tema e, ao comentar um caso de desquite, tornou-se palco de um assassinato. No dia 27 de dezembro,  a jovem Sylvia Seraphim adentrou a redação do jornal procurando por Mário Rodrigues ou qualquer um de seus filhos. Ao ser atendida por Roberto, desferiu um tiro em seu abdômen que alojou-se em sua coluna. Ele morreu dias depois, deixando a familia desolada. Foi a primeira grande tragédia da vida de Nelson Rodrigues. 67 dias depois, seu pai Mário Rodrigues, que jamais se recuperara do golpe, morre de derrame.
Esses dois acontecimentos dão o tom do que seria a vida de Nelson dali para a frente. Para se recuperarem do baque financeiro, Mário Filho e Nelson vão trabalhar no jornal O Globo, de Roberto Marinho. Nelson contrairia uma tuberculose que o acompanharia por 15 anos, além de várias outras complicações de saúde. Nos periodos em que se internava em sanatórios para se tratar, nunca deixou de receber seu salário no jornal O Globo.
Entre uma e outra internação, casou-se com a jovem Elza, que conhecera no jornal. Tanto a família dela quanto o próprio Roberto Marinho se opuseram ao casamento. A mãe dela, porque ele era pobre  e "não tinha onde cair morto". Marinho, porque apesar de brilhante, o rapaz era preguiçoso e doente. Não adiantou. Casaram-se secretamente no civil até que família dela concordasse com o casamento religioso.
Trabalhando em dois jornais, Nelson começou a enveredar pelo caminho do teatro. Escreveu A Mulher sem Pecado, que conseguiu boas críticas e em seguida Vestido de Noiva. Essa sim, uma revolução no teatro. Vieram outras grandes obras como Beijo no Asfalto, Boninha mas Ordinária, os Sete Gainhos. Nelson continuaria escrevendo suas célebres colunas em O Globo e Última Hora (de Samuel Wainer). E acabaria se envolvendo com outra mulher, Lúcia. Ao separar-se de Elsa para casar com o novo amor, tinha 49 anos e filhos já adultos. Ele e Lúcia tiveram uma filha, Daniela, que nasceu com um grave problema, cega e condenada a viver sobre uma cama. Mais um entre tantos dramas que permearam a vida do grande autor.
Até o fim da vida, Nelson Rodrigues foi um homem polêmico, que dividia opiniões entre os que o amavam e o odiavam. Na política, foi considerado um reacionário. Na arte, um tarado. Sua obra, porém, não deixa dúvidas sobre  a grandiosidade de seu talento. Mas talvez a melhor definição dele  tenha vindo do próprio Nelson:
"Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico”.


O Anjo Pornográfico.
Ruy Castro
Companhia das Letras
1993
Prêmio Jabuti 1993 de Melhor Capa


Quando li: 1995
Como adquiri: comprado em livraria.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Livro 16: Encontro com a Morte (Agatha Christie)

Uma viúva rica de comportamento excêntrico e tirânico. Uma família oprimida por uma matriarca cruel e sádica. Uma viagem a uma terra exótica. Um detetive brilhante de bigode proporcional ao seu talento investigativo. Um dilema entre o que é certo e o que é justo. Tudo isso reunido, temos em mãos mais um interessante caso de assassinato contado pela mente engenhosa da maior autora policial de todos os tempos. Em Encontro com a Morte, Agatha Christie lança mão de sua capacidade de criar personagens ricos num suspense psicológico que conduzem o leitor a um final sempre surpreendente. Escrito em 1938, o romance se passa em Jerusalém para onde a família Boynton, de origem norte-americana, se dirige para uma curta estadia, ali encontrando outros personages, inclusive o detetive Hercule Poirot.
Mrs Boynton logo chama a atenção de todos por ser uma senhora atarracada, gorda e de tez vermelha, de saúde visivelmente frágil, mas que consegue manter todos os quatro filhos e uma nora a sua volta, sem dar a nenhum deles a chance de se relacionar livemente com outras pessoas. Em uma espécie de hipnose coletiva, eles se submetem às suas vontades, sem reclamar.

São eles: Lennox, casado com Nadine. Carol, Raymond e a mais nova, Jinnie, que graças à pressão psicológica da mãe, já apresenta sinais de doença de fundo nervoso: tem alucinações e mania de perseguição.
 Lennox, embora casado, não consegue se libertar da mãe para viver sua própria vida com a esposa, que se sente infeliz a ponto de ameaçar abandoná-lo.  Carol e Raymond, que são na verdade enteados de Mrs Boynton também se sentem oprimidos pela madrastra e isso fica evidenciado numa frase que Hercule Poirot ouve por acaso numa conversa entre os dois:
"Você entende que ela tem de ser assassinada, não entende?"
O detetive registra em sua memória e fica atento, pois há um prenúncio de crime à espreita.

A situação chama a atenção de outros hóspedes do Hotel, como Sarah, uma médica recém formada que acaba criando um estranho fascínio pelo comportamento da família, especialmente porque se interessa por Raymond. Também estão presentes na história Dr.Gerard, psiquiatra que se interessa pelo comportamento da caçula da família; o senhor Cope, amigo de Nadine, que está apaixonado por ela e duas senhoras inglesas de meia-idade, uma delas detentora de um alto cargo político.
De Jerusalém, todos os personagens partem rumo à Petra numa excursão particular, onde acontece o "encontro com a morte" . Sabemos que uma pessoa morreu e provavelmente foi assassinada. Resta saber quem cometeu o crime e por quê. Como em todos os livros em que aparece, sob comando da mente astuciosa de sua criadora, Hercule Poirot brilhará mais uma vez.

"Carol levantou-se de repente, puxando para trás o cabelo castanho que caía na testa.
– Ray – disse –, você não acha errado mesmo, não é? Ray respondeu naquele mesmo tom aparentemente imparcial.
– Não. A meu ver, é como matar um cão raivoso...algo que prejudica o mundo e precisa ser eliminado. É a única forma de acabar com isso."




Encontro com a morte
Agatha Christie
1938


Quando li: 2010
Como adquiri: comprei exemplar novo, de bolso. Tenho um projeto de ler todos os livros da Agatha Christie.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Livro 15: A Pata da Gazela (José de Alencar)

“ O leão deixou que lhe cerceassem as garras;
foi esmagado pela pata da gazela.”

Romance de José de Alencar, publicado em 1870, baseia-se no conto "A Cinderela" e na fábula do leão amoroso de La Fontaine.



Nessa trama romântica que envolve uma moça e dois rapazes da sociedade carioca do século XIX, o autor analisa o comportamento humano, fazendo uma comparação entre o amor genuíno e o amor superficial, que vive de aparências. Mas o ponto marcante do livro é a utilização de um tema que causou polêmica na época: o fetichismo por pés.

Na história, um jovem e sedutor (Horácio) encontra um pé de botina de pelica tamanho 29, caído na calçada. Outro jovem, Leopoldo, está presente na cena, mas o que ele vê é uma linda jovem numa carruagem, Amélia, junto com a prima Laura. Ele fica imediatamente encantado pela primeira.
Acreditando ser Amélia a dona do sapatinho - e portanto, dos pés delicados - Horácio fica encantado pela moça e tudo faz para se apoximar dela. Já Leopoldo, que também se interessara pela moça,ao vê-la um dia entrando no coche, supõe ter visto um de seus pés, constatando ser o mesmo deformado. Apesar de decepcionado, o amor que sente pela jovem o faz superar a repulsa.
Em uma situaçao antagônica, Amélia vê-se cortejada pelos dois rapazes: um (Horácio) a cultua por imaginar que ela tenha pés delicados e pequenos (que ela esconde das vistas de todos) e o outro (Leopoldo) a ama devotadamente, embora julgue que ela tenha pés aleijados.
Horácio, o jovem fútil e fetichista chega a pedir a moça em casamento, apenas para ter o prazer de ter para si a dona dos pezinhos de gazela. Amélia pede um tempo para pensar e quando toma conhecimento da superficialidade do amor do jovem, arma um plano para colocar esse sentimento à prova. Com isso, Horácio acabará esmagado pela Pata da Gazela, deixando caminho livre para o gentil Leopoldo, cujo amor era sincero e altruísta.
Em tempo, caberá ao leitor descobrir: - Será Amélia a dona da botina de pelica perdida no começo do romance?

A Pata da Gazela
José de Alencar
1870

Quando li: 2009
Como adquiri: sebo. Eu queria ler mais sobre José de Alencar. 

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Livro 14: O Vermelho e o Negro (Stendhal)

"Uma efêmera nasce às nove horas de um lindo dia de verão para morrer às cinco horas da tarde; como haveria ela de compreender a palavra noite ?"

Em O Vermelho e o Negro, Stendhal conta a história de Julien Sorel, um autentico anti-herói, descrevendo suas lutas, embates, vitórias e derrotas, alegrias e dores, como convém a qualquer ser humano, com defeitos (muitos) e qualidades (algumas).

Filho de camponês e renegado pela família (seu pai achava que ele não servia para nada), Julien tinha inteligência acima da média e memória excepcional. Estudava Teologia (chegara a decorar a biblia em latim) e trocava qualquer trabalho no campo pela leitura de um clássico. Jovem de extrema beleza e marcante palidez, tinha grande poder de sedução, e embora de origem humilde, era ambicioso e sabia exercer suas qualidades para conseguir o que quisesse.
Julien sabe que sendo pobre, só tem dois caminhos para a ascensão social - a farda militar (o vermelho) ou a batina (o negro). E aproveita bem as chances que lhe chegam às mãos. Convidado pelo Senhor de Rênal para ser preceptor de seus filhos, desempenha sua função com competência, dividindo o tempo entre as aulas às crianças e um tórrido caso amoroso com a esposa do patrão.Enquanto vive com os Rênal, procura habituar-se aos costumes da corte, aprendendo o manejo social. Porém, mesmo ascendendo, Sorel continuava a ser um pobre entre os ricos
Nesse romance psicológico, que serve de pano de fundo para que Stendhal descreva e teça críticas à sociedade francesa no período que antecede a Revolução Francesa, acompanhamos e nos envolvemos com os dramas e alegrias de um personagem onde nenhum gesto ou palavra é gratuita. Ao envolver-se amorosamente com a Senhora de Rênal, Julien inicialmente vê no romance um desafio a ser atingido, como uma batalha a vencer, porém, acaba se apaixonando verdadeiramente pela jovem senhora. Quando o romance é rompido, devido a uma carta anônima, Julien parte para o seminário e mais tarde envolve-se com Mathilde de la Mole, uma jovem da corte, com quem anseia casar-se.
"Não, ou estou louco ou ela me faz a corte; quanto mais me mostro frio e respeitoso com ela, mais me procura. Isso poderia ser uma parcialidade, uma afetação;mas vejo seus olhos se animarem quando apareço de improviso. Saberão as mulheres de Paris fingir a tal ponto?"
No entanto, é a Senhora de Rênal que será crucial em seu destino.
Numa leitura atenta de O Vermelho e o Negro, percebe-se o quanto de humanidade existe na figura de Julien Sorel. Jovem, ambicioso, autêntico em seus desejos, extremamente sedutor, traiçoeiro em suas ações, porém honesto em suas verdades, é sarcástico, arrogante, mas também se deixa levar por paixões, vive o céu e o inferno ao longo das 489 páginas do romance. Anti-herói por excelência, não é de todo mau, contudo seguramente não tem nada de bondade.
Ao longo dos capítulos sofremos por Julien, torcemos por ele, amamos e odiamos sua figura, até o desfecho sensacional do livro.

O Vermelho e o Negro
Stendhal

Quando li: 2006
Como adquiri: comprei. Faz parte da minha lista de clássicos que não podem deixar de ser lidos.

domingo, 13 de janeiro de 2013

LIvro 13: Feliz Ano Velho (Marcelo Rubens Paiva)


Livro que marcou toda uma geração de leitores e tornou-se referência na literatura brasileira contemporânea, "Feliz Ano Velho" é uma obra autobiográfica que lançou Marcelo Rubens Paiva no meio literário. Nele, o autor conta, em linguagem jovial e desassombrada sua vida antes e depois do acidente que o deixou  tetraplégico, a poucos dias do Natal de 1979.
Até então ele era apenas um rapaz de  classe média alta, estudante de  Engenharia, músico e cheio de namoradas, quando sua vida se transforma, em questão de segundos. Resultado de um mergulho num lago raso, fraturou a quinta vértebra cervical e comprimiu a medula, comprometendo irremediavelmente os movimentos.
Através de um personagem chamado Mário, Marcelo narra seus dias no hospital, as visitas que recebeu e as histórias que  viveu, sob a perspectiva de um jovem que sempre fez tudo o que queria, e agora, sentado em uma cadeira de rodas, vê-se dependendo da ajuda de amigos e familiares para reaprender a viver.
Em 12 meses de lenta e dolorosa recuperação  - UTI, colete de ferro, cadeira de rodas-, há momentos em que ele chega a pensar em suicídio.  Em flash-back, faz uma revisão de sua curta e até então tranquila vida, sem deixar de tocar na primeira grande perda que sofrera aos 11 anos, quando seu pai , o deputado Rubens Paiva "desaparecera" num desses acontecimentos nebulosos e inexplicáveis tão comuns nos gélidos tempos da Ditadura. Embora fosse uma obra jovial e bem-humorada, o livro de Marcelo já prenuncia um escritor maduro em gestação, pois provoca questionamentos e lança uma nova luz sobre os "desaparecidos" da Ditadura. Lembrem-se, é uma obra publicada poucos anos depois da anistia.
Na reflexao de sua nova situação, em meio a lembranças alegres e tristes, nada mais resta a Marcelo do que desejar a si mesmo um Feliz Ano Velho,  pois o novo, ainda é incerto.
Mais do que um livro sobre acidente, perda e fim, Feliz Ano Velho é  um livro sobre recomeço, aceitação e fé.

Feliz Ano Velho.
Marcelo Rubens Paiva.
1982.

Quando li: 1983
Como adquiri: emprestado de uma amiga de faculdade.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Livro 12: Iaiá Garcia (Machado de Assis)




Romance, intriga, paixão, renúncia. Os sentimentos mais variados da alma humana e detalhada descrição psicológica dos personagens são traços sempre presentes no texto de Machado de Assis, o bruxo do Cosme Velho.
Em "Iaiá Garcia" todos esses ingredientes estão reunidos numa obra despretensiosa, mas envolvente que narra a vida de uma família no Rio de Janeiro do século XIX.
Iaiá Garcia, personagem que dá nome ao romance é filha de Luís Garcia, um viúvo e funcionário público, que nela concentra todos os seus afetos. "Era alta, delgada, travessa; possuía os movimentos súbitos e incoerentes da andorinha. A boca desabrochava facilmente em riso, — um riso que ainda não toldavam as dissimulações da vida, nem ensurdeciam as ironias de outra idade". Já seu pai, Luís Garcia era  taciturno e retraído. "Não fazia nem recebia visitas. A casa era de poucos amigos; havia lá dentro a melancolia da solidão". Desinteressado de refazer sua vida ao lado de outra mulher, Luis Garcia dedica toda a sua atenção à menina. Quando a história principia, ele está com quarenta e um anos, e ela com onze, estudando em colégio interno, retornando ao convivío do pai abnegado todos os fins de semana, trazida pelas mãos de seu fiel criado. "Se o jardim era a parte mais alegre da casa, o domingo era o dia mais festivo da semana. No sábado, à tarde acabado o jantar, descia Raimundo até a Rua dos Arcos, a buscar a sinhá-moça, que estava sendo educada em um colégio".
A vida seguia sem surpresas quando Garcia recebe da amiga Valéria Gomes, uma  opulenta senhora, viúva de um desembargador honorário, o pedido de  ajuda na resolução de um problema familiar: seu filho Jorge estava apaixonado pela filha de um ex-empregado de seu falecido pai, Estela, que vivia na mesma casa.
Para afastá-lo da moça, por não julgá-la digna de sua posição social, a mãe força o rapaz a alistar-se como voluntário na Guerra do Paraguai, pedindo a Garcia para ajudar a convencê-lo. — Se for para a guerra, poderá voltar coronel, tomar gosto às armas, segui-las e honrar assim o nome de seu pai.
Durante a Guerra, o jovem encontra em Luis Garcia um confidente, para o qual dirige várias cartas falando do amor que sentia pela moça anônima. Os anos passam e o acaso faz com que a menina Iaiá Garcia, filha de Luis conheça Estela e fique sua amiga, o que a aproxima da familia de tal forma que, com o tempo, ela e Luís acabem decidindo pelo matrimônio.
Fica claro que Estela não esquecera Jorge nem este deixara de pensar nela, mas o destino e a intervenção da viúva Valéria acabara destruindo as últimas esperanças desse amor.
Quando Jorge volta da guerra, sua mãe ja é falecida e é grande sua surpresa ao encontrar o velho amigo Luís Garcia, casado com seu antigo amor. Em meio a esse desencontro, a menina Iaiá agora tornara-se uma bela jovem e será a vez dela viver as incertezas e alegrias da primeira paixão.
Iaiá Garcia
Machado de Assis
1878

Quando li: 2009
Como adquiri: em sebo. Foi numa fase em que me propus a ler todos os livros do Machado.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Livro 11: A mulher que escreveu a bíblia (Moacyr Scliar)



Em The Book of J,  Harold Bloom levanta a tese de que a primeira versão da Bíblia hebraica teria sido escrita por uma mulher, na segunda metade do século X a.C.
Moacyr Scliar desenvolve sua própra versão em cima desta hipótese, nesse romance curioso e bem-humorado.
´Depois de sofrer uma desilusão amorosa, uma mulher submete-se, por meio de um ex-historiador charlatão, a uma "terapia de vidas passadas" e após longas sessões, descobre ter sido uma antiga cidadã de Canaã, filha de um pastor de cabras, no século X a.C . Por sinal uma mulher feíssima, mas intelectualmente brilhante, que acaba se tornando uma das 700 esposas do Rei Salomão.
Em um manuscrito deixado para o  "terapeuta", ela reconstitui essa vida passada, contando ter sido a  única letrada entre as esposas de Salomão, tendo recebido deste a tarefa de escrever a história da humanidade e do povo judeu,  missão a que uma junta de escribas se dedicava  há anos sem sucesso.
[...] Não quero ser lembrado por ruínas. Quero ser lembrado por algo que dure para sempre. Sabes o quê?
Fez uma pausa, olhou-me, e anunciou, solene:
— Um livro. Um livro que conte a história da humanidade, de nosso povo. Um livro que seja a base da civilização.

A mulher que escreveu a Bíblia é o relato em primeira pessoa da trajetória dessa personagem anônima. Nele ela revela que se apaixonou pelo rei Salomão e conseguiu, depois de algumas tentativas frustradas, consumar o casamento e também concretizar a missão  de escrever uma  versão da Bíblia que, infelizmente, acaba se perdendo num incêndio de origem duvidosa em seus aposentos.
Com uma escrita que  combina linguagem erudita com palavras de baixo calão, sempre com uma boa dose de inteligência e sarcasmo, ela apresentará novas e irreverentes versões sobre episódios bíblicos, como o das duas mulheres que recorreram a Salomão na disputa por um bebê ou o encontro do Rei com a bela Rainha de Sabá. Último romance escrito por Moacyr Scliar e lançado no final de 1999, A mulher que escreveu a Bíblia ganhou o Prêmio Jabuti 2000.

Quando li: 2007
Como consegui o livro: comprei por indicação de site.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Livro 10: 24 horas na vida de uma mulher (Stefan Sweig)

Romance que tem quase a extensão de um conto, "24 horas na vida de uma mulher" é um livro que se lê de um só fôlego, tamanha é a capacidade do autor, Stefan Sweig, austríaco radicado no Brasil, de nos envolver com uma combinação de narrativa ágil, trama engenhosa e um estilo literário fascinante.
Começa numa pensão familiar, na Côte D´Azur,
sul da França, no início do século XX, quando
a esposa de um dos hóspedes, Madame Henriette escandaliza a todos ao abandonar o marido para fugir com um homem que estivera hospedado no local por apenas uma noite.


"De repente o homem largo e pesadão desceu os degraus que gemiam, com o rosto totalmente mudado, cansado e mesmo assim furioso. Tinha uma carta na mão.
– Chame todo mundo de volta! – disse ao chefe dos funcionários, com voz quase irreconhecível. – Chame todo mundo de volta, não é mais necessário procurar. Minha mulher me abandonou."
Depois desse episodio, uma senhora inglesa de meia-idade procura o narrador para lhe contar uma historia muito parecida, acontecida duas décadas atrás, na qual ela fora a protagonista. Após a morte do marido, ela fizera uma viagem pela Europa para escapar à solidão e um dia, em Monte Carlo, ficara enfeitiçada por um jovem rapaz agarrado ao vício do jogo. Este encontro mudará sua sua vida para sempre. Em 24 horas ela experimentará os sentimentos mais contraditórios, como compaixão, fascínio, paixão, obsessão e desespero. Em principio ela ficará penalizada com o jovem que, perdendo tudo no jogo, tenciona matar-se naquela mesma noite. Ela tudo fará para impedi-lo, começando por pagar para ele uma hospedagem em um quarto de hotel . Num ato impensado ela atende o pedido do jovem de que não o deixe sozinho. E sucumbe ao desejo, vivendo com ele uma noite de amor.
"Poupe-me dizer-lhe o que aconteceu naquele quarto naquela noite; eu prória não esqueci um segundo de nada, nem quero esquecer. Pois naquela noite lutei com uma pessoa pela sua vida,e repito: foi uma luta de vida e de morte. Senti em cada nervo, sem nenhuma dúvida, que aquele estranho, aquele já semimorto, se apegava ainda uma vez à vida com a avidez e a paixão de um ameaçado de morte. "
Em 107 páginas, escritas sob o signo da paixão, seremos testemunhas dessas 24 horas na vida de uma mulher, nas quais ela reencontrara o prazer de viver, enlouquecerá de paixão e finalmente recuperará a sanidade, diante do duro golpe que lhe reserva o destino.

24 horas na vida de uma mulher
Stefan Zweig

Quando li: 2010
Como: meu marido trouxe da casa da mãe dele, havia lido numa tarde e eu fiz o mesmo.