terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Livro 8: Meu Companheiro. 40 anos ao lado de Luiz Carlos Prestes (Maria Prestes)

Quando o conheceu em 1952, ele já era o lendário Cavaleiro da Esperança, Secretário Geral do Partido Comunista no Brasil. Ela era apenas uma moça de vinte anos, filha de comunista e militante desde muito jovem. Foi indicada para cuidar do bem-estar e segurança de Prestes, num aparelho clandestino do bairro de Jabaquara, em São Paulo. Foram nove anos de absoluta clandestinidade, nas quais ele era Pedro, e ela passara a chamar-se Maria, e nos quais após intensa convivência, acabaram se tornando marido e mulher.
Quando Prestes, a quem ela chamava carinhosamente de Velho lhe propôs casamento, ela relutou: "Não posso aceitar, vão dizer que eu sou oportunista, que eu estou me aproveitando da sua pessoa, eu vou consultar o partido". Naquela época tínhamos essa disciplina. O Giocondo apareceu lá e e disse, "é um problema pessoal, quem resolve são vocês". Eu disse, "então tudo bem, eu vou viver com você, mas no dia em que não der certo você vai para um lado e eu para o outro".
Da união nasceram Antônio João, Rosa, Ermelinda, Luiz Carlos, Mariana, Zoia e Yuri. Maria já tinha Pedro e Paulo, do primeiro casamento, e Prestes já tinha Anita, filha dele com Olga Benário. O casamento só foi revelado publicamente muitos anos depois.
No livro "Meu Companheiro" Maria Prestes , cujo verdadeiro nome era Altamira, revela os detalhes de um período da história do  Brasil, não sem expor imagens singelas do cotidiano de Prestes como marido e pai.
"Para manter a fachada de uma vida familia normal, eu mantinha um relacionamento muito bom com toda a vizinhança. O dono do armazém mais próximo da nossa casa se afeiçoou a todos os meus meninos." Quando este envia para a casa de Maria um engradado de Coca Cola (à qual Prestes considerava um instrumento de ideologia do imperialismo), Maria não deixou que fosse consumida, mas ela mesma tomou um copo escondida. Quando contou isso ao Velho, este riu "Acho que é por sua rebeldia que gosto de você".

O livro é recheado de detalhes históricos vistos pelo prisma de uma família revolucionária. "Em agosto de 1954, Getúlio Vargas suicidou-se. Para o Velho esse gesto do então presidente sempre esteve ligado à incapacidade do ex-ditador do Estado Novo de enfrentar a humilhação de ser deposto."
Em 1961, quando da  renúncia de Jânio Quadros, ela registra:  

"Na noite de 28 de agosto a polícia invadiu nossa casa.O Velho já tinha se escondido com companheiros em Campo Grande. Minha filhinha Mariana ficou espantada.Com ela no colo enfrentei os policiais que sem nenhuma cerimonia foram para o escritório do Velho vasculhar os armários, estantes e mesas. (...)"

Ao longo de vários capítulos, Maria descreve e documenta com fotos, a luta ao lado de seu marido.  Os anos difíceis que viveu com Prestes no Governo João Goulart, o Golpe Militar de 1964. Os sacrifícios, a solidão, a esperança. O exílio de 1970 a 1979. A vida na União Soviética, as dececpções sobre a descoberta da realidade social e politica na pátria do socialismo. A volta ao Brasil com o processo de abertura política e a anistia. O rompimento com a cúpula nacional do partido, o isolamento de Prestes e sua morte, em 1992, que coloca um ponto final a uma vida inteira pautada por um ideal.
"Meu companheiro Luiz Carlos Prestes nunca foi governo. Ao longo de sua vida de 92 anos elaborou o mito do herói trágico do nosso século. Nunca abrindo mão de suas ideias, e fez igual aqueles que souberam levar adiante o sonho da irmandade espiritual da humanidade."

Para quem acredita no ideal comunista ou não, é um livro que põe um foco sobre personagens importantes de nossa história e mostra acontecimentos sob a ótica de quem os viveu e sentiu na própria pele.



Meu Companheiro
Maria Prestes ou Altamira Rodrigues Sobral
Editora Rocco
1992


Quando li: 2010
Como o adquiri: comprei num sebo. Gosto muito de aprender sobre a História do Brasil que nem sempre está nos livros da escola. Aprendi muito com esse livro, embora não seja exatamente fã do Comunismo.

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