São 11 histórias reunidas em dois volumes, que já
haviam sido publicadas sob o título "A Menina do Narizinho
Arrebitado".
Lucia, a menina do Nariz Arrebitado vive no sítio com Dona Benta, “a mais feliz
das vovós”, com a espevitada Tia Nastácia, “negra de estimação que pegara
Narizinho em criança” e a inseparável boneca de pano Emília, confeccionada pela
cozinheira “com olhos de retrós preto e
sobrancelhas tão lá em cima que é ver uma bruxa”. Também das mãos de Tia
Nastácia nasceria, a partir de um sabugo de milho, o Visconde de Sabugosa, que,
dizem, ficou letrado e sábio porque dormia entre os livros da estante.
Tudo começa numa tarde ensolarada em que Narizinho, depois de dar comida
aos peixes no ribeirão atrás do pomar, acaba caindo no sono junto com a boneca.
Desperta com um peixinho vestido de gente na ponta do seu nariz. “Vestido de
gente, sim! Trazia casaco vermelho, cartolinha na cabeça e guarda-chuva na mão
— a maior das galantezas!” Era o Príncipe Escamado, que conversava com
Mestre Cascudo um besouro “de sobrecasaca preta, óculos e bengala”.
Depois da surpresa
inicial, a menina faz amizade com os dois e é convidada a visitar o Reino das
Águas Claras, quando tem início a primeira aventura do Pica Pau Amarelo.
Narizinho e Emília conhecem a costureira das fadas, Dona Aranha, o Major Agarra
e não Larga Mais e o Doutor Caramujo, cujas pílulas milagrosas curam tudo. Logo
a menina pede que ele cure a boneca, que “é muda, coitada”. As pílulas
funcionam e a boneca desembesta a falar, “abrindo sua torneirinha de
asneiras”.
- Estou com um
horrível gosto de sapo na boca!
A boneca, que não tem
papas na língua, passa a dar opinião sobre tudo e todos, tornando-se um dos
personagens mais queridos de Lobato. E, segundo historiadores, um alter ego do
autor.
O Príncipe quer
casar-se com Narizinho, que aceita o pedido e arranjam a cerimônia para daqui a
alguns dias, dando tempo de chegar ao sítio o primo Pedrinho, que vem da
cidade, passar férias com a avó. Seguem-se muitas aventuras, onde as crianças
se encontram personagens de outros contos, que interagem no cenário, como a
Dona Carochinha, o Gato Félix, a Branca de Neve, Cinderela, Aladim e outros,
num exercício inovador de intertextualidade. As peripécias da turminha do sitio acabam se estendendo por vários
livros, cada qual com um personagem ganhando vida e suas próprias histórias,
como As Memórias da Emília, O Poço do Visconde, As Caçadas de Pedrinho,
Histórias de Tia Nastácia e os Serões da Dona Benta. Cada história faz
com que o leitor conheça mais dos apaixonantes personagens do grande Monteiro
Lobato tornando-o um dos leitores infantis mais queridos no Brasil.
Analisando Narizinho
Reinações de
Narizinho foi, segundo o historiador Raimundo Campos Bandeira, “um contraponto
entre o arcaico e o moderno no Brasil da primeira metade do século XX.”
“Até surgir Narizinho, “a literatura infantil
praticamente não existia entre nós, havia tão-somente o conto de fundo
folclórico”, diz Edgar Cavalheiro em Monteiro Lobato - Vida e Obra”.
Mas qual seria a fórmula de sucesso desse livro, que legou a crianças de todas as idades, personagens inesquecíveis como a boneca Emília, o Visconde de Sabugosa e a
Tia Nastácia ?
Primeiramente, a construção de um faz de contas onde tudo é possível, do ponto de vista de uma criança. Aquilo em que Narizinho acredita – a boneca que fala, o sabugo letrado, o leitão que é marquês - torna-se verdade também para os adultos da história, a doce Dona Benta e a assustada Tia Nastácia; e, em contrapartida, para os leitores.
Em segundo lugar, a brasilidade da história, que se passa num sítio do interior, e explora as peculiaridades do folclore, as lendas e belezas naturais do nosso país. Uma história verdadeiramente tupiniquim.
Embora seja considerada até os dias de
hoje, uma dos melhores obras da literatura infantil nacional,
"Reinações de Narizinho" apresenta alguns problemas
em relação a gerações atuais, como a linguagem antiga, rebuscada para
nossos dias, e uma abordagem politicamente incorreta dada ao personagem negro,
Tia Nastácia.

Na TV - A primeira versão do Sítio para a televisão foi ao
ar em 1952 na extinta TV Tupi. Depois passou por mais duas emissoras até chegar
à TV Globo, em 1977 que ficou no ar até 1986 com novas temporadas, entre
2001 e 2007. Em 2010, aos 90 anos, A Menina do Narizinho Arrebitado foi
transformada na primeira versão interativa de uma obra literária brasileira
para iPad.
O autor

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