sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Livro 39: Antologia Poética - Carlos Drummond de Andrade


Carlos Drummond de Andrade, mineiro de Itabira pode não ter sido um dos líderes do modernismo no Brasil, mas com sua obra abrilhantou o movimento e foi responsável por alguns dos melhores versos da moderna poesia brasileira.

O sinal verde dado pelo Modernismo abriu caminho para o verso livre, a métrica livre, a criação com mais liberdade e o rompimento com as amarras formais do academicismo. Nascia a poesia com preocupação social. Nesse modelo, Drummond foi um mestre.
Influenciado pelos poetas paulistas Oswald e Mário de Andrade, e por Manuel Bandeira publicou seu primeiro livro, Alguma Poesia, em 1930. E não mais parou de poetar.
Publicada pela primeira vez em 1962, pela Editora José Olympio, esta Antologia Poética oferece uma visão geral da criação de Drummond organizada por ele mesmo. A melancolia e a reflexão dão a tônica em 135 poemas, divididos em 9 seções (e um suplemento à 5a Edição). Separados em conjuntos, de acordo com o tema ou característica de cada um, a seleção dos poemas não obedece a ordem cronológica nem se baseia no  livro do qual foram extraídos. 
É provável que tenha usado como critério o que os versos provocam – tanto em quem os escreveu quanto quem os leu/lerá. O resultado é um apanhado bem uniforme e harmônico.

 “Algumas poesias caberiam talvez em outra seção que não a escolhida. Ou em mais de uma. A razão da escolha está na tônica da composição, ou no engano do autor. De qualquer modo é uma arrumação ou pretende ser”. CDA


No início do livro, no "Poema de Sete Faces", o poeta  faz uma análise melancólica de sua vida de gauche, vendo as casas, os homens, a tarde, o bonde passar. E se pergunta "Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus, se sabias que eu era fraco." 
Segue-se o Soneto da Perdida Esperança "Perdi o bonde e a esperança. Volto pálido para casa". Mais à frente ele divaga sobre a cidade em que vive, o Rio de Janeiro. Sente-se sozinho. "De dois milhões de habitantes! E nem precisava tanto... Precisava de um amigo, desses calados, distantes, que lêem verso de  Horácio mas secretamente influem na vida, no amor, na carne." 
É no poema José, que Drummond alcança magnitude, falando da desesperança de um anônimo no mundo: "E agora, José? Sua doce palavra seu instante de febre, sua gula e jejum, sua biblioteca, sua lavra de ouro, seu terno de vidro, sua incoerência, seu ódio - agora?"
Ora falando de si, ora falando de política, ora emitindo protestos, ora fazendo lamentos, nessas páginas encontramos uma mostra da perfeição da poesia de Carlos Drummond de Andrade. Pode-se dizer sem medo de errar que a alma do poeta está neste livro.

“Vamos, não chores
A infância está perdida.
A mocidade está perida,
Mas a vida não se perdeu.”
(Consolo na praia)


“Alguns anos vivi em Itabira
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.”
 (Confidência do Itabirano)


 “Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
Mas estou cheio de escravos,
Minhas lembranças escorrem
E o corpo transige
Na confluência do amor”
(Sentimento do mundo)


Eu preparo uma canção
Em que minha mãe se reconheça
Todas as mães se reconheçam
E que fale com dois olhos.”
(Canção Amiga)

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava
 Lili que não amava ninguém.”
(Quadrilha)

“Carlos, sossegue, o amor
É isso que você está vendo:
Hoje beija, amanhã não beija,
Depois de amanhã é domingo
E segunda-feira ninguém sabe
O que será.”
(Não se mate)

“A poesia é incomunicável.
Fique torto no seu canto.
Não ame.” (Segredo)


Nascido em Itabira,  MG, em 31 de outubro de 1902, estudou em Belo Horizonte e em Nova Friburgo, no Colégio Anchieta, de  onde foi expulso por "insubordinação mental". Começou a escrever paralelamente à atividade de colaborador do jornal Diário de Minas. Teve várias obras traduzidas para outras línguas, espanhol, inglês, francês, italiano, entre outras e foi, por décadas, o mais influente poeta da literatura brasileira.Carlos Drummond de Andrade faleceu no Rio de Janeiro no dia 17 de agosto de 1987, poucos dias após a morte de sua filha única e inseparável, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade. A poesia brasileira perdeu um de seus maiores nomes. 

Quando li: 1981

Como adquiri: enviado do Rio de Janeiro, por uma grande amiga de escola, Mercedes Bustamante. 


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