terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Livro 1: Helena, Machado de Assis

Publicado inicialmente em folhetim, em 1876, Helena, de Machado de Assis antecipa um mote que ganharia força em diversos gêneros, inclusive em cinema e TV: o amor entre irmãos. A obra é um diferencial da primeira fase do autor, pois ao invés de carregar num tom romântico e melancólico, opta pelo trágico e pelo mistério. Da mesma forma, ao contrário de uma protagonista doce e ingênua, temos como personagem uma moça enérgica e sagaz.
Como em todas as obras do autor, esta se passa no Rio de Janeiro do século XIX e por meio dela ele descreve a sociedade escravocrata e patriarcal da época, abordando a ideologia senhorial, a família tradicional, os preconceitos de classe.
A riqueza de descrição dos personagens e cenários prende a atenção do leitor, fazendo com que visualize cada cena e se envolva na história, que gira em torno  Helena, uma órfã de poucas posses, que recebe a notícia de que foi agraciada com uma herança.
Supostamente, ela seria filha do Conselheiro Vale, um homem importante e rico, que mantivera um caso amoroso com Ângela, sua mãe.Em seu testamento, ele determina que a família receba “com desvelo e carinho” a menina, que se encontrava num colégio interno.

  
A notícia pega de surpresa a pequena família do falecido: Dona Úrsula, solteira, de cinquenta e poucos anos que dirigia a casa desde o falecimento da cunhada; e o filho deste, Estácio.
Enquanto Estácio acata a decisão  com respeito - “Receberei essa irmã, como se fora criada comigo.” - Dona Úrsula fica relutante: para ela, “o reconhecimento de Helena era um ato de usurpação e um péssimo exemplo. A nova filha era, no seu entender, uma intrusa”.

“— Doutor, disse D. Úrsula, depois de hesitar algum tempo; que me aconselha que faça?
— Que a ame, se ela o merecer, e se puder.”
 Dócil, afável, inteligente, Helena falava idiomas, entendia de costuras e bordados e lia admiravelmente. Qualidades que não passaram despercebidas e acabaram encantando Dona Úrsula, que se deixa conquistar pela menina.  
Porém sua principal característica era, segundo o narrador,  sua capacidade de “acomodar-se às circunstâncias do momento e a toda casta de espíritos”, sendo “frívola com os frívolos, grave com os que o eram, atenciosa e ouvida, sem entono nem vulgaridade.” Em outras palavras, era sedutora e astuta, sabendo como envolver as pessoas a sua volta.
Na condução da trama, sabe-se que Helena possui um segredo, que não é inteiramente revelado, levando o leitor a sofrer com ela, quando se apaixona por Estácio. Ambos vivem um dilema por motivos diferentes. Ele a ama, mas se vê impossibilitado pela sua condição de irmão. Ela corresponde, mas sofre por saber que a verdade de sua vida pode afastá-la de Estácio para sempre. Para evitar consequências, Helena o induz a assumir o  romance com Eugênia, filha do Dr Camargo, médico e amigo da família e arruma para si mesma um pretendente.

O destino, porém,  não lhe será favorável. Perseguida por Camargo, que descobre seu segredo,   em uma de suas visitas ao misterioso Salvador, Helena  é seguida por Estácio que acaba descobrindo a verdade. A história de sua vida vem à tona, revelando-se também ela uma vítima dos desacertos da mãe e do Conselheiro que a afastaram do verdadeiro pai.  Quando sua mãe morre, Salvador reaparece e pede que ela sustente a decisão do Conselheiro para ter um futuro melhor. Helena fizera a vontade dos “dois pais” e agora teria que arcar com as consequências.
Drama, adultério, incesto, amor impossível, mentiras na medida certa encontram-se nesse livro, 
que, não sendo o mais aclamado de Machado, não deixa de ser uma grande obra. Uma trama narrada como sempre, com maestria pelo genial bruxo do Cosme Velho.

Como disse Helena a Estácio nas páginas finais do livro:
“Há criaturas tão malfadadas que aqueles mesmos que as desejam fazer venturosas não alcançam mais do que preparar-lhes o infortúnio. Tal foi meu destino. Seu pai e minha mãe não tiveram outro pensamento; meu próprio pai foi levado do mesmo impulso, quando me obrigou a ser cúmplice de uma generosa mentira.”
Helena não tinha saída, como entenderá o leitor no fim da história.


Helena
Machado de Asis

Quando conheci: em 1975 a Globo veiculou a novela Helena no horário das 18h. 

Somente li o livro muitos anos depois, em 2008. 

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