quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Livro 59: Amok (Stefan Zweig)


O escritor austríaco judeu Stefan Zweig, que durante o nazismo perdeu a nacionalidade e se exilou  em vários países até chegar ao Brasil, onde cometeu o suicídio em 1942, é conhecido por seu estilo - narrativas concisas, econômicas sem perder contudo  o tom dramático, passional, quase cinematográfico. Não por acaso é um dos autores que teve mais obras transformadas em filme – Carta para uma desconhecida, 24 horas na vida de uma mulher etc. 
É justamente essa característica que sobressai no pequeno livro Amok, publicado em 1922.
Basta dizer que a expressão Amok, que dá nome ao livro, descreve um estado de loucura, torpor, paixão súbita que acomete uma pessoa repentinamente levando-a a atos impensados, desesperados a ponto de se cometer um ato criminoso, contra si ou contra outra pessoa. 

Logo o leitor será transportado para dentro da história narrada por um médico a outrem, a bordo de um navio em alto mar. Ele revela ao passageiro, em tom confessional,  os acontecimentos que precederam a viagem e que haviam mudado sua vida para sempre. 
A narrativa,  que começa relutante, adquire tons negros e assustadores, seguindo num crescendo em que as cenas tomam vida diante dos olhos do leitor, que adentra a história como se a presenciasse, in loco, ou no mínimo, numa sala de cinema.

Trabalhando num vilarejo pobre na Malásia, o médico ocidental recebera a visita de uma jovem inglesa rica e casada(a primeira mulher branca em anos) com um pedido inusitado. A narrativa de Zweig sutilmente revela sem revelar os apuros em que ela se metera. Só o médico podia ajuda-la a salvar seu casamento, por conta de uma gravidez indesejada. Dá-se um jogo entre ela e o médico, onde ele, arrebatado por um sentimento inexplicável (fascínio? Paixão?loucura) toma uma atitude inesperada e fora do convencional.Dá a entender à mulher que para atender o seu pedido, deseja outra coisa que não dinheiro. Quando esta se retira ofendida, ele se arrepende amargamente e desde então é tomado por um sentimento de obsessão.Seguem-se capítulos de emoção, desespero, ânsia e quase loucura. O médico acabará irremediavelmente marcado para sempre. 
Nessa curta história temos contato com Stefan Zweig em seu melhor estilo: um drama psicológico, relações interepessoais dramáticas, segredos a se revelar, culpa, paixão e loucura. O ser humano em conflito com o mundo e consigo mesmo e por fim, uma reflexão sobre a morte.
A leitura de Amok nos arrebata de uma forma que ao chegarmos ao final nos encontramos  sem fôlego, sem ar, completamente atônitos diante da profundidade da obra de Zweig. Raros autores consegue transmitir tão intensamente o que se passa no âmago, no coração e na alma de um personagem. Li Amok como se fosse o filme e nas páginas finais tive a sensação de quem fica estático diante da tela, sem conseguir levantar da cadeira, enquanto sobem os créditos. The End.





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