sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Livro 18: Mensagem de uma mãe chinesa desconhecida (Xinram)

Imagine-se, fazendo uma visita a uma família camponesa na região pobre da China, no momento em que uma das mulheres está em trabalho de parto. Pouco depois do choro da criança, você ouve vozes abafadas de adultos, aborrecidos e desapontados. E logo mais, vislumbra, pela porta do cômodo, entreaberta, o pé do bebezinho movendo-se, fracamente, na borda de uma bacia de água suja.

Essa é uma das dramáticas experiências vividas e descritas pela escritora, jornalista e radialista chinesa, Xinram, no comovente livro “Mensagem de uma mãe chinesa desconhecida”, lançado recentemente pela Companhia das Letras. Trata-se de um apanhado de histórias verídicas recolhidas pela autora, conhecida por sua atuação em favor de causas femininas em seu país. Ela começou a colher esses relatos em 1989, quando apresentava o programa de rádio “Palavras na brisa noturna”, depois que uma ouvinte, que se autointitulava Waiter, escreveu contando sua história. Anos depois decidiu reunir em um livro depoimentos semelhantes de mães que, pressionadas pela política do filho único se viram obrigadas a abandonar suas menininhas.
Para ela, o motivo para que haja tantas crianças chinesas adotadas no mundo inteiro – em 2007, eram 120 mil – é um misto de ignorância sexual, explosão demográfica e a política do filho único.
Embora necessidade premente para controle populacional na China, o planejamento familiar, associado a uma cultura que acredita ser dever sagrado produzir um herdeiro homem, acabou gerando resultados catastróficos.
Dando voz a 10 entre milhares de mulheres que passaram pelo trauma de abrir mão de suas filhas, a autora busca fazer com que esses relatos possam chegar aos ouvidos das meninas chinesas adotadas no ocidente, como uma resposta à pergunta que deve obscurecer sua existência:
Por que a minha mãe chinesa não me quis?
Ao leitor, é bom que se alerte –são histórias comoventes, assustadoras e revoltantes. Impossível lê-las, sem um sentimento de angústia e indignação. Sem pausas para recuperar o fôlego ou deixar escapar uma lágrima ao pensar em tantas milhares de vidas desperdiçadas. Crianças abandonadas por seus pais em estações de metrôs, postos e orfanatos, entregues à própria sorte.
Eles queriam que eu deixasse minha filha num orfanato – e passaram três dias e duas noites fazendo a minha cabeça com um misto de ameças e persuasão Eu segurava meu bebê nos braços, chorava, me ajoelhava e implorava para que não me forçassem a abandoná-la.” 
Segundo Xinram, tanto quanto dar voz às mães que ficaram órfãs de suas próprias filhas, este livro busca preencher uma lacuna do coração das meninas adotadas.
Há um vazio que nunca pode ser preenchido, há uma dor sentida, biológica, pela família adotiva no Ocidente e pela filha, que vai passar o resto da sua vida num abraço duplo – porque a vida que ela vive é produto de uma grande alegria, mas também de uma grande tristeza.”


Mensagem de uma mãe chinesa desconhecida
Xinram
2011

Quando li: 2011
Como adquiri: meu irmão jornalista e editor no jornal A Gazeta pediu-me que fizesse uma resenha do livro, que foi publicada no Caderno Pensar de A Gazeta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário