segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Livro 42: Achei que meu pai fosse Deus (Paul Austen)

Dizem que a vida imita a arte, porém, em certos casos, a arte pode imitar, se basear ou se abastecer de realidade. É o que acontece nessa singela coletânea de histórias reunidas por Paul Auster no livro "Achei que meu pai fosse Deus - e outras histórias verdadeiras da vida norte-americana".  
Trata-se de uma compilação de textos escritos por pessoas comuns, relatando "causos", fatos e memórias de suas próprias vidas - bem como de parentes ou conhecidos -  das mais variadas regiões dos Estados Unidos.  Convidado a fazer um programa mensal numa rede de emissoras de rádio, o escritor Paul Auster, por sugestão de sua esposa, pediu aos seus ouvintes que enviassem relatos a serem lidos no ar. A única obrigatoriedade era que fossem "histórias verdadeiras que parecessem ficção e que se recusam a obedecer as leis do senso comum". 
Logo foi  surpreendido por centenas, milhares de cartas enviadas de todos os cantos do país, por donas de casa, padres, empresários, fazendeiros, veteranos de guerra. Em um ano, recebeu mais de 4 mil relatos. "Tantas vozes de tantos lugares diferentes. Era como se fosse toda a população dos EUA invadindo minha casa."  E o que havia sido uma ideia de programa de rádio transformou-se em um livro, no qual ele seleciona algumas das melhores histórias enviadas.

Dividido em 10 categorias - Animais,Objetos, Famílias, Sonho, Morte, etc - o livro reúne relatos engraçados, comoventes, simplórios, fantasiosos, assustadores, contados por vozes reais, sem muito rebuscamento literário, a não ser por uma edição cuidadosa de Auster. Um a um, os personagens falam de suas vidas, ou de pessoas próximas, revelando um fato extraordinário, um momento incomum, como se estivessem sentados na varanda de suas casas. Assim, descobrimos como a aliança de ouro da mãe se tornou o primeiro par de calças que o jovem John Keith, da California, usou na vida. Divertimos-nos com a  história do nariz do pai de Tony Forwell, de Kentucky que praticamente controlava sua vida. E nos comovemos com a  amizade de 62 anos entre Beth Coff, de Nova York e Jean, que se encontraram apenas duas vezes na vida: a primeira, numa viagem de trem, quando trocaram endereços para  correspondência - e a segunda, seis décadas depois, já octogenárias, viúvas e realizadas. Podemos imaginar a cena hilária de Nancy Wilson, de Nova Jersey que, ao nadar nua num lago, perdeu as roupas e, literalmente, atravessou a porta de nylon de uma casa próxima, desabando diante do olhar atônito de seus moradores. Há também histórias intrigantes como a da avó de Martha Duncan, do Maine, que morreu sufocada num incêndio em sua casa. No armário do salão dos fundos, totalmente destruído pelo fogo, a única roupa intacta era o vestido branco que a velha senhora reservara, há anos, para ser usado em seu funeral. Impressionante? Talvez. Mas a vida pode ser bem mais interessante do que a arte. E pessoas comuns têm provas disso todos os dias. Com histórias simples, mágicas, humanas e despretensiosas, que oferecem momentos prazerosos e enriquecedores, "Achei que meu pai fosse Deus" (título que advém de um dos textos do livro) é uma leitura que vale a pena.

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