sábado, 19 de janeiro de 2013

Livro 19: Um livro por dia (Jeremy Mercer)




Quem de nós, aficionados por livros nunca se imaginou, ainda que de forma utópica, morando em uma livraria, podendo repousar em meio a diálogos imaginários com Faulkner, Hemingway ou Fitzgerald?

Fantasias à parte, foi exatamente o que o jornalista canadense Jeremy Mercer fez quando, após uma insólita perseguição em seu país, acabou indo parar, de mala e cuia e quase sem dinheiro, nas portas da famosa livraria Shakespeare & Company, em Paris.
Era janeiro de 2000, na virada do segundo milênio quando o acaso o colocou frente a frente com o proprietário, George Whitman, um norte-americano excêntrico e sonhador, na época quase octogenário. A aventura foi transformada em livro publicado pela Casa da Palavra.
Em "Um livro por dia – Minha temporada parisiense na Shakespeare & Company" Jeremy Mercer conta como se tornou um dos milhares de escritores e aspirantes acolhidos por George naquela que este mesmo definia como "uma utopia socialista em forma de livraria". A pitoresca Shakespeare & Company foi inspirada na livraria homônima, de propriedade de Sylvia Beach, famosa por ter sido ponto de encontro dos escritores da "geração perdida". Sylvia encerrou suas atividades em 1941, sob pressão do nazismo e 10 anos depois, num prédio do século XVIII, George inaugurou seu próprio empreendimento. O local, que atrai turistas e amantes da literatura do mundo inteiro, ainda hoje serve de abrigo temporário para "almas perdidas e escritores necessitados", que contam com um local para dormir e refeições frugais, desde que cumpram uma inusitada missão: estando sob o teto de George, devem ali escrever uma obra e - sabe-se lá como -ler um livro por dia.

Com habilidade jornalística, Mercer nos conduz pelo labirinto de cômodos em três andares abarrotados de livros no idioma inglês. "Havia livros por toda parte. Eles pendiam de estantes da madeira, escorregavam de caixas de papelão, equilibravam-se em pilhas altas sobre mesas e cadeiras."
Durante a estadia de quatro meses, o autor convive com todo tipo de intelectual, incluindo aí o próprio George, um romântico de ideias comunistas que comandava de forma caótica o dia a dia da livraria. Torna-se amigo de Kurt, um jovem norte-americano que, sem conseguir vender seu primeiro roteiro de filme, tenta agora transformá-lo em romance. E partilha de momentos impagáveis com Simon, um enigmático poeta inglês, ex-alcoólatra e usuário de haxixe que se recusa a deixar o local, mesmo após cinco anos de hospedagem.
A aventura na Shakespeare & Company no ano em que completa 29 anos torna-se um rito de passagem para o jornalista, que lá enfrentará situações inusitadas, em condições adversas, podendo, em contrapartida, viver num ambiente altamente inspirador.
Sobrevivendo às excentricidades de George e seus estranhos hóspedes, Jeremy Mercer descobre na temporada uma experiência altamente enriquecedora. Ao fim de alguns meses, tendo alugado seu próprio apartamento, ele encontra um jeito de retribuir a hospitalidade do amigo, usando para isso seu talento no jornalismo investigativo.
"Um livro por dia" sugere ser, à primeira vista, uma obra sobre o amor aos livros. Também pode parecer - e é - a história da Shakespeare & Company e de seu fundador, o intrigante George Whitman. Mas no fim, acaba se revelando um livro sobre encontros e o que eles podem provocar na vida de uma pessoa.


Um livro por dia
2011
Casa da Palavra


Quando li: 2011
Como adquiri: emprestado pelo meu irmão jornalista para que fizesse uma resenha no Caderno Pensar do jornal A Gazeta de Vitória-ES.

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