As memórias de Brás Cubas começam pelo fim, no dia da sua morte, daí
o inusitado e a originalidade do romance, narrado pelo autor protagonista. E se mortos não falam, este fala e muito. Traz vivas as memórias de sua infância de menino endiabrado acobertado pelo pai e acarinhado pela mãe, “senhora fraca de pouco cérebro e muito coração.” Traz vivos seus amores mal fadados, como a primeira paixão, Marcela, que durou "quinze meses e doze contos de réis". As tentativas em ascender, sem sucesso, na política e na publicação de um jornal. Mas acima de tudo traz vivo o romance com Virgília, que o deixara para casar-se com outro, voltando para seus braços pouco tempo depois.
o inusitado e a originalidade do romance, narrado pelo autor protagonista. E se mortos não falam, este fala e muito. Traz vivas as memórias de sua infância de menino endiabrado acobertado pelo pai e acarinhado pela mãe, “senhora fraca de pouco cérebro e muito coração.” Traz vivos seus amores mal fadados, como a primeira paixão, Marcela, que durou "quinze meses e doze contos de réis". As tentativas em ascender, sem sucesso, na política e na publicação de um jornal. Mas acima de tudo traz vivo o romance com Virgília, que o deixara para casar-se com outro, voltando para seus braços pouco tempo depois.
Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, publicado em 1881, Machado de Assis
já emprega como recurso narrativo a escrita concisa, a fina ironia e o diálogo
com o leitor, com o qual compartilha a confecção da obra, divagando, à medida
que a escreve, fazendo troça dos capítulos e do próprio personagem.
Quando as memórias começam, Brás Cubas conta 64 anos, solteiro e está
morrendo. Com bom-humor ele revela como chegou àquela situação levado por uma “ideia
fixa” de criar um emplastro: “a invenção de um medicamento sublime, um
emplastro anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica
humanidade”. No entanto, o que ele acaba
contraindo é uma pneumonia fatal.
Em seu leito de morte, Cubas recebe a visita de Virgília. "Quem diria? De dois grandes namorados, de duas
paixões sem freio, nada mais havia ali, vinte anos depois; havia apenas dois
corações murchos, devastados pela vida e saciados dela, não sei se em
igual dose, mas enfim saciados. Virgília tinha agora a beleza da velhice,
um ar austero e maternal."
Alternando recordações de sua vida com alucinações, ele narra sua vida. Nascido legítimo representante
da fina flor da elite brasileira do século XIX, Brás Cubas não é modelo de
virtude e nem o quer ser. Antes, desfila com honestidade passagens importantes
(ou não importantes ) de sua vida: na infância, quebrando a cabeça das escravas
e fazendo de cavalo o moleque Prudêncio; na juventude, envolvendo-se com amores estranhos, como o de Marcela,
espanhola de índole duvidosa e na fase adulta, quando vive um romance escondido
com Virgília, mesmo sendo ela casada.
O grande
objetivo de Brás Cubas, contudo, é a utópica celebridade. Tenta a carreira
política e depois funda um jornal com o ex-colega Quincas Borba, o filosofo
louco de Barbacena. Não alcança sucesso nem em um nem no outro, partindo para a
invenção do remédio que “curaria todos os males”, quando finalmente chega ao
óbito. Sem amor, sem filhos, sem fama nem glória,
resta a Brás Cubas buscar a sonhada imortalidade no relato de suas memórias
póstumas.
“Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou
pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha
morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me
levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um
autor defunto mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a
segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo".
“Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de

Uma das obras mais lidas e respeitadas de Machado de Assis, Memórias
Póstumas traz o autor em sua melhor forma. Um texto brilhante, irônico,
bem-humorado, repleto de citações filosóficas. Ao final do romance, não há como julgar ou
condenar o homem Brás Cubas, visto que o próprio protagonista o faz em
sua pós morte, revelando todos os segredos e desatinos, e confessando todos os
pecados, ao invés de se esconder sob uma falsa máscara de virtude. Numa obra com
tantas passagens primorosas e inesquecíveis, a última frase do livro sintetiza
a sinceridade e crueza deste rico personagem.
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