terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Livro 29: Aprendi com meu pai (Luís Colombini)



Em qual episódio da sua vida você recebeu a maior, a mais marcante lição de seu pai? A partir dessa pergunta, 55 personalidades – entre jornalistas, publicitários, executivos, cineastas e esportistas deram seus depoimentos francos, tocantes, emocionados ou bem-humorados, revelando  momentos vividos, conselhos recebidos e exemplos aprendidos a partir da convivência com seu pai. Ou, em alguns casos,  com uma figura representativa da figura paterna.
O resultado está reunido no livro “Aprendi com meu pai”, idealizado e editado pelo jornalista e editor Luís Colombini, publicado pela editora Versar. “Mais do que fatos, este é um livro de versões. Mais do que rigor ou precisão, o importante aqui são as lembranças. Cenas nas quais o filho se recorda do pai. É um livro de percepções que resgata palavras, gestos e atitudes de um pai, ou de episódios que marcaram a infância de um filho ou filha”.
Em 249 páginas podemos acompanhar histórias contadas por pessoas tão díspares quanto o cineasta Fabio Barreto, o chef Alex Atalaia e a atriz Lígia Cortez, cada qual com uma experiência emocionante para contar. Os exemplos são inúmeros. Um pai ausente. Um irmão que virou pai. Um pai que nunca sorria. Todos, a seu modo, deixaram marcas indeléveis na vida de seus filhos.
Para o jornalista e cineasta Arnaldo Jabor, seu pai, oficial da aeronáutica, sempre foi “um mistério”. “Não nos comunicamos bem, inibidos um com o outro. Meu pai era o perigo dos castigos, o Supremo Tribunal que julgava meus erros.” Quando o pai estava no hospital, precisando de transfusão de sangue, houve ali um inusitado assassinato, e Jabor sentiu vontade de abraçar aquele senhor de cabelos brancos. Nunca mais houve um silêncio entre eles.
O pai de Ronny Hein se chamava Sven em homenagem a um poeta escandinavo (Sven Hedin). Por sofrer de um mal na coluna, a lembrança mais marcante que deixou em seu filho  foi sua atitude diante da dor. “Ele já era doente antes de eu nascer. A dor não cedia. Mas ele era forte e bonito e trabalhava. Estava sempre sorrindo.” Certa vez, chegando do hospital, magro e fraco, carregado numa espécie de liteira, ao ver o filho, logo se pôs altivo: - Chegou o Imperador. "Com meu pai aprendi que da dor nascem as melhores poesias. E acabam também”.
Em outro trecho do livro, Francisco Britto considera que “melhor ou pior se confundem, quando se tem de assimilar as lições de um pai sem a presença dele.” Trata-se do depoimento de um menino criado praticamente sem pai: “Até os 20 anos, meu pai foi totalmente ausente. Sua existência só se manifestava no papel, quando eu tinha de preencher o item paternidade em fichas e cadastros”. Para suprir a ausência paterna, escolheu três figuras masculinas às quais recorreria nos momentos mais difíceis – um tio, o avô e um amigo. “E com base nesse trio, levei minha vida”.
Já para Manoel Horacio “os pais podem falar o que quiserem para os filhos, mas mais do que palavras, a grande lição que fica está no que os pais fazem – e como fazem. Jamais no que dizem que fizeram, fazem ou vão fazer.”E emenda: “Para mim, a grande historia que tenho a contar do meu pai é a história da vida que ele levou.” Jardineiro, ele acordava todos os dias, às cinco e meia da manhã, para cuidar dos jardins das casas na Vila Mariana, onde a família morava.
O ator Paulo Autran lembra que seu pai, ex-delegado e ex-advogado incorruptível, quando morreu, aos 69 anos, nem precisou fazer inventário. “Não deixou nada, não tinha nada. Isso diz tudo sobre sua honestidade, um dos patrimônios morais que ele legou para mim, meu irmão e duas irmãs”.
Nas lembranças de Nuno Cobra está a primeira viagem que fez com seu pai num caminhão Chevrolet 43, em 1947. Passaram por lugares inóspitos, estradas esburacadas, enquanto seu pai contava causos. No fim da viagem, o pai disse: “A vida fica mais gostosa quando não se tem mais vida, como a estrada.” Em 2001, Nuno Cobra lançou o livro “A Semente da Vitória” onde expõe sua visão da vida. E conclui: “Muito dele se deve a Manuel Gonçalves Ribeiro Junior, meu pai.”
Seja ao acaso, nas páginas desse livro, ou no dia a dia de gente famosa ou comum, sempre haverá um ensinamento deixado por um pai, capaz de transformar seu filho ou filha numa pessoa mais forte, mais corajosa e melhor.

Aprendi com meu pai
Luís Colombini
Editora Versar

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