terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Livro 50: Negócio Fracassado e Outras Histórias de Humor (Anton Tcheckhov)


Considerado o mais atemporal e universal autor da terra de Tchaikovsky, Anton Tchékhov inseriu seu nome entre os maiores da literatura mundial de todos os tempos. E o fez de forma desassombrada, até mesmo modesta. A julgar pelos seus textos escrever, para ele, era tão natural e necessário quanto respirar.

Filho de família pobre, começou a vida adulta como médico – por sinal, muito caridoso e solidário – e logo foi arrebatado pelo talento literário. Durante muito tempo, atendia durante o dia e escrevia à noite. Logo, estaria vivendo de literatura e, juntamente com Dostoiévski, Tolstoi e Gogol , mudou a forma de contar histórias na Rússia da época.
Com sua escrita sincera e afiada, Tchékhov passeava com naturalidade entre os contos e as peças teatrais, destacando-se nos dois gêneros. Fazendo da miséria humana seu principal tema, interpretou como ninguém os sentimentos dos menos favorecidos, descrevendo situações familiares a qualquer pessoa. Seja na Rússia do século XIX ou no Brasil dos dias de hoje.
Brilhante contador de histórias, seu texto era direto, conciso e sem grandes rebuscamentos. Dizia que “quanto mais objetivo, tanto mais forte” e que “a concisão é irmã do talento”.
O livro “Negócio Fracassado e Outros Contos de Humor” é uma boa amostra do tão decantado estilo Tchekhoviano. São 38 contos que formam uma paisagem viva da Rússia da época (1882 a 1887). A cada conto, desfilam personagens variados com histórias tão comoventes quanto hilárias. Merecem sua narrativa os amores não (ou mal) correspondidos, o desejo de ascensão social, a lentidão do serviço público, a corrupção, o casamento por interesse, a ganância, a mediocridade desesperada,  a espantosa idiotia humana.

Em “Uma história terrível” um homem ao chegar em casa, se depara com um caixão “para uma pessoa de estatura mediana" que "a julgar pela cor, destinava-se a uma moça jovem” Além do pavor que a visão desperta, surge um diálogo interior e um duelo com o próprio pânico que ele dividirá com o leitor. “Não me espantaria se o teto tivesse caído, o chão tivesse afundado ou as paredes tivessem desmoronado. Mas como poderia ter surgido no meu quarto um caixão?” Cabe a nós acompanhá-lo nessa divagação.

Em “A Veranista”, Liôlia, "uma loura bonitinha de vinte anos" compara seu passado de estudante com a vida ao lado do  marido "bonito, jovem e formado, respeitado por todos, porém tosco, não lapidado e absurdo como quarenta mil de seus semelhantes, igualmente absurdos”. "Sobre o que ele pensa, Liôlia não consegue saber. O que ela sabe é que, depois de pensar durante duas horas, ele não fica nem um pouquinho mais inteligente e continua a dizer disparates".

Em “A Visita”, acompanhamos o desespero de Zeltérski, que vê a madrugada adentrar sem que sua visita se dê conta de que é hora de partir. “Desde que chegara, logo após o almoço, ele se sentara no divã e não havia se levantado nem uma vez, como se estivesse grudado ali.” Ele tentará de tudo para conseguir seu intento, enquanto a visita indesejável ali permanecerá, impassível. É provável que você tenha ficado curioso em saber o fim dessa e das outras histórias. Fique à vontade, porque a leitura vale a pena.


Viveu pouco, Tchékhov, morreu aos 44 anos e nunca acreditou muito no próprio talento. Achava que após sua morte, em sete anos, ninguém mais se lembraria dele. 150 anos depois, é reverenciado por sua contribuição à literatura mundial e nunca se falou tanto em sua obra. Nem em um conto de sua autoria, ele teria imaginado um desfecho igual.

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