Jeanette Walls é uma bem-sucedida jornalista de uma revista de Nova York. Mas por trás desse presente de sucesso há um passado perturbador que ficou por décadas escondido até que ela resolveu abri-lo nas páginas de um romance autobiográfico. A partir daí, somos transportados a uma infância repleta de fantasias mas nem um pouco fabulosa, onde Jeanette e seus irmãos, Lori, Brian e a caçula Maureen passam por inacreditáveis peripécias para sobreviverem às loucuras e negligências de pais nada convencionais. Rex Walls era um intelectual brilhante mas escritor fracassado, que vivia quase sempre desempregado, por conta do alcoolismo e do vício no jogo. Rose Mary, uma artista lunática de personalidade bipolar, também não durava muito nos empregos de professora, pois preferia dedicar-se a pintar quadros que nunca vendia.

Falando assim, parece crueldade extrema, mas o tom carinhoso e bem-humorado com que ela nos relata sua infância ímpar, nos leva a (quase) nos simpatizarmos com essa estranha família. Episódios assustadores são tratados como "aventuras", como aquele em que o pai sai pelo deserto dirigindo quase desgovernado, fazendo com que a autora, ainda uma menina, seja lançada para fora do carro. Detalhe: ele leva algum tempo para perceber que a pequena não estava mais no veículo. Em outro momento, um marginal entra pela casa aberta à noite e tenta pôr as mãos em Jeanette, sendo perseguido pelo irmão Brian, enquanto os pais dormem pesadamente. Há ainda o trecho trágico e patético em que Rose Mary come chocolates escondida debaixo das cobertas enquanto as crianças não têm com que se alimentar.
Com tanta loucura e irresponsabilidade, os filhos tiveram que inventar meios de sobreviver, lutando contra a fome, o frio, o abandono. "Quando as outras garotas jogavam fora os sacos com os restos do almoço, eu ia catar na lata de lixo (...). Eu voltava para dentro do banheiro e dava uma conferida nas minhas descobertas deliciosas antes de comer".
Há salvação para isso? Entre traumas e dores, a autora prova que sim. De um jeito ou de outro, as crianças tornaram-se adultos bem-sucedidos (abra-se exceção para a caçula, Maureen, cuja história se entende melhor ao ler o livro). Exemplos de superação que confirmam a máxima popular de que "o que não mata, fortalece".
Mais do que sobreviver, o maior desafio de Jeanette Walls e de seus irmãos foi perdoar e amar seus pais, apesar de tudo. Chegar ao fim do livro traz uma espécie de alívio, é um autêntico final (quase) feliz para um conto de fadas aterrador. Como história real, é comovente e exemplar. Porém, como literatura, é apenas um livro mediano.
Jeanette Walls nasceu em 1960, na cidade de Phoenix, Arizona. Formou-se pela Universidade de Columbia e foi repórter da New York Magazine, Esquire, USA Today e MSNBC.com, onde trabalha atualmente.
Livro: O Castelo de Vidro.
Autor: Jeannette Walls
Editora: Nova Fronteira
Ano: 2007
Edição: 1
Número de páginas: 368
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