sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Livro 53: Livro Sobre Nada (Manoel de Barros)

Para se ler um poema de Manoel de Barros é preciso respirar fundo, pausar pra refletir, saborear as palavras, repetir os versos, reconhecendo-os, percebendo seu cheiro, textura, cor. Transmutar verbos, refazer a lógica, dar novo nome às coisas, aos sentimentos.  O que se presume ao ler um de seus poemas é que ele não apenas escreve: ele vive a poesia.
Buscando escrever feito menino, o autor acaba fazendo versos grandiosos, eloquentes na simplicidade. Para ele, cada pequeno detalhe de um lugar desimportante é uma preciosidade, é material para verso. Nada se desperdiça. Uma nuvem que nasce vira poema, um besouro na areia, um andarilho, as moscas. O papel no chão. Enfim, o nada.
E o nada é matéria-prima deste livro, publicado em 1996 pela Editora Record.
Obra mais famosa do autor, "Livro Sobre Nada" conquistou o Prêmio Biblioteca Nacional no ano de 1997.
Trata-se de um livro de poesia e prosa. Mas pode ser poesia em forma de prosa. Ou mesmo um livro de fragmentos e aforismos. Ao que parece, defini-lo não é preocupação do autor.O que ele quer mesmo é fazer "coisas desúteis", versos sobre o não existir, poemas sobre miudezas, 
Segundo ele, a inspiração para esse livro veio de uma frase de Flaubert, em uma carta a uma amiga em 1852. Dizia este  que gostaria de fazer um livro sobre nada. 
“Ele queria o livro que não tem quase tema e se sustenta só pelo estilo. Mas o nada de meu livro é nada mesmo.”  
O leitor perguntaria como se traduz o nada, é tangível, palpável. Seria o  desimportante, o vazio, o não ser, o não estar? Manoel dá o mapa da mina. “É coisa nenhuma por escrito: um alarme para o silêncio, um abridor de amanhecer, pessoa apropriada para pedras, o parafuso de veludo.”
Dividido em quatro partes, "Arte de infantilizar formigas", "Desejar ser", "O livro sobre nada" e "Os Outros: o melhor de mim sou Eles", nesta obra tudo é matéria de poesia: a caduquice do vô, a inocência da irmã, o mascate que traz mercadoria pra vender na cidade, os andarilhos, um pintor boliviano.
Folheá-lo é encontrar preciosidades como “Meu avô ampliava a solidão.” "Com pedaços de mim eu monto um ser atônito" ou "Pensar que a gente cessa é íngreme - minha alegria fica sem voz". 
Tão pueril quanto grandiosa, a escrita de Barros faz com que cores tenham cheiro e palavras ganhem forma. Ele não inventa só sentidos, reinventa o existir, quando traduz em versos o raciocínio de um menino. "Em menino eu sonhava ter a perna mais curta (só pra poder andar torto)". Tudo em sua poesia remete a uma volta para trás, ele vê graça na inocência, no que não foi anda definido, corrompido. O que ele busca, segundo ele mesmo, é um criançamento da vida.
O que o leitor irá perceber ao folhear esta obra é que se  Manoel de Barros quis fazer um Livro Sobre Nada, cheio de desimportâncias, vazios, miudezas, coisas desúteis, no final o que ele acabou fazendo foi um livro cheio de tudo.

“Meu avô abastecia o abandono.”


"Nos fundos do quintal era muito riquíssimo o nosso dessaber".

"As palavras me escondem sem cuidado.

“Com pedaços de mim eu monto um ser atônito”

“No fim da tarde nossa mãe aparecia nos fundos do quintal. Meus filhos, o dia já envelheceu, entrem pra dentro.”

"O artista é um erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito".


Manoel de Barros, poeta e fazendeiro mato-grossense, nasceu em 1916 e teve seu primeiro livro publicado em 1937 - Poemas concebidos sem pecado.

Quando li: 1997
Como adquiri: presente do meu marido.

2 comentários:

  1. li e achei o livro um maximo pena que fala sobre nada neh rsrsrs

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  2. li e achei o livro um maximo pena que fala sobre nada neh rsrsrs

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