
O motivo? A temática política, questionadora em defesa dos menos
favorecidos.
Dividida em três partes, tendo como cenário a cidade alta de Salvador, nos anos 30, nota-se na obra uma grande preocupação social do autor, que ataca indiretamente o clero e as autoridades, através de um grupo de menores abandonados e arruaceiros, que fazem suas próprias leis e se autodenominam os Capitães da Areia.
Dividida em três partes, tendo como cenário a cidade alta de Salvador, nos anos 30, nota-se na obra uma grande preocupação social do autor, que ataca indiretamente o clero e as autoridades, através de um grupo de menores abandonados e arruaceiros, que fazem suas próprias leis e se autodenominam os Capitães da Areia.
Vivendo em num trapiche, espécie
de armazém abandonado no cais de Salvador, à margem da sociedade,
os meninos têm em comum a pobreza e a revolta contra o mundo que lhes é
hostil. Para sobreviver, eles roubam das classes privilegiadas e dividem o
produto do roubo entre os companheiros, ao melhor estilo Robin Hood.
Perseguidos pela polícia, o grupo reage de forma também agressiva. Na falta dos
pais e de qualquer autoridade, os Capitães de Areia fazem do armazém uma
espécie de lar e se tratam como uma família. As únicas pessoas externas ao
grupo com quem se relacionam são o Padre José Pedro e uma mãe-de-santo,
Don'Aninha.
Antes de contar a história, o autor apresenta uma série de pseudo
reportagens onde explica quem são os menores, sua personalidade, apelido e
papel no grupo.
O líder do grupo é Pedro Bala, um rapaz de 15 anos, com louros cabelos
longos e cicatriz no rosto. Mesmo sendo tão jovem quanto os outros, ele é uma
espécie de pai para os garoto. É ele quem planeja os roubos, e além de liderar,
tem a função de harmonizar as condutas.
Volta Seca é um mulato sertanejo, que tem ódio das autoridades e sonha
entrar para o Cangaço de Lampião. Professor, o único do grupo que sabe ler, é
quem traça as estratégias. Gato, o mais bonito da turma, tem um caso com a
prostituta Dalva, que lhe dá dinheiro. Sem Pernas, um garoto miúdo e coxo de
uma perna, finge ser um pobre órfão, para entrar nas casas e descobrir onde
ficam os objetos de valor. Boa Vida, mulato troncudo e feio, é o mais
malandro de todos, com talento especial para tocar violão.
Pirulito, magro e muito alto, com olhos fundos, é o único do grupo
com vocação religiosa. Já o João Grande, a quem Pedro Bala chama de “o negro
bom”, é forte e bronco, mas de bom coração. É o defensor dos meninos pequenos
do grupo. E finalmente Dora, a única menina do grupo, que assume o
referencial feminino da família: mãe ou irmã dos meninos. Ela acaba se
envolvendo amorosamente com Pedro Bala.
Na primeira parte, "Sob a lua, num velho trapiche abandonado"
o autor conta histórias sobre alguns dos principais Capitães da Areia.
Inicialmente, eles se envolvem com um carrossel mambembe recém-chegado na
cidade, exercendo sua meninice. Mas quando uma epidemia de varíola atinge a
cidade, matando um deles, o grupo volta imediatamente à triste realidade.
A segunda parte, "Noite da Grande Paz, da Grande Paz dos teus
olhos", traz o romance trágico de Dora e Pedro Bala. Quando ela se torna a
primeira "Capitã da Areia", os meninos, que têm o hábito de “derrubar
negrinhas” na orla, tentam agarrá-la a força, mas ela acaba se tornando uma mãe
e irmã de todos. Participando dos roubos junto com os garotos, numa ocasião em
que o grupo é pego pela polícia, Dora é levada para o Orfanato e Pedro
Bala para o Reformatório, onde são duramente castigados. Quando escapam, muito
enfraquecidos, se amam pela primeira vez na praia. Um episódio triste marca o
começo do fim para os principais membros do grupo.
A terceira parte, "Canção da Bahia, Canção da Liberdade",
mostra a desintegração dos líderes. Sem-Pernas se mata antes de ser capturado
pela polícia que odeia; Professor parte para o Rio de Janeiro para se tornar um
pintor de sucesso; Gato abandona sua amante Dalva e muda-se para Ilhéus,
tornando-se um malandro de verdade. Pirulito segue sua vocação e se torna
padre. Volta Seca vira cangaceiro do grupo de Lampião e mata mais de 60
soldados antes de ser capturado e condenado; João Grande torna-se marinheiro; e
Pedro Bala, após descobrir que era filho de um sindicalista morto numa greve,
se envolve na causa dos doqueiros. Depois que os Capitães da Areia os ajudam
numa greve, Pedro Bala abandona a liderança do grupo, tornando-se assim um
líder revolucionário comunista.
Publicada num período em que o Brasil vivia um momento conturbado,
quando se tomava consciência da luta de classes, na ascensão de Getúlio Vargas
ao poder, Capitães de Areia é uma obra que mistura poesia rústica com extratos
de uma realidade nua e crua. Considerado um livro revolucionário para a
época, ainda hoje, passadas sete décadas, continua atual.
"Sob a Lua, num velho trapiche abandonado, as crianças
dormem. Antigamente aqui era o mar. Nas grandes e negras pedras dos alicerces
do trapiche as ondas ora se rebentavam fragosas, ora vinham se bater
mansamente. A água passava por baixo da ponte sob a qual muitas crianças
repousam agora, iluminadas por uma réstia amarela de lua. "
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