Como em todas as obras do autor, esta se passa no Rio de Janeiro do século XIX e por meio dela ele descreve a sociedade escravocrata e patriarcal da época, abordando a ideologia senhorial, a família tradicional, os preconceitos de classe.
Supostamente, ela seria filha do Conselheiro Vale, um homem importante e rico, que mantivera um caso amoroso com Ângela, sua mãe.Em seu testamento, ele determina que a família receba “com desvelo e carinho” a menina, que se encontrava num colégio interno.
A notícia pega de surpresa a pequena família do falecido:
Dona Úrsula, solteira, de cinquenta e poucos anos que dirigia a casa desde o
falecimento da cunhada; e o filho deste, Estácio.
Enquanto Estácio acata a decisão com respeito - “Receberei essa irmã, como se
fora criada comigo.” - Dona Úrsula fica relutante: para ela, “o reconhecimento
de Helena era um ato de usurpação e um péssimo exemplo. A nova filha era, no
seu entender, uma intrusa”.
“— Doutor, disse D. Úrsula, depois de hesitar algum
tempo; que me aconselha que faça?
— Que a ame, se ela o merecer, e se puder.”
Porém sua principal característica era, segundo o
narrador, sua capacidade de “acomodar-se
às circunstâncias do momento e a toda casta de espíritos”, sendo “frívola com os frívolos, grave com os que o eram,
atenciosa e ouvida, sem entono nem vulgaridade.” Em outras palavras, era sedutora
e astuta, sabendo como envolver as pessoas a sua volta.
Na condução da trama, sabe-se que Helena possui um
segredo, que não é inteiramente revelado, levando o leitor a sofrer com ela, quando
se apaixona por Estácio. Ambos vivem um dilema por motivos diferentes. Ele
a ama, mas se vê impossibilitado pela sua condição de irmão. Ela corresponde,
mas sofre por saber que a verdade de sua vida pode afastá-la de Estácio para
sempre. Para evitar consequências, Helena o induz a assumir o romance
com Eugênia, filha do Dr Camargo, médico e amigo da família e arruma para si
mesma um pretendente.
O destino, porém, não lhe será favorável. Perseguida por Camargo, que descobre seu segredo, em uma de suas visitas
ao misterioso Salvador, Helena é seguida por Estácio que acaba descobrindo a
verdade. A história de sua vida vem à tona, revelando-se também ela uma vítima
dos desacertos da mãe e do Conselheiro que a afastaram do verdadeiro pai. Quando sua mãe morre, Salvador reaparece e pede que ela sustente a decisão
do Conselheiro para ter um futuro melhor. Helena fizera a vontade dos “dois pais” e agora teria que
arcar com as consequências.
Drama, adultério, incesto, amor impossível, mentiras na medida certa encontram-se nesse livro,
que, não sendo o mais aclamado de Machado, não deixa de ser uma grande obra. Uma
trama narrada como sempre, com maestria pelo genial bruxo do Cosme Velho.
Como disse Helena a Estácio nas páginas finais do livro:
“Há criaturas tão malfadadas que aqueles mesmos que as desejam fazer venturosas não
alcançam mais do que preparar-lhes o infortúnio. Tal foi meu destino. Seu pai
e minha mãe não tiveram outro pensamento; meu próprio pai foi levado do
mesmo impulso, quando me obrigou a ser cúmplice de uma generosa mentira.”
Helena não tinha saída, como entenderá o leitor no fim da história.
Helena
Machado de Asis
Quando conheci: em 1975 a Globo veiculou a novela Helena no horário das 18h.
Somente li o livro muitos anos depois, em 2008.
Quando conheci: em 1975 a Globo veiculou a novela Helena no horário das 18h.
Somente li o livro muitos anos depois, em 2008.
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