segunda-feira, 8 de abril de 2013

Livro 99: A Sangue Frio (Truman Capote)

A grande obra-prima do escritor norte-americano, Truman Capote, A Sangue Frio, do original In Cold Blood,  publicado em 1966, relata o verídico e brutal assassinato de uma família na pequena e pacata cidade de Holcomb, no oeste do estado do Kansas, EUA.  O crime, ocorrido em 15 de novembro de 1959, causou uma grande comoção popular, quando Herb Clutter, de 48 anos, sua esposa  Bonnie Clutter,  três anos mais nova e os filhos adolescentes, Kenyon e Nancy foram encontrados amarrados e mortos a tiros de espingarda. Da casa, nada fora levado, a não ser um rádio, um par de binóculos e 40 dólares. 
O cenário de horrores deixado pelos criminosos, desproporcional ao produto do roubo, deixa a polícia intrigada e a população revoltada. O que levaria alguém a cometer uma barbárie desse nível? É o que o escritor Truman Capote se propõe a descobrir quando decide reconstituir o crime, entrevistando os personagens ligados diretamente à tragédia: os policiais, os amigos da família e os dois jovens capturados poucos meses depois do crime, Richard Hickock e Perry Smith. 
Autor do best seller Breakfast at Tiffany’s, que em português ganhou o título Bonequinha de luxo e rendeu uma produção de cinema homônima, Truman Capote mudou-se para Holcomb, no  Kansas, um mês após o crime. Entrevistou familiares das vítimas e dos assassinos, recolheu documentos oficiais, leu cartas e diários. Com as informações coletadas, o autor escreveu a obra que se tornou  a primeira do New Journalism, mostrando que o jornalismo e a literatura podem caminhar juntos. Humanizando os personagens da tragédia, tantos as vítimas quanto os criminosos, reconstitui o crime e suas razões (ou falta de) inaugurando assim, um novo gênero literário: a não ficção.
Com base  no relato dos acusados e da polícia, Capote descreve minuciosamente os momentos que antecedem e sucedem o assassinato, bem como a reação dos moradores da cidade, a investigação policial e os passos dos criminosos durante a fuga.  Narrando a trajetória da família e dos assassinos, seu objetivo é tentar entender o que ocasionou o crime, resposta que fica em aberto pois nem mesmo os criminosos sabem a razão dos seus atos. 
Em certo trecho do livro, o autor insere uma análise da mente de um dos criminosos, Perry, feita por um psiquiatra. Nele, somos informados que “ao atacar o Sr. Clutter, Smith estava em eclipse mental, dentro de uma profunda escuridão esquizofrênica, pois não era um homem de carne e osso que “se descobrira subitamente destruindo”, mas uma “figura-chave em alguma configuração dramática em seu passado.” Perry admite que não queria fazer mal àquela família: “Não foi nada que os Clutter tivessem feito. Nunca me fizeram nada. Como os outros fizeram (...). Vai ver os Clutter é que tinham que pagar por tudo.”
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Presos e condenados  à morte, Richard Hickock e Perry Smith têm a oportunidade de falar a Capote, que acompanha atentamente o desenrolar dos acontecimentos desde a prisão até a data da  execução, em  14 de abril de 1965. A convivência próxima  com os assassinos, suscitou rumores de que o autor, homossexual assumido, desenvolvera uma ligação  quase amorosa com um deles, Perry, e ficara muito abalado após sua morte. Uma relação tão intensa que quase se percebe que os dois jovens se apoiam no jornalista, esperançosos de ter sua sorte mudada, o que não ocorre. Embora parecendo explorar o drama dos jovens em favor da criação daquela que seria sua obra-prima, Capote em um gesto profundamente humanitário, esteve presente na execução.  
Mesmo já sabendo o desfecho, visto que a história começa a partir do fim, o livro pega o leitor a laço e o leva a  acompanhar avidamente o desenrolar da história, dada a maestria com que o autor registrou cada parágrafo. Embora retrate um assassinato consegue imprimir humanidade inclusive aos assassinos. O texto de Capote é conciso, quase frio, jornalístico, mas a forma isenta com que descreve a família e os criminosos, a sinceridade da escrita é que torna o livro ainda mais perturbador. Afinal, não se trata de uma ficção. É vida real, com todas as suas cores e horrores.




Em 2005, o filme Capote, com Philip Seymour Hoffman (Vencedor do Oscar de melhor ator pela interpretação de Truman Capote) conta o desenvolvimento do livro como foco principal do filme. Outro filme sobre o tema, Confidential, retrata a mesma história, carregando ainda mais nas cores na análise da personalidade de Capote e sua relação com os criminosos.

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