Mariana Alcoforado nasceu em Beja, Portugal, em 1640 e entrou para o
Convento de Nossa Senhora da Conceição, da Ordem de Santa Clara aos 12 anos de
idade. Em 1663 teria conhecido o oficial francês Marquês De Chammily, que
servia em Portugal durante as Guerras da Restauração. Seduzida e abandonada por
ele, quando o jovem parte para seu país, ela começa a enviar cartas apaixonadas, falando de
seus sentimentos.
O livro Cartas Portuguesas foi publicado pela primeira vez em 1669, na França, tendo a
autoria anônima . Compõe-se de cinco cartas nas quais uma jovem que assina
Mariana declara-se ao amado.
Na primeira edição é assim que autor apresenta o livro:
"Consegui, à
custa de muitos trabalhos e dificuldades recuperar uma cópia correta da
tradução de cinco cartas portuguesas que foram escritas a um nobre e gentil
homem que servia em Portugal. Todos os que conhecem os sentimentos do coração
humano são unânimes ou em louvá-las ou em procura-las com tanto empenho que
julguei prestar-lhes um bom serviço imprimindo-as. Desconheço em absoluto o
nome daquele que as traduziu; mas pareceu-me que não cairia no seu desagrado
publicando-as. É difícil que não acabassem por aparecer com erros de impressão
que as teriam desfigurado.”
Por meio da correspondência, percebe-se que se trata de uma freira que, desconhecendo o mundo externo, envolve-se com um oficial e que o sentimento por ela expresso não é retribuído da mesma forma.
A leitura das cartas em sequência mostra uma transformação na autora, à medida em que vai tomando conhecimento da verdadeira situação.
Na primeira carta, mesmo chorosa, ela acredita no amor do oficial e tem esperanças de que ele volte. Supõe que não sofre sozinha e pensa que a distância causa a mesma dor no oficial.
" Eu não te posso
esquecer, e não esqueço também a esperança que me deste de vires passar algum
tempo comigo. Ai!, porque não queres passar a vida inteira ao pé de mim? Se
me fosse possível sair deste malfadado convento, não esperaria em Portugal pelo
cumprimento da tua promessa: iria eu, sem guardar nenhuma conveniência,
procurar-te, e seguir te, e amar-te em toda a parte".
Na segunda, ela começa a duvidar quanto ao amor do oficial e seu possível retorno. Demonstra o quanto sofre pela sua ausência.
"Nenhum alívio há para o meu mal, e se me lembro das minhas alegrias maior é ainda o meu desespero. Terá sido então inútil todo o meu desejo, e não voltarei a ver-te no meu quarto com o ardor e arrebatamento que me mostravas?
A terceira carta mostra sua desilusão e desespero quando se dá conta da realidade de que não é correspondida.
"Ai, como sou digna de piedade por não partilhar contigo as minhas mágoas, e ser só minha a desventura! Esta ideia mata-me, e morro de terror ao pensar que nunca te houvesses entregado completamente aos nossos prazeres".
O tom depressivo nas palavras aumenta, culminando na quarta carta na qual ela já não acredita mais no amor do oficial.
" Que querias dum desvario que não podia senão importunar-te? Se sabias que não ficavas em Portugal, porque me escolheste a mim para tornares tão desgraçada? "
A quinta e última carta mostra a total transformação sofrida pela jovem.Ela chegou ao limite da dor mas está determinada a finalmente esquecê-lo.
"Amei-o como uma louca, tudo desprezei! O seu procedimento não é de um homem de bem. É preciso que tivesse por mim uma aversão natural para me não ter amado apaixonadamente. Deixei-me fascinar por qualidades bem medíocres. Que fez para me agradar?"
Embora a Sóror Mariana Alcoforado tenha mesmo existido e tendo falecido em Beja, Portugal, em 1723, aos 83 anos de idade, a controvérsia sobre a autoria das cartas se estendeu por séculos, havendo dúvidas se elas tivessem sido escritas mesmo por uma mulher ou não passavam de um golpe de marketing. A investigação a respeito reuniu autores do porte de Rainer Maria Rilke Stendhal e Jean-Jackes Rousseau. Hoje aceita-se que a obra é de autoria de Gabriel de Guilleragues. Controvérsias à parte, as Cartas Portuguesas
permanecem ainda como obra de singular beleza, o retrato de uma época romântica e símbolo do amor total.
Cartas Portuguesas - Mariana Alcoforado
Editora L & PM
Nenhum comentário:
Postar um comentário