
Mas um dos capítulos mais comentados da história de sua
curta vida é o que narra seu caso amoroso com Domitila de Castro, a Marquesa de
Santos.
Um dos mais conturbados triângulos amorosos de que se tem
notícia em terras tupiniquins ganha novas luzes com o livro Titília e o Demonão
– Cartas Inéditas de D. Pedro I à Marquesa de Santos, escrito por Paulo Rezzuti
e publicado pela Geração Editorial. Nele o autor acrescenta aos já conhecidos
relatos do tórrido affair, mais 94 cartas íntimas do Imperador destinadas à sua
mais famosa amante. Descobertas pelo pesquisador em um museu dos Estados
Unidos, essas missivas apimentam ainda mais as histórias sobre a avassaladora
paixão que balançou as estruturas da Corte no Brasil e fez história dentro da
História do país.
Transcritas e corrigidas levemente em sua grafia e pontuação, de forma a
facilitar a compreensão, as cartas não são datadas, mas foram dispostas de
acordo com os fatos cronológicos, graças a uma cuidadosa pesquisa do autor. Por
meio delas, descobrimos não apenas o amante, por vezes apaixonado e suplicante,
mas também um pai desvelado dos filhos que teve, tanto com a esposa - a
Imperatriz Leopoldina, quanto com Domitila. Há nas mensagens, pinceladas sobre
acontecimentos da época, citações sobre personagens importantes da cena
imperial, bem como a exposição de preocupações do Imperador com os rumos
daquela que ele chama de “nossa Pátria”.
Em certas cartas e bilhetes contidos no livro, nada sugere que seu
portador seja tão célebre figura, mas sim, um homem comum, preocupado com a
saúde da amada e dos filhos: “Desejo, pelo muito que me interesso pela
sua saúde, (que) me mande dizer como passou do seu incômodo da cabeça, e
juntamente como passou nossa Belinha, que de mecê será inseparável até ter idade
de aprender, e mecê querer.” (Carta 9)
“Manda-me dizer como passaste o resto da noite e se não te fez mal o
frio do chão nos pés.” (Carta 57)
Em outras, busca acalmar os ânimos da amante ciumenta: “Se o
amor que temos um ao outro é verdadeiro, devemos perdoar suspeitas mal fundadas
ou, por outra, ciúmes vagos sem fundamento” (Carta 38)
Em algumas missivas, assinadas como “O Demonão”, “O Imperador” ou mesmo
“O anônimo”, Dom Pedro elabora artimanhas para que possam se encontrar, o que
se mostra irrelevante, já que o caso, que durou sete anos, nunca foi mantido em
segredo, a ponto de o Imperador ter trazido Domitila (e vários membros de sua
família) para morar na Corte e tê-la nomeado dama de companhia da Imperatriz: “Manda,
filha, fazer a porta, e até ela ficar pronta irei entrando pelo portão de
costume, por onde hei de visitar hoje às dez horas querendo tu, o que espero,
pois não quererás dar cabo deste teu filho com mais essa provação de me proibir
lá ir” (Carta 66).
“Até à noite, que conversaremos, e nos apalparemos por dentro e por
fora” (Carta 23).
Embora de conteúdo quase sempre romântico, não faltam nas mensagens citações
à Pátria que Dom Pedro escolheu como sua: “Sonhei alguns sonhos que me
mortificaram, todos relativos a nossa Pátria, à qual desejamos sumas venturas”.
As 94 cartas de Pedro para Domitila, além de outras escritas por esta
para o amante expõem também detalhes prosaicos como troca de presentes, frutas
e flores. Relatos sobre a saúde de um ou de outro ou briguinhas comuns de um
casal incomum.
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O Imperador |
Ao contrário do que se possa imaginar, “Titila e o Demonão” não serve de
material para quem deseja apenas bisbilhotar detalhes picantes sobre um casal
de celebridades (tão em voga neste início de século). Mas é enriquecido de
informações relevantes, apresentadas pelo autor no texto introdutório e em
notas ao pé da página, que elucidam fatos e nomeiam personagens citados nas
missivas, para que possamos entender melhor seu conteúdo.
O Imperador teve com Domitila cinco
filhos, dos quais apenas duas meninas sobreviveram. A primeira,
Belinha foi criada na Europa e agraciada com o título de Duquesa de Goiás. A outra menina, Maria Isabel II, nasceu em São Paulo
em 1830, quando já estavam separados. O Imperador e Domitila também
tiveram um filho chamado Pedro, que nasceu poucos dias após o oficial, Pedro
II. O menino faleceu antes de completar um ano de idade.
Após a morte da Imperatriz Leopoldina, Dom Pedro solicitou que
encontrassem para ele uma esposa na corte europeia. E para conter os
comentários sobre sua fama de conquistador, achou por bem afastar Titília da
Corte no Brasil. Ordem acatada por esta, muito a contragosto.
Em maio de 1829, o Imperador despediu-se de Titilia:
“Eu te amo; mas mais amo a minha reputação agora também estabelecida na
Europa inteira pelo procedimento regular. [...] Tu não hás de querer a minha
ruína nem a ruína de teu e meu País e, assim, visto isto além das mais razões
me faz novamente protestar-te o meu amor; mas ao mesmo tempo dizer-te que não
posso lá ir”.

Em carta ela despede-se do ilustre amante:
“Eu parto esta madrugada e seja-me permitido ainda
esta vez beijar as mãos de V. Majestade por meio desta, já que os meus
infortúnios, e a minha má estrela, me roubaram o prazer de fazer pessoalmente.
Pedirei constantemente ao céu que prospere e faça venturoso ao meu Imperador
enquanto a Marquesa de Santos, Senhor, pede por último a V. M. que, esquecendo
como ela tantos desgostos, se lembre só mesmo, a despeito das intrigas, que ela
em qualquer parte que esteja saberá conservar dignamente o lugar a que V. M. a
elevou assim como ela só se lembrará do muito que deve a V. M. Que Deus vigie e
proteja como todos precisamos.”
(Marquesa de Santos)
(Marquesa de Santos)
Pedro faleceu aos 36 anos em 1834. Domitila sobreviveu a ele em 33 anos. Foi sepultada em 1865, em São Paulo, no Cemitério da Consolação, cujas terras ela doara à cidade. E o affair entre ela e o Imperador foi imortalizado como o mais famoso romance da história do nosso País.Dom Pedro I casou-se com a duquesa austríaca Amélia de Beauharnais, duquesa de Leuchtenberg, pertencente aos Habsburgos, uma das dinastias mais importantes da Europa. Com o tempo, o caso com Domitila esfriou e pouco depois ela se casou com o brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, com quem teve mais quatro filhos.
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