segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Livro 35: Amor é prosa, sexo é poesia. (Arnaldo Jabor)


Cineasta, cronista e crítico político, Arnaldo Jabor parece gostar de uma boa polêmica. Quando ele gosta, ama. Quando não gosta, é enfaticamente do contra. Mas no fundo, é apenas um homem sensível, romântico e nostálgico. É o que se pode perceber em  seu livro “Amor é prosa, sexo é poesia”, publicado pela Editora Objetiva em 2004. São 36 crônicas reunidas em 197 páginas, recheadas de ironia e bom humor, uma rabugice saudosista e um romantismo melancólico.
Como todo cronista que se preza,  Jabor escreve sobre o cotidiano e tudo que o cerca, detendo-se nos sentimentos e sensações, nas relações amorosas ou não, nos problemas corriqueiros do dia a dia e na eterna diferença entre homens e mulheres. Faz suas viagens ao passado, recorda a difícil relação com o pai, que era da aeronáutica “para ele uma gargalhada era uma bofetada”, as saudades da mãe “tão bonita quanto a Greta Garbo” e cuja vida foi “a tentativa de uma alegria” e as lembranças do avô, figura carinhosa e “um autêntico malandro carioca”. Também não deixa de expor suas críticas ao panorama político do país, demarcando sua posição  anti-PT. Mas sua paixão pelo ser humano e pelos mistérios da relação homem-mulher é mesmo a temática prevalente.
Em “Amor é prosa, sexo é poesia”,  o tema apresenta-se ainda mais forte, principalmente na crônica que dá origem ao título do livro, na qual  faz uma comparação entre o amor e o sexo, defendendo que, em sua opinião, embora se complementem, estes não são iguais. E por que seriam?
“O amor tem jardim, cerca, projeto. O sexo invade tudo. Sexo é contra a lei. O amor vem depois. O sexo vem antes. O amor sonha com grande redenção. O sexo só pensa em proibições. Amor é casa; sexo é invasão de domicílio. Amor é o sonho por um romântico latifúndio; o sexo é o MST. Amor é um texto. Sexo é esporte. O amor vem de dentro, o sexo vem de fora, o amor vem de nós e demora. O sexo vem dos outros e vai embora. Amor é bossa nova; sexo é carnaval”.
Como um discípulo de Nelson Rodrigues, Jabor escancara em suas crônicas, reflexoes sobre o ser humano, o homem, a mulher, o amor, a vida. Dos chatos à política externa de Hugo Chavez. Do carnaval do Rio de Janeiro à lembrança de seu avô. Das celebridades instantâneas ao bumbum da Juliana Paes. Do amor ao sexo. Sempre com perspicácia, bom-humor e uma leve pontinha de nostalgia.

“O amor não tem mais porto, não tem onde ancorar, não tem mais a família nuclear para se abrigar, não tem mais a utilidade do sacrifício pelo “outro”. O amor ficou pelas ruas, em busca de objeto, esfarrapado, sem rumo. Não temos mais músicas românticas, nem o lento perder-se dentro de “olhos de ressaca”, nem nas “pernas de fulana”, nem temos as bocas beijadas por amantes tutti tremanti, nem o formicida com guaraná”.  (O amor deixa muito a desejar)

“O chato não se sabe como tal, ou melhor, sabe sim, mas sempre tem a esperança de sair da categoria e ser aceito como não-chato. Por isso, chateia todo mundo. O chato é, antes de tudo, um carente. Ele vive do sangue dos outros, do ar dos outros, o chato precisa de você para viver.” (O chato é antes de tudo um forte)

“Meu avô nao foi ninguém. No entanto, que grande homem ele foi para mim. Era um malandro carioca e  em volta dele gravitavam o botequim, a gravata com alfinete de perola, o sapato bicolor.
só meu avo falava coms vagabundos da rua, com os botequineiros, com os mata-mosquitos”.
(Meu avô foi um belo retrato do malandro carioca )

Assim como faz essa bela  declaraçao de amor ao seu avô, embarca, irreverente, numa reflexão sobre as expectativas criadas a respeito do bumbum da Juliana Paes, clicada pela Playboy. Para dizer que, "no caso dela, o bumbum real destrói o bumbum imaginário.Vemos com clareza e realismo que é apenas um bumbum brasileiro, que um dia cairá como o PT”.

 Em “O mundo de hoje é travesti”, altamente rodrigueano, ele divaga sobre seu tema preferido: as mulheres: "O termômetro das mulheres é - estou sendo amada ou nao? Esse bocejo, seu rosto entediado...será que ele me ama ainda? A mulher não acredita no nosso amor. Quando tem certeza dele, para de nos amar.  A mulher precisa do homem impalpável; as mulheres tem uma queda pelo canalha.  O canalha é mais amado que o bonzinho”.

Em  “O amor dos anos 60”,  Jabor alardeia:  “Eu sou do tempo em que as namoradas nao davam". E revela seu ciúme -inveja dos garotos de hoje “esses pequenos canalhas torcem o nariz para deusas de 18 anos, entediados, enquanto no meu tempo, quantas meninas eu tentei empurrar para dentro de apartamentos emprestados, ficando elas empacadas na porta”.

Em “A Casa da minha mãe nunca ficou pronta”, ele se desmancha em dor: “Ando com vontade de ligar para minha mãe. Mas minha mãe já morreu”. “Como seria bom o telefone me salvar e alguém me chamar de 'meu filho'. Seria bom entrar pelos fios do passado e fugir das dores que sinto com o país, o mundo e comigo mesmo.”
“A vida de minha mãe foi a tentativa de uma alegria. Sorria muito, trêmula, insegura e nela eu vi a história de tantas mulheres de seu tempo, tentando uma felicidade sufocada pelas leis do casamento, pela loucura repressiva dos maridos.”
Em cada uma das 36 crônicas de “Amor é prosa, sexo é poesia” existe humor, amor e dor (que me perdoe o leitor pela rima pobre). Com um texto saboroso, que mexe com os sentidos, Jabor não é - nem tem a pretensão de ser – um gênio literário, mas é fácil entender por que seu texto é um dos campeões de divulgação nas redes sociais da internet. É que em todos eles existe um elemento inerente a todo ser humano: sentimento.


Quando li: 2009
Como adquiri: presente do meu irmão José Roberto.

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