sábado, 16 de fevereiro de 2013

Livro 47: Cartas Portuguesas (Mariana Alcoforado)


Mariana Alcoforado nasceu em Beja, Portugal, em 1640 e entrou para o Convento de Nossa Senhora da Conceição, da Ordem de Santa Clara aos 12 anos de idade. Em 1663 teria conhecido o oficial francês Marquês De Chammily, que servia em Portugal durante as Guerras da Restauração. Seduzida e abandonada por ele, quando o jovem parte para seu país, ela começa a enviar cartas apaixonadas, falando de seus sentimentos. 
O livro Cartas Portuguesas  foi publicado pela primeira vez em 1669, na França, tendo a autoria anônima . Compõe-se de cinco cartas nas quais uma jovem que assina Mariana declara-se ao amado. 
Na primeira edição é assim que autor apresenta o livro: 
"Consegui, à custa de muitos trabalhos e dificuldades recuperar uma cópia correta da tradução de cinco cartas portuguesas que foram escritas a um nobre e gentil homem que servia em Portugal. Todos os que conhecem os sentimentos do coração humano são unânimes ou em louvá-las ou em procura-las com tanto empenho que julguei prestar-lhes um bom serviço imprimindo-as. Desconheço em absoluto o nome daquele que as traduziu; mas pareceu-me que não cairia no seu desagrado publicando-as. É difícil que não acabassem por aparecer com erros de impressão que as teriam desfigurado.”
Por meio da correspondência, percebe-se que se trata de uma freira que, desconhecendo o mundo externo, envolve-se com um oficial e que o sentimento por ela expresso não é retribuído da mesma forma. 
A leitura das cartas em sequência mostra uma transformação na autora, à medida em que vai tomando conhecimento da verdadeira situação.
Na primeira carta, mesmo chorosa, ela acredita no amor do oficial e tem esperanças de que ele volte. Supõe que não sofre sozinha  e pensa que a distância causa a mesma dor no oficial.

 " Eu não te posso esquecer, e não esqueço também a esperança que me deste de vires passar algum tempo comigo. Ai!, porque não queres passar a vida inteira ao pé de mim? Se me fosse possível sair deste malfadado convento, não esperaria em Portugal pelo cumprimento da tua promessa: iria eu, sem guardar nenhuma conveniência, procurar-te, e seguir te, e amar-te em toda a parte".

Na segunda, ela começa a duvidar quanto ao amor do oficial e seu possível retorno. Demonstra o quanto sofre pela sua ausência.
"Nenhum alívio há para o meu mal, e se me lembro das minhas alegrias maior é ainda o meu desespero. Terá sido então inútil todo o meu desejo, e não voltarei a ver-te no meu quarto com o ardor e arrebatamento que me mostravas? 
A terceira carta mostra sua desilusão e desespero quando se dá conta da realidade de que não é correspondida.
 "Ai, como sou digna de piedade por não partilhar contigo as minhas mágoas, e ser só minha a desventura! Esta ideia mata-me, e morro de terror ao pensar que nunca te houvesses entregado completamente aos nossos prazeres". 
O tom depressivo nas palavras aumenta, culminando na quarta carta na qual ela já não acredita mais no amor do oficial.
 " Que querias dum desvario que não podia senão importunar-te? Se sabias que não ficavas em Portugal, porque me escolheste a mim para tornares tão desgraçada? "
A quinta e última carta mostra a total transformação sofrida pela jovem.Ela chegou ao limite da dor mas está determinada a finalmente esquecê-lo.
"Amei-o como uma louca, tudo desprezei! O seu procedimento  não é de um homem de bem. É preciso que tivesse por mim uma aversão natural para me não ter amado  apaixonadamente. Deixei-me fascinar por qualidades bem medíocres. Que fez para me agradar?"
Embora a Sóror Mariana Alcoforado tenha mesmo existido e tendo falecido  em Beja, Portugal, em 1723, aos 83 anos de idade, a  controvérsia sobre a autoria das cartas se estendeu por séculos, havendo dúvidas se elas tivessem sido escritas mesmo por uma mulher ou não passavam de um golpe de marketing. A investigação a respeito reuniu autores do porte de Rainer Maria Rilke Stendhal e Jean-Jackes Rousseau. Hoje aceita-se que a obra é de autoria de Gabriel de Guilleragues.   Controvérsias à parte, as Cartas Portuguesas permanecem ainda como obra de singular beleza, o retrato de uma época romântica e  símbolo do amor total.

Cartas Portuguesas - Mariana Alcoforado 
Editora L & PM


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